Mais de 33 mil crianças menores de 10 anos foram internadas em razão de acidentes envolvendo quedas no ano passado. O número foi levantado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que nesta semana (25 a 27 de abril) realiza na capital federal o 4º Congresso Brasileiro de Urgências e Emergências Pediátricas. De acordo com a SBP, que analisou dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), o cenário é ainda mais preocupante ao observar que o problema é recorrente e a cada ano série histórica: de 2014 a 2023, o número de internações por quedas superou a marca de 332 mil casos.
O presidente da entidade, dr. Clóvis Francisco Constantino, enfatiza que as estatísticas de internações por quedas destacam a importância de manter cuidados preventivos para evitar acidentes e proteger a integridade física das crianças. Na realidade, tais eventos não deveriam se chamar acidentes, pois dá uma conotação de algo inevitável. São situações que, na maioria das vezes, ocorrem por falta de previsibilidade. Cada canto da casa e outros espaços, como escolas e playground, podem conter um risco a ser reconhecido e eliminado. Pais e responsáveis no geral devem buscar orientações e adotar estratégias eficazes para garantir a segurança das crianças”, recomenda.
FAIXA ETÁRIA - Num período de dez anos (de 2014 a 2023), a faixa etária dos cinco aos nove anos de idade concentrou o maior número de registros: foram 195.706 casos. Logo na sequência, estão as crianças de um a quatro anos: com 110.503 internações. Por fim, aquelas com menos de um ano: com 26.154.
Para a presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas da SBP, dra. Luci Pfeiffer, esses dados são impactantes, uma vez que grande parte desses eventos poderia ter sido evitada com medidas simples de prevenção. “Na maioria das situações, atitudes pontuais e simples são suficientes para evitar acidentes. Durante a infância, a proteção é passiva, ou seja, o adulto precisa conhecer os riscos que estão à volta da criança, bem como a capacidade física e mental dos pequenos, para que possa lhes oferecer um ambiente saudável e protegido”, afirma.
Ainda de acordo com os registros oficiais, que incluem os motivos dos acidentes, as quedas ocorrem em diferentes situações, sendo as principais delas: escorregões, tropeços ou passos em falso; quedas de escadas ou degraus; da cama; de árvores ou mobílias; além de acidentes em parques e playground; e mais.
ACESSE AQUI A TABELA DE CAUSAS
Como forma de evitar agravos à saúde das crianças, como sequelas permanentes ou — em casos mais graves — óbitos, a SBP possui uma série de orientações que devem ser adotadas pelos adultos para prevenir acidentes indesejáveis. Abaixo, você confere algumas delas. Mais informações estão disponíveis no site Pediatria para Famílias ou no documento “Os acidentes são evitáveis e na maioria das vezes, o perigo está dentro de casa!”.
Crianças com menos de um ano
· Nunca deixe o bebê sozinho no trocador ou em locais altos, como na cama. Essa costuma ser a primeira queda do bebê e, por ele ter a cabecinha bastante volumosa em relação ao resto do corpo, ela chegará primeiro ao chão, podendo causar traumatismos cranianos e encefálicos graves.
· Quando o bebê começa controlar seus movimentos de braços e pernas e aprende a sentar, um reflexo de hiperextensão posterior faz com que ele, sem desejo disso, se jogue para trás e bata a cabecinha no chão. Por isso, o uso de almofadas e a presença do adulto cuidador são fundamentais.
· Se você estiver carregando o bebê ao colo, em escadas e degraus, apoie-se sempre no corrimão. Evite pisos lisos, molhados ou escorregadios.
· Nunca deixe o bebê sob os cuidados de outra criança. Caso o irmãozinho ou outra criança queira pegá-lo no colo, oriente, ensine, proteja, para que isso aconteça apenas com um adulto segurando também.
· O andador não deve ser usado, nunca, em nenhuma idade. Tanto ele prejudica o desenvolvimento e o andar da criança, como tem sido causa de graves acidentes com traumatismos cranianos significativos.
· Não deixe o bebê em sofás ou cadeira, como se fosse um apoio para aprender a sentar. O bebê não vai ficar parado e as quedas podem acontecer. Brincar no chão protegido lhe dará muito mais espaço para se mover e desenvolver suas habilidades motoras.
De um a quatro anos de idade
· Coloque telas nas janelas, sacadas e vãos desprotegidos, como laterais de escadas. Não deixe objetos, cadeiras, sofás e outros apoios próximos desses lugares de risco.
· Cuidado com superfícies molhadas e escorregadias que provocam o desequilíbrio e as quedas. Banheiro, pisos em geral e calçadas em volta de piscinas que estejam molhados devem ser proibidos para brincadeiras.
· Escolha bem os brinquedos de locomoção, como triciclos, patinetes e skates, que suportem o peso da criança e que tenham uma base segura e não tombem com facilidade. Devem ser utilizados em locais apropriados, nunca em via pública e sempre com os equipamentos de segurança, como capacete, joelheiras, tornozeleiras e cotoveleiras.
· Cuidado com as camas tipo beliche – não oferecem segurança em nenhuma idade. Mesmo com proteção nas laterais, não é indicada nos primeiros anos de vida ou para as crianças maiores. Além da necessidade de proteção lateral, a cama de cima não deve ser mais alta que a altura da criança.
· Nunca deixe a criança sozinha, sem um adulto cuidador atento a ela.
De cinco a nove anos de idade
· A exploração de lugares além da casa pode se tornar intensa e as quedas de muros, lajes, árvores e brinquedos em parques é comum. Para evitar acidente, a orientação e supervisão dos responsáveis é fundamental.
· Os brinquedos de locomoção vão se transformando. Seja em bicicleta, patinetes, skates ou outros, os equipamentos de segurança, como já enumerados – capacete, cotoveleira, joelheira e tornozeleira –, devem ser condição de uso do brinquedo, independentemente do local, trecho ou tempo de uso.
· O uso do celular ou outras telas do mundo virtual não pode ser permitido quando em vias públicas, ou quando a criança está em movimento, pelo desvio de atenção que desencadeia. É preciso lembrar que o uso das telas nessa idade não deve exceder uma hora ao dia e não pode servir de companhia ou terceirização do cuidar.
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