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Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 2. N° 1, 2018 57 O omalizumabe permite alcançar com maior se- gurança a dose desejada, diminui o número de rea- ções relacionadas às doses, e desvia o índice risco/ benefício da ITO para leite de vaca. Não influencia a eficácia e nem está associado à indução de tolerância imunológica (hiporresponsividade persistente) 153,154 . Foi realizado estudo controlado com placebo so- bre a eficácia de omalizumabe na dessensibilização rápida, em um dia, de pacientes com alergia grave ao amendoim, seguido por incrementos semanais até atingir-se 2000 mg. O tratamento prévio de 12 sema- nas com omalizumabe permitiu tolerância dez vezes maior: 250 mg x 22,5 mg de amendoim tolerados, respectivamente pelo grupo omalizumabe e o placebo. A indução de tolerância oral foi bem sucedida em 79% do grupo tratado contra 12% do grupo placebo, e foi persistente mesmo após interrupção do omalizumabe. Três pacientes desenvolveram esofagite eosinofílica, que reverteu com interrupção da ITO 155‑157 . O omalizumabe aumenta o limiar para a reação alérgica ao alimento no TPO em até 80 vezes 157 . Utilizado em criança com asma grave e anafilaxia a diferentes alimentos após ser submetido à aferese es- pecífica para IgE (processo ainda em investigação em que a IgE é removida da circulação geral do indivíduo empregando-se filtros específicos). Este procedimen- to prévio reduz drasticamente os níveis de IgE, para então permitir o emprego do omalizumabe. Com este tratamento, o paciente se tornou tolerante a todos os alimentos que lhe causavam anafilaxia 157 . Respostas inflamatórias orquestradas por linfóci- tos Th2 são características da alergia alimentar. Este predomínio da inflamação tipo 2 está associado à pro- dução aumentada de IL-4, IL-5, e IL-13. A IL-4 induz a proliferação de células Th2 e mastócitos, e desvio para isotipo de células B. A IL-5 promove crescimento, maturação, recrutamento e ativação de eosinófilos. A IL-13 induz a síntese de IgE, recrutamento de eo- sinófilos e basófilos, aumenta a atividade de células epiteliais e a secreção de muco. O epitélio de qualquer tecido também tem papel chave na reação alérgica. Serve como barreira para proteínas estranhas e agentes microbiológicos. O aumento da permeabilidade epitelial facilita a sen- sibilização alérgica. As células epiteliais produzem citocinas e quimiocinas que favorecem a resposta tipo 2 por células dendríticas e incluem linfopoietina timo-estrômica (TSLP), IL-25, e IL-33. Estas ativam ainda células linfoides inatas (ILC) que também produzem citocinas do tipo Th2 109,158-161 . Pacientes com dermatite atópica podem ter alergia alimentar mediada por IgE e por outros me- canismos não dependentes de IgE. A doença tem fenótipos com domínio Th2 em alguma fase, e pode servir de exemplo para a imunomodulação com imunobiológicos 162,163 . Com este cenário estabelecido nas reações alér- gicas tipo 2 por alimentos, o alvo do tratamento pode ser representado pelas citocinas e os receptores de citocinas. Níveis elevados de IL-4, IL-5 e IL-13 foram observados em pacientes com alergia alimentar 164,165 . Variantes de IL-13 associadas a níveis elevados de IgE foram observadas em alergia alimentar, particular- mente em pacientes com alergia à clara de ovo 166 . Anticitocinas contra um único tipo de citocina tal- vez sejam menos eficazes no controle de sintomas, possivelmente pela ação concomitante de outras citocinas Th2. Intervenções possíveis com anti IL-5 ou antirreceptor de IL-5, já empregados em pacientes com esofagite eosinofílica, e possivelmente mais racional, o anticorpo monoclonal antirreceptor de IL-4/IL-13 são promissores no tratamento de alergia alimentar 167‑171 . As perspectivas para pacientes alérgicos pare- cem melhores nos anos que virão. Imunoterapia por diversas vias de administração, alérgenos modifica- dos, imunobiológicos, biomarcadores, são alguns recursos que modificarão a história do tratamento da alergia alimentar. “ I do not know what food immunotherapy will be like 20 to 30 years from now, but I am hopeful that it will look nothing like the therapies described in this review. These will be exciting times that might even- tually allow us to use words like tolerance and cure in treating patients with severe persistent food allergy .” Robert A. Wood 144 . História natural da alergia alimentar Conhecer o prognóstico e a evolução da alergia alimentar tem impacto em decisões importantes durante o seguimento clínico, como a escolha do momento para reavaliar a tolerância clínica, assim como para decisões terapêuticas, diante de novas perspectivas de tratamento 172 . A maior parte das alergias alimentares que acometem as crianças são transitórias, enquanto os adultos apresentam fenótipo de alergia persistente. Porém, a história natural da alergia alimentar vem sofrendo transfor- mações. Além da prevalência de alergia alimentar Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 2 – Solé D et al.
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