Os pediatras e familiares de pacientes podem vir a ser convidados a dar seu apoio a uma campanha para restringir a publicidade de cervejas nos meios de comunicação. A ideia foi lançada durante o 14o Congresso Brasileiro de Adolescência e o 1o Congresso Brasileiro de Áreas de Atuação em Pediatria, realizados em Campo Grande (MS). Como parte da iniciativa, seria estimulada a coleta de assinaturas, nos serviços de saúde, para inclusão em um abaixo-assinado, já organizado pelo Ministério Público de São Paulo. A meta é apresentar um projeto de lei de iniciativa popular junto ao Congresso Nacional sobre o tema.
O engajamento dos pediatras nesta ação é defendido pelo Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). O tema será encaminhado para análise da diretoria da entidade. De acordo com a presidente do DC, dra. Alda Elizabeth Iglesias Azevedo, esse assunto mereceu destaque nos encontros realizados em Campo Grande. A campanha “Cerveja também é álcool” quer a alteração da Lei Federal nº 9.294/96 para que as restrições à publicidade passem a abranger toda e qualquer bebida, com graduação alcoólica igual ou superior a 0,5 grau Gay-Lussac.
Pela atual redação, a restrição só se aplica às bebidas com teor alcoólico superior a 13 graus Gay-Lussac, o que exclui a cerveja. Para a dra. Alda, houve o compromisso dos pediatras participantes do Congresso em estimular a coleta de assinaturas em seus consultórios. Até o momento, o Ministério Público paulista já conta com 300 mil assinaturas. É preciso atingir um mínimo de um milhão para que a proposta seja enviada ao Congresso Nacional.
TEMAS COMPLEXOS - Sexualidade, transtornos alimentares, maternidade e paternidade precoces, tecnoestresse e vacinação. O inventário de temas abordados em profundidade durante o 4o Congresso Brasileiro de Adolescência e o 1o Congresso Brasileiro de Áreas de Atuação em Pediatria dão a pista das preocupações que inquietam os pediatras do País na atualidade. Não por acaso, foram esses os assuntos que compuseram a programação dos encontros, organizados pela DC de Adolescência da SBP.
Segundo o 1º vice-presidente da SBP, dr. Clóvis Constantino, durante muitas décadas os adolescentes ficaram em uma espécie de limbo da assistência médica, porque não havia uma sistemática de atendimento com base em evidências científicas. Desde o momento que essa faixa etária passou a ser cuidada pela pediatria – há aproximadamente duas décadas (a Medicina do Adolescente é Área de Atuação da Pediatria) –, os adolescentes vêm recebendo um tratamento mais adequado, afirmou, acrescentando que o adolescente “ainda não é bem compreendido pela sociedade em sua complexidade de indivíduo em formação, o que torna ainda mais importante o empenho dos pediatras em debater suas especificidades”.
TECNOESTRESSE – Dentre os múltiplos temas abordados, outro que se destacou, além da campanha “Cerveja também é álcool”, foi a relação dos adolescentes com mundo digital. Os participantes e a imprensa que acompanharam os debates classificaram-no como urgente, já antevendo a repercussão causada pelo lançamento oficial do Manual “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital”, que foi apresentado, em primeira mão, durante os Congresso.
Segundo a dra. Alda Elizabeth Iglesias Azevedo, presidente do Departamento Científico de Adolescência, responsável pela publicação, o Congresso organizou mesas que discutissem tudo que diga respeito ao modo de vida do adolescente. Temas polêmicos como o tecnoestresse, por exemplo, tiveram destaque. Para ela, a falta de limites nessa relação do adolescente com as novas tecnologias e redes sociais tem impactado na saúde dos jovens, causando obesidade, carência de vitamina D, anemia e depressão, dentre outras consequências.
“Ao mesmo tempo em que quer se conecta para ter amigos, o adolescente fica isolado, mantendo relações virtuais e preterindo o tempo do esporte, da interação social e da contemplação”, explicou a presidente do DC, que destacou ainda a importância de os pais evitarem os excessos, encarando o desafio da convivência com indivíduos que enfrentam mudanças no corpo e na mente, o que os deixa em constantes conflitos.
PRESENÇA INSTITUCIONAL – No balanço final dos Congresso, também se destaca a participação efetiva da diretoria da SBP nas atividades. Segundo o dr. Clóvis Constantino, que representou a entidade na mesa solene de abertura, a atual gestão faz questão de marcar presença em todos os eventos onde a saúde das crianças, recém-nascidos e adolescentes está no centro do debate. Em Campo Grande (MS), que sediou os Congressos, não foi diferente.
“A Sociedade Brasileira de Pediatria saiu do gabinete e está mais perto do seu alvo de atenção, que é o pediatra. Os gestores da entidade devem estar em contato com os especialistas onde eles estão. É o que estamos fazendo desde o início dessa gestão e vamos continuar aperfeiçoando”, ressaltou. Além dele, a presidente da SBP, dra Luciana Rodrigues Silva, compareceu aos eventos.
Ela ministrou uma conferência sobre o tema Dra. “Ciência, Humanismo e Espiritualidade”. Na oportunidade, elogiou a organização do evento, sob o comando da dra. Carmen Lúcia de Almeida Santos, e também ressaltou o compromisso da atual gestão da SBP com a defesa dos interesses da medicina, dos pediatras e dos seus pacientes e familiares. “Para a SBP, este grupo etário é de grande importância, pois ao cuidar desses pacientes contribuímos, de modo significativo, para o futuro deste País”, pontuou.
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