Os efeitos do isolamento social da pandemia de covid-19 na saúde das crianças e adolescentes foram debatidos durante mesa-redonda moderada pela 2ª vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Anamaria Cavalcante e Silva, na manhã de sexta-feira (29). O tema integrou a programação do 3º Congresso Brasileiro de Pediatria On-line.
Para abordar o assunto, o encontrou contou com a participação dos especialistas do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da SBP: dra. Ana Jovina Barreto Bispo, apresentando o tema “O que fazer quando os marcos do desenvolvimento não são alcançados?”; dra. Denise Alves, ministrando a palestra “Um paradoxo no Brasil: o crescimento simultâneo da obesidade e da desnutrição infantil”; e dr. Regis Ricardo Assad, para falar sobre “A volta às aulas: a síndrome da creche e a epidemia de doenças virais”.
Durante a apresentação, dra. Ana Jovina enfatizou que é preciso rever a frase “toda criança tem o seu tempo”. Para a especialista, é preciso estar atento aos avanços do desenvolvimento dentro de cada faixa etária para identificar se a criança está acompanhando os marcos necessários, assim como perceber os fatores de risco e sinais de alerta que envolvem o quadro do paciente.
“Não podemos simplesmente aguardar que a criança alcance um marco em seu próprio tempo. Se ela não o atinge dentro da faixa etária esperada, é necessário intervir. Se, através de uma monitorização constante e estruturada em cada anamnese e avaliação clínica, identificarmos alguma irregularidade, podemos recorrer a ferramentas de triagem”, explicou a dra. Ana.
Em seguida, foi a vez da dra. Denise ressaltar os principais fatores responsáveis pelo aumento da desnutrição infantil e insegurança alimentar no Brasil. Além das questões sociais, políticas e econômicas que envolveram o contexto da pandemia, a pediatra pontuou a queda nos índices de imunização. “Temos visto aumentar os riscos de doenças graves com alta letalidade, as taxas de internações e isso vem piorando mais ainda a desnutrição. E a criança desnutrida é uma criança imunossuprimida”, afirmou.
Por fim, o dr. Regis abordou a saúde e o desenvolvimento da criança que frequenta creches, durante os primeiros mil dias de vida. Nesse contexto, ele destacou a “síndrome da creche”, termo utilizado para definir crianças de até três anos de idade que são acometidas por infecções de repetição, predominantemente das vias aéreas, e de menor frequência no trato gastrointestinal e pele, quando iniciam sua ida à creche.
“Após a pandemia, notamos que, com a retomada das aulas, o ciclo infeccioso recomeçou de uma forma distinta do que era antes. Hoje esse ciclo não respeita a sazonalidade e a volta às aulas marcou um aumento das infecções de vias respiratórias, intestinais e de pele”, observou o dr. Regis.
Para enfrentar essa situação, o especialista enfatizou a importância dos pediatras trabalharem em colaboração com creches e secretarias de educação. Eles devem identificar aspectos nutricionais, garantir a atualização das vacinas, prevenir acidentes, denunciar abusos e violências e assegurar o atendimento dos marcos do desenvolvimento infantil.
“Precisamos auxiliar as crianças que tiveram, por conta da pandemia, essa falta na janela de oportunidades de assistência e acompanhamento pediátrico durante seus primeiros anos de vida”, enfatizou a dra. Anamaria.
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