AAAI_2_1_miolo_cor.indd

12 Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 2. N° 1, 2018 As DC também ativam células Treg, resultando no desenvolvimento de tolerância oral 24,25 . As célulasTreg são linfócitos que controlam ou suprimem a função de outras células, e podem ser naturais ou induzidos perifericamente, em especial no TGI. Várias células Treg CD4+ foram identificadas (Treg CD4 + CD25 hi ;Tr1; Th3) e são reconhecidas por sua ação supressora sobre outros tipos de linfócitos, seja pela produção de TGF-ß e IL-10, principais inibidores da resposta Th2 ou pela presença de moléculas inibitórias como CTLA4 ( cytotoxic T lymphocyte antigen-4 ). O TGF-ß é o principal indutor da produção de IgA na mucosa pelos linfócitos B 24,25 . Os linfócitos intraepiteliais (IEL) são linfócitos T que apresentam a função de manter e proteger a barreira mucosa, além de regular e manter a home- ostase intestinal. A presença de numerosas células linfoides inatas (ILC) também tem sido implicada no mecanismo imunológico de regulação intestinal. Essas células funcionam como os linfócitos T CD4 + dos diferentes tipos Th-1, Th-2 ou Th-17 na dependência de serem ILC grupo 1, 2 ou 3, respectivamente, e produzirem as mesmas IL de cada um dos tipos de linfócitos T 24 . A produção da IgA secretora pelos linfócitos B, induzidos pela presença de TGF-ß, representa um dos principais mecanismos de defesa do TGI, referido como exclusão imunológica e com ação sinérgica com outros mecanismos imunológicos. A IgA secretora incorporada ao muco também representa a primeira linha de defesa da barreira mucosa 26,27 , e tem a capacidade de inibir a adesão bacteriana às células epiteliais, neutralizar vírus e toxinas bacterianas, e prevenir a penetração de antígenos alimentares na barreira epitelial. A lâmina própria do intestino é o maior local de produção de anticorpos do organismo, onde se en- contram cerca de 80% de células B ativadas. Embora a IgA seja encontrada no sangue como um monô- mero, a IgA secretora é formada por duas moléculas ligadas por um peptídeo chamado de “cadeia J”. A IgA secretora, derivada de células B presentes na lâmina própria, é transportada através das células do intestino com a ajuda do componente secretor presente na superfície basal das células epiteliais, que se incorpora ao dímero IgA e favorece a sua resistência à digestão 26,27 . A falta de IgA secretora pode ser compensada pela presença de IgM secretora e outros mecanismos imu- nológicos inatos e adquiridos, o que explica porque grande parcela de pacientes com deficiência de IgA não apresenta infecções/parasitoses recorrentes no TGI. Por outro lado, a importância da IgA secretora na mucosa é demonstrada em pacientes com deficiên- cia de IgA, onde a prevalência de hipersensibilidade a alimentos e aeroalérgenos é mais referida por familiares 27 . Sugere-se que o sistema imunológico imaturo dos neonatos e lactentes jovens favoreça a sensibilização alérgica. Nesta fase da vida, a barreira intestinal é ima- tura e mais permeável, tornando o epitélio mais susce- tível à penetração dos diferentes antígenos, portanto, mais vulnerável à sensibilização alérgica 18,19 . Além disso, nesta fase da vida há produção diminuída de anticorpos IgA secretores, o que favorece a penetra- ção de alérgenos e consequentemente a ocorrência de alergias. A evolução simultânea da imunidade do ser humano com sua microflora estabeleceu inte- rações regulatórias essenciais para a manutenção da saúde, e uma quebra ou alteração da microbiota pode acarretar no aumento das doenças alérgicas e autoimunes 28 . Outro aspecto fundamental de defesa é represen- tado pelo aleitamento materno nos lactentes jovens, pela similaridade antigênica da espécie e pelos fa- tores protetores carreados, sejam imunológicos ou não-imunológicos, que contribuem para a manutenção de uma microbiota adequada neste período precoce da vida 29 . A microbiota comensal também auxilia no desen- volvimento dos tecidos linfoides secundários, como as PP e os folículos linfoides isolados, mantendo a homeostasia hospedeiro-microbiota e evitando doen- ças inflamatórias em longo prazo 28 . Microbiota e saúde O trato digestório do ser humano hospeda trilhões de micro-organismos, sendo a grande maioria no intestino (10 14 ), onde estão presentes aproximada- mente 4.000 diferentes cepas, que respondem pela microbiota intestinal propriamente dita. A diversidade desta microbiota resulta de um processo de coevolu- ção das comunidades bacterianas e do hospedeiro ao longo do tempo, onde ambas as partes se beneficiam, determinando uma situação mutual de convivência (mutualismo) 29,30 . Nos últimos anos vêm sendo identificadas bacté- rias na unidade feto-placentária, líquido amniótico e mecônio, contrapondo-se à clássica teoria de que o fe- to, incluindo o tubo digestivo e anexos, eram estéreis. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 1 – Solé D et al.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQwMTAx