Sociedade Brasileira de Pediatria atualiza orientações para crianças e adolescentes na era digital

O Grupo de Trabalho de Saúde Digital (GT) da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de publicar a nova versão do documento “#Menos Telas #Mais Saúde – Atualização 2024”. A nova versão revisa as recomendações dos pediatras lançadas em 2016, agora com foco especial nas escolas e uma abordagem sobre as legislações que protegem os direitos das crianças e adolescentes na internet, os riscos do ambiente virtual, e reforça a importância da vigilância dos responsáveis sobre o conteúdo acessado pelos jovens.

De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil (2023), realizada pelo Cetic.br/NIC.br, 95% das crianças (entre nove e 17 anos) já estão conectadas, o que corresponde a 25,5 milhões de usuários da internet no País. Além disso, 24% dos entrevistados relataram o primeiro acesso à internet até os seis anos e 63% até os 10 anos de idade, demonstrando o uso precoce. A pesquisa entrevistou 2.704 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos, assim como seus pais ou responsáveis, em todo o País.

Conforme explica a coordenadora do GT de Saúde Digital, dra. Evelyn Eisenstein, é importante que não apenas os pais e cuidadores saibam sobre a temática da educação e saúde digital, mas as escolas sejam envolvidas no processo de letramento digital.

“Os assuntos sobre saúde digital e a vivência de nossas crianças e adolescentes são dever de toda a sociedade e as escolas possuem papel fundamental no quesito da educação. Não podemos falar de internet sem falar de ensinar o correto uso dela. Por isso, a atualização do documento foi tão importante e trouxe como ideal essa aproximação e a explicação sobre quais leis amparam as nossas crianças”, disse.

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RECOMENDAÇÕES – Entre as principais novidades nas recomendações do documento estão:

·       Direitos a tecnologias assistivas e acessíveis para crianças e adolescentes com neuro-atipias e diversas incapacidades;

·       A importância de estabelecer conexões e diálogos constantes com filhos, fora das telas, como forma de prevenir a dependência tecnológica;

·       A promoção da mediação parental e da alfabetização digital nas escolas, enfatizando regras éticas de convivência e respeito em todas as idades e contextos culturais para um uso seguro e saudável das tecnologias. Incentiva-se também a criação de códigos de conduta nas escolas para regular o uso de tecnologias em atividades escolares.

Além disso, foram reforçadas as orientações sobre tempo de telas das crianças:

·  De zero a dois anos de idade: sem telas (mesmo que passivamente);

·  De dois a cinco anos de idade: uma hora por dia, com supervisão dos pais ou responsáveis;

·  De seis a 10 anos: uma a duas horas por dia, no máximo, e sempre com supervisão;

·  Adolescentes entre 11 e 18 anos, de duas a três horas por dia, e nunca deixar “virar a noite”. 

“Estudos mostram que há aumento de riscos e problemas de saúde e comportamentais com o uso de mais de quatro ou cinco horas por dia. Pensando, especialmente, nos adolescentes que gostam de videogames, isso é extremamente prejudicial para a saúde física e mental dos jovens”, enfatiza a dra. Evelyn.

RISCOS – A nova edição do guia conta também com um quadro novo sobre a Classificação de Riscos On-line para Crianças e Adolescentes. Seu conteúdo foi produzido pela Children Online: Research and Evidence (CO:RE) e traduzido pela Safernet Brasil e CETIC.br|NIC.br. A tabela apresenta, de forma didática, a quais riscos crianças e adolescentes estão expostos na internet, em especial se estiverem acessando o mundo virtual sem nenhum tipo de supervisão. Os perigos são de natureza agressiva, sexual e de valores, que podem estar conectados entre si.

Há ainda ênfase em relação à Classificação Indicativa (Classind) e sua importância na proteção das crianças. Esta política pública auxilia os pais, responsáveis e educadores a descobrirem quais produtos audiovisuais ou jogos são adequados a cada faixa etária, além de poderem acompanhar o que está sendo acessado e limitar o conteúdo ao qual está havendo interação.

“A SBP tem trabalhado diuturnamente para conversar com famílias, responsáveis e educadores sobre como as telas, em excesso, trazem prejuízos para a formação e o desenvolvimento das crianças e adolescentes. São danos que podem perdurar uma vida inteira. Por isso, é importante lembrar que celular não é brinquedo de criança e que a desconexão deve ser um exercício em família. Nada é mais benéfico para eles que o contato humano e verdadeiro com os pais. Por isso, brincar, interagir e conversar com as crianças é o caminho para criar união e uma infância e adolescência mais felizes e saudáveis”, conclui dra. Evelyn Eisenstein.