SBP e demais países de língua portuguesa unem forças pela saúde das crianças

Levar as ações de capacitação em ressuscitação do recém-nascido para Angola e apoiar a implementação no país de um programa de reanimação neonatal próprio: essas são duas das próximas metas do Grupo de Trabalho (GT) de Pediatria Internacional dos Países de Língua Portuguesa, oficialmente instituído pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em 2023, sob a gestão do presidente Clóvis Francisco Constantino. Durante o 41º Congresso Brasileiro de Pediatria (CBP), os integrantes do GT, com representantes do Brasil, Portugal, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau, participaram de reunião durante a qual discutiram fluxos de trabalho e propostas para o futuro.

Na oportunidade, Clóvis Francisco Constantino ressaltou sua felicidade em recepcionar no Brasil os membros do Grupo de Trabalho e desejou vida longa à iniciativa. “A nossa aspiração está em consonância. Queremos ampliar cada vez mais as ações de integração. É um grande acerto para a defesa da infância e da adolescência e para o fortalecimento da pediatria mundialmente”, disse.

O GT tem como objetivo ampliar as ações de cooperação internacional entre as nações que têm o português como idioma, em prol do desenvolvimento da medicina pediátrica e da redução das desigualdades que afligem milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo. Conforme a coordenadora do GT, Marcela Damásio, experiências prévias de integração com outros países foram promovidas pela SBP no âmbito do Programa de Reanimação Neonatal (PRN-SBP).

Por meio de parceria oficial com a Agência Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores, diversos profissionais de saúde de Moçambique foram capacitados em técnicas de reanimação neonatal, em missões oficiais ocorridas em 2016, 2018 e 2023. Com o passar dos anos, a aproximação com o Continente Africano evoluiu e, como fruto, se consolidou a comunidade pediátrica lusófona.

O esforço culminou na composição de um Grupo de Trabalho inédito, com a participação de oito países: Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Santo Tomé e Príncipe, Portugal e Timor-Leste. “No fim de 2022, montamos o nosso primeiro encontro virtual científico: o webinar sobre prematuridade. Desde então, a dinâmica do GT inclui uma reunião administrativa num mês e um webinar no mês subsequente. Os assuntos são propostos pelos países membros em função de demandas locais que sejam de interesse comum. Já tratamos de temas como aleitamento materno, cuidados com o bebê de risco, doenças infectocontagiosas e mais”, explicou Marcela.

Sobre o conhecimento técnico disseminado pela SBP, a presidente da Sociedade Moçambicana de Pediatras (Amope), Carla Judite Wale, destaca: “é um verdadeiro vulcão de ciência”. Juntamente com os demais membros do Grupo de Trabalho de Pediatria Internacional dos Países de Língua Portuguesa, a especialista foi convidada a acompanhar as aulas do 41º CBP.

“Estou aprendendo bastante. É até uma situação complexa, pois há diversos temas interessantes, alguns deles são apresentados no mesmo horário, em salas diferentes. Fico tentando decidir o que é mais relevante. Participar do 41o CBP é uma experiência valiosa, assim como são os webinares do GT, que já são um sucesso em Moçambique e assistidos por pediatras, enfermeiros e técnicos”, pontua.

Nilza Mussagy, que também integra a comitiva, concluiu sua residência em Pediatria em Minas Gerais. A especialista foi um dos primeiros elos que possibilitou a integração entre Brasil e Moçambique e, posteriormente, entre as demais nações. “Marcela Damásio foi minha preceptora. É um exemplo de pediatra e nunca perdemos o vínculo, mesmo após meu retorno à Moçambique. Quando ela compartilhou comigo a sua ideia de formar um grupo lusófono, eu aderi imediatamente e a ajudei a contatar alguns pediatras dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP)”, contou.

A pediatra Waldina da Silva Barbeiro, representante de Guiné-Bissau, destaca a importância do GT, uma vez que seu país conta atualmente com cerca de dez pediatras. Segundo compartilhou, “as crianças e os adolescentes são atendidos por médicos generalistas. Estamos começando a formar nossos primeiros especialistas, tanto na pediatria quanto nas outras áreas. A troca de conhecimento e a experiência acumulada pela SBP e pelos demais membros do Grupo é fundamental para aprimorar e acelerar esse processo. Estou feliz por acompanhar de perto as conferências e demais dinâmicas do 41º CBP. Muito enriquecedor para a formação”.

As aulas sobre pneumologia e dengue foram algumas daquelas classificadas por Heriberto Arencibia Sosa, representante de Cabo Verde, como formidáveis. “Estamos enfrentando uma epidemia de dengue. Já são mais de mil pacientes diagnosticados com a doença e nossa população total é de aproximadamente 525 mil habitantes”, sinalizou.

Já Teresa Bandeira, representante da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), frisou que a entidade vem buscando aprofundar a sua participação e o fortalecimento do GT. “No último congresso da SPP, tivemos o prazer de receber o presidente da SBP. Estamos retribuindo a visita e nos colocando à disposição para contribuir, ansiosos para que mais e mais projetos floresçam”.

A respeito dos próximos passos do GT, a coordenadora Marcela Damásio informa que as metas são ambiciosas, pois “em um mundo globalizado, podemos e devemos atuar de forma global, reduzindo as desigualdades nos cuidados pediátricos oferecidos às nossas crianças nos diferentes países de língua portuguesa”. Várias possibilidades de cooperação, virtuais e presenciais, foram discutidas e começaremos a trabalhar para torná- -las reais. Outro grande sonho é a promoção de um congresso, reunindo mais pediatras e profissionais de saúde dos oito países do Grupo de Trabalho”, disse.