O uso precoce de cosméticos e o impacto das redes sociais na autoimagem e autoestima dos adolescentes foram abordados durante a miniconferência apresentada por Lígia Reato, especialista em medicina da adolescência, durante o 41º CBP. Para dimensionar o cenário, ela trouxe dados sobre o crescimento do mercado de cosméticos entre o público jovem, com movimentação global de US$ 1,8 bilhão, em 2021, e expectativa de alcançar US$ 2,9 bilhões, em 2027. A sessão foi coordenada por Maria Inês Costa Jonas, do Departamento Científico de Adolescência da SBP.
Lígia Reato usou como exemplos o papel exercido por influenciadores mirins, como a americana Paige Marrit, de 8 anos, que compartilha sua rotina escolar enquanto faz maquiagem em frente às câmeras. Dessa forma, a especialista ilustrou a influência das redes na adoção precoce de produtos de beleza. “As gerações Y e Z são bombardeadas o tempo todo por vitrines de comportamento”, ressaltou.
Pesquisa citada pela especialista revelou que muitas crianças usam produtos de cosmética adulta em vez dos itens específicos para sua faixa etária. Entre os mais utilizados por jovens, os cremes de limpeza facial lideram, com 44%, seguidos de perfumes, batons e gel para cabelos. O estudo também identificou o uso de maquiagem a partir dos 4 anos, na maioria das vezes (74,6%) a pedido da própria criança.
Outro aspecto abordado pela especialista é o fenômeno chamado de “Sephora Kids”, relacionado ao crescente número de crianças e adolescentes que utilizam cosméticos anti-idade. “A prevenção precoce de sinais de envelhecimento e o ideal inatingível de perfeição estética podem provocar graves distorções de autoimagem”, alertou.
Segundo Ligia, há poucos estudos a respeito do uso de cosméticos nas crianças, mas se sabe que, quanto mais precoce, maior a chance de se tornar a pele sensibilizada. Por isso, cautela é a regra tanto para crianças como adolescentes.
Para o cuidado adequado da pele entre os mais jovens, a especialista listou as recomendações de hábitos simples no dia a dia, como a limpeza facial com sabonete neutro, hidratação leve e uso de filtro solar adequado. Outras práticas discutidas foram o uso responsável de maquiagem, desodorantes, e o cuidado ao considerar procedimentos como tintura de cabelo, unhas em gel, piercings e tatuagens.
Os riscos associados à adoção desenfreada de produtos e tendências de beleza, muitas vezes promovidas sem critério, foram motivo de alerta. Lígia Reato frisou que influenciadores e produtores de conteúdo deveriam priorizar a ética e responsabilidade, promovendo orientações de saúde baseadas em evidências e segurança.
Ela acrescentou ainda que pais e cuidadores, por sua vez, são fundamentais no equilíbrio entre proteger e apoiar a autoestima dos jovens. Por isso, incentivou a busca de apoio profissional na orientação dos cuidados com a pele e na aceitação das características naturais, promovendo uma atitude positiva em relação ao corpo e à mente, para construir uma geração de adolescentes emocionalmente saudáveis.
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