AAAI_2_1_miolo_cor.indd
50 Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 2. N° 1, 2018 teriores desencadeadas pelo mesmo alimento, deve orientar a interrupção imediata da ingestão ou do contato com o alimento envolvido. O tratamento deve estar voltado para o alívio dos sintomas desencadea- dos. Os casos mais graves ou com história prévia de anafilaxia deverão ser mantidos em observação con- tínua, até o alívio dos sintomas, ou mesmo deverão ser hospitalizados. Nesta fase, é importante que se identifique o paciente que está evoluindo para reação mais grave: edema de glote e/ou choque anafilático, e se observem os critérios de definição para anafilaxia para o imediato uso de epinefrina intramuscular 74 . Na presença de quadro cutâneo isolado, urticária e/ou angioedema, raramente é necessária a admi- nistração de epinefrina (solução milesimal) intramus- cular. Em geral, os pacientes devem ser liberados com a prescrição de anti-histamínico oral por prazo recomendável de no mínimo 7 dias. Em casos mais extensos, um curso rápido de corticosteroides orais pode ser necessário. Da mesma forma, na presença de sintomas res- piratórios isolados, o tratamento deve ser iniciado com a nebulização de agente broncodilatador, que deverá ser mantido, sobretudo nos pacientes com antecedentes de asma, por no mínimo 5 dias. Os pa- cientes com manifestações gastrintestinais isoladas, além da suspensão do alimento da dieta, deverão receber tratamento sintomático (antieméticos e/ou antiespasmódicos) e soluções hidratantes. A atenção deve ser dada para os pacientes que apresentem pelo menos dois órgãos ou sistemas envolvidos, para que não se retarde o diagnóstico e o pronto tratamento da anafilaxia 75 . Na emergência A alergia alimentar é a principal causa de anafila- xia tratada em serviços de emergência nos Estados Unidos, especialmente na população mais jovem. Apesar disso, pouca atenção tem sido dada ao trata- mento da anafilaxia na emergência. A Tabela 5 reúne os principais agentes empregados no tratamento da anafilaxia. Estudo retrospectivo recente nos EUA reviu o diagnóstico de anafilaxia desencadeada por alimen- tos entre crianças e adolescentes (6 meses a 18 anos) em 37 hospitais pediátricos entre os anos de 2007 e 2012. Os autores encontraram um aumento do número de casos (de 41 para 71 casos/100.000 visitas ao pronto-socorro). Descreveram 7.303 epi- sódios de anafilaxia, sendo mais comum entre 1 e 5 anos de idade (52%), relacionadas à ingestão de amendoim (37%), seguido de outras castanhas ou sementes (21%), peixe (8%) e leite (6%), e entre os pacientes com asma (20%) e com doenças crônicas complexas (3%) 76 . A análise dos pacientes mostrou haver associação entre a necessidade de internação e os seguintes fatores: menores de 1 ano, exposição a castanhas, apresentar simultaneamente asma ou outras condições crônicas 76 . Revisão sistemática de artigos publicados após os anos 2000 sobre anafilaxia na Europa mostrou incidência variável entre 1,5‑7,9 casos/100.000/ ano, sendo que 0,3% da população europeia já apresentou anafilaxia na vida. A etiologia dos casos está relacionada a alimentos, medicações, insetos e látex, sendo que em 20% dos casos o agente não foi identificado. A taxa de óbitos atingiu 0,000002% a 0,0001% habitantes 77 . Estudo sobre as tendências temporais na prescri- ção de epinefrina autoinjetável e o seguimento com especialista em alergia após episódio de anafilaxia, entre os anos de 2005 e 2014 nos EUA, demonstrou que após 1 ano da alta apenas 46% dos 18.279 casos dispunha de uma prescrição de adrenalina autoinje- tável, e 29% fizeram seguimento com especialistas. Esses percentuais se mantiveram ao longo dos 10 anos de observação. Quando foram analisados os menores de 18 anos, houve um aumento das pres- crições entre 2005 e 2014 de 16%, e no seguimento com especialistas um aumento de 18,8%, enquanto para os adultos houve uma redução no seguimento com especialistas em 15,4%. As anafilaxias que mais receberam orientação para o uso de epinefrina au- toinjetável foram aquelas desencadeadas por veneno de insetos e por alimentos. Isto reforça a necessidade de maiores pesquisas e programas de educação para o melhor reconhecimento e cuidados terapêuticos na anafilaxia 78 .Várias tentativas têm sido feitas no Brasil, mas até o momento a adrenalina autoinjetável ainda não é comercializada. O médico deve lembrar que a anafilaxia ocorre co- mo parte de um evento clínico dinâmico. Mesmo sin- tomas que não cursam com risco de morte iminente podem progredir rapidamente, a menos que medidas terapêuticas sejam prontamente estabelecidas 79 . As recomendações terapêuticas são dependentes do conhecimento médico, e do seu discernimento sobre a necessidade de intervenção rápida, e várias diretrizes sobre anafilaxia foram desenvolvidas 80‑82 . Deve ser ressaltado que a anafilaxia pode ter um curso bifásico em 11% dos casos (com grandes va- Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 2 – Solé D et al.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQwMTAx