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58 Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 2. N° 1, 2018 estar aumentando, o tempo para o desenvolvimento de tolerância tem sido maior do que previamente descrito 172,173 . A evolução da alergia alimentar depende de algumas variáveis, principalmente do tipo de alimento envolvido, das características do paciente, e do mecanismo imunológico responsável pelas manifestações clínicas 174‑180 . Dentre os vários fatores associados ao risco de maior persistência da alergia alimentar, destacam-se: antecedente de reações graves, reações desencade- adas por mínimas quantidades do alimento, presença de comorbidades alérgicas e altos níveis de IgE específica para o alimento alergênico 172,181 . O mecanismo envolvido na patogênese da alergia alimentar tem implicações, tanto no tipo e gravida- de das manifestações clínicas, quanto no padrão de evolução natural da doença 172,178 . As alergias mediadas por anticorpos IgE habitualmente levam mais tempo para aquisição de tolerância, enquanto que as manifestações gastrointestinais de alergias mediadas por mecanismos celulares costumam se resolver espontaneamente até os 2-3 anos de idade 181‑186 . Além disso, na alergia IgE mediada os pacientes que reagem a alérgenos alimentares por inalação parecem compor um grupo de risco para reações graves e mais persistentes, porém este grupo representa uma pequena proporção dos casos 184 . As causas mais comuns de alergia alimentar na infância como o leite, a soja, o ovo e o trigo, com fre- quência se associam à remissão da alergia ao longo do tempo, enquanto que para amendoim, nozes e castanhas, a alergia é considerada persistente 173‑183 . Embora alguns casos possam desenvolver tolerân- cia clínica para peixe e camarão, existem poucos estudos que avaliaram a história natural de alergia a frutos do mar, as quais também são consideradas persistentes 186 . Em relação ao leite de vaca, historicamente a alergia apresenta prognóstico muito favorável para tolerância. Porém, estudos mais recentes demons- tram um aumento do número de crianças que não desenvolvem tolerância até o início da idade adulta 187 . As taxas de remissão de alergia ao leite variam conforme a população, sendo que um estudo em hospital terciário nos EUA observou que 19% das crianças desenvolveram tolerância até os 4 anos de idade, 42% até os 8 anos, 64% até os 12 anos, e 79% até os 16 anos de idade 187 . A expectativa de resolução da alergia ao leite é menor em pacientes com níveis elevados de IgE específica, tendo sido observado que apenas 60% daqueles com IgE para leite maior do que 50 kUA/L adquiriram tolerância até os 18 anos de idade 187 . Os alérgicos à soja, em sua maioria, desenvolvem tolerância ao alimento durante a infância, podendo persistir por mais tempo os casos que apresentam IgE específica para soja maior que 50 kUA/L 179 . Em relação ao ovo, o prognóstico para resolução da alergia também é bom, e atualmente sabe-se que a tolerância pode variar conforme o grau de processamento térmico do ovo. Tem sido observado que muitas crianças toleram inicialmente o ovo cozi- do, para depois deixar de reagir ao alimento cru 173 . Estudos observaram que a média de resolução da alergia ao ovo foi de 9 anos de idade, entretanto apenas 10% dos casos com IgE específica maior que 50 kUA/L desenvolveram tolerância até os 18 anos 186 . Em relação ao trigo existem poucos trabalhos, mas um estudo grande, restrospectivo, documentou que a média de idade para tolerância foi de 6 anos, embora tenha sido observado que 35% entraram na adolescência ainda alérgicos 187 . A alergia ao amendoim, considerada menos fre- quente no Brasil, é persistente na maioria das vezes, tendo sido observado que 22% podem resolver a alergia até os 4 anos de idade 188 . A compreensão da história natural das diferen- tes formas de alergia alimentar, permite ao médico individualizar quando e como avaliar a tolerância, através do teste de provocação oral com o alimento. É necessário o acompanhamento sistemático por equipe multiprofissional das crianças com alergia alimentar, a intervalos mais curtos nos lactentes (3 a 6 meses), anual e até bianual nas crianças maiores e adultos, a depender do tipo de alergia e de alimento 189 . Este acompanhamento deve, além de avaliar a evolução relacionada à alergia, realizar a avaliação e monitoração da condição nutricional, pois muitas vezes a exclusão de um determinado alimento sem orientação nutricional apropriada pode determinar grave comprometimento do crescimento e desenvolvimento. Tratamento dietético A base do tratamento da alergia alimentar é essencialmente nutricional e está apoiada sob dois grandes pilares: (a) a exclusão dos alérgenos ali- mentares responsáveis pela reação alérgica com substituição apropriada, (b) a utilização de fórmulas Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 2 – Solé D et al.

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