Afogamento está entre as principais causas de mortes acidentais de crianças no Brasil

Nos Estados Unidos, dez pessoas morrem afogadas diariamente, segundo estimativa da USA Swimming Foudation. O afogamento é a principal causa de morte não intencional em crianças de um a quatro anos naquele país e, no Brasil, o quadro não é diferente. Todos os dias, 17 pessoas morrem afogadas, sendo três delas crianças, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Em 2016 (últimos dados disponíveis), foram 913 óbitos por afogamento de crianças de até 14 anos de idade. Essa é a segunda maior causa de morte acidental, e a terceira causa de morte externa, entre crianças na faixa de um a quatro anos, sendo a piscina o local onde a maioria dos incidentes ocorre, ainda conforme o Ministério da Saúde.

“Crianças se afogam rápida e silenciosamente. Elas podem perder a consciência em dois minutos, os danos cerebrais ocorrem após cinco minutos e uma criança pode se afogar em cinco ou oito centímetros de água num período de apenas 30 segundos”, adverte a dra. Tânia Maria Russo Zamataro, do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Ela explica que a cabeça e os membros superiores são as partes mais pesadas do corpo em crianças de 4 e 5 anos e que, por isso, perdem o equilíbrio com frequência ao se inclinarem para frente e também com frequência não conseguem se erguer. “Isso faz com que pequenas quantidades de água em baldes, bacias, banheira, vasos sanitários, sejam suficientes para ocorrer um afogamento. É preciso lembrar que elas não têm maturidade suficiente de uma situação de emergência”, observa.

Dra. Tânia frisa também que os adolescentes, com idade entre 15 e 19 anos, se arriscam mais, sendo que os meninos se afogam duas vezes mais do que as meninas. “Uso de álcool, drogas, nadar sozinhos, doenças como convulsões, brincadeiras pouco seguras, hiperventilação voluntária e esportes radicais são alguns dos fatores dessa causa de morte entre os adolescentes”, exemplifica.

NOTIFICAÇÃO – Em todos os países, o afogamento está entre as principais causas de morte de crianças pequenas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os números, contudo, são nebulosos: muitos governos, em geral da Ásia e África, não repassam as informações à OMS. Cerca de 360 mil pessoas morrem por afogamento ao ano no mundo, em todas as faixas etárias. No entanto, especialistas afirmam que esse é um valor subestimado, podendo chegar a até 1 milhão de óbitos.

São mais precisos os dados sobre casos fatais, baseados nas certidões oficiais de atestados de óbito. No Brasil, entre 2001 e 2016, houve uma redução de 39% nos casos fatais em crianças de até 14 anos. Especialistas, no entanto, afirmam que, apesar da redução, é inaceitável uma criança morrer por um motivo que, muitas vezes, poderia ser completamente evitado.

PREVENÇÃO – Seja qual for o ambiente do afogamento, uma piscina, um rio ou uma represa, existem etapas para ajudar uma pessoa que está em apuros na água. O DC de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP listou, abaixo, o que NÃO DEVE SER FEITO:

  • Não deixe o bebê ou criança sozinha na banheira, piscina ou qualquer reservatório de água nem por um instante. Eles devem estar a, no máximo, um braço de distância;
  • Não deixe baldes, bacias ou outros recipientes com água ao alcance de crianças menores de 5 anos. Piscinas portáteis devem ser esvaziadas e desmontadas após o uso;
  • Não deixe atrativos, como brinquedos, próximos ou em reservatórios ou recipientes de água;
  • Não confie em boias ou outros dispositivos de flutuação que não sejam coletes salva-vidas. Os coletes salva-vidas colocam o indivíduo em uma posição onde a cabeça e o rosto ficam fora da água. Nunca deixe a criança sozinha na água mesmo que esteja com colete salva-vidas;
  • Não permita que seus filhos utilizem objetos de modismo, sem que haja a certificação e confirmação de segurança: por exemplo, as “caldas de sereia”, que são responsáveis por vários afogamentos;
  • Não permita que seus filhos nadem em piscinas onde não haja proteção nos ralos quanto à sucção de cabelos, correntes, partes do corpo, como tampas abauladas específicas, sistemas de desarme de motobomba, etc.

Em caso de emergência, o melhor caminho é chamar ajuda e ligar para o número do Corpo de Bombeiros (193) ou do Samu (192). Dependendo da situação, outra recomendação é jogar à vítima uma boia ou outro objeto que flutue. É importante manter-se seguro, puxando a pessoa com um objeto, como, por exemplo, o cabo da peneira para piscina.

“Deve ser lembrado que além do fato da morte, grande parte dos sobreviventes apresenta sequelas neurológicas graves e irreversíveis, fazendo com que a prevenção seja a melhor estratégia na abordagem do acidente por submersão.”, frisa a dra. Tânia.

O DC de Segurança da SBP também orienta sobre O QUE FAZER:

  • Mantenha ambientes seguros, com balde, bacias, tanques, fora do alcance de crianças menores de 5 anos;
  • Mantenha tampas de vasos sanitários sempre abaixadas, de preferência com travas específicas;
  • Ensine a criança a não fazer brincadeiras arriscadas na água, como “dar caldo”, não fingir afogamento, e não nadar sozinha;
  • Instale barreiras que controlem o acesso a reservatórios, como cercas em torno de piscinas (com 1,5m de altura e 12 cm de distância entre as grades) com portão que possa ser fechado com chave ou cadeado;
  • Prefira escolas e creches, sem piscinas ou lagos, para crianças menores de 6 anos;
  • Ensine crianças a nadar (de preferência maiores de 6 anos, segundo a OMS) e a tomar condutas seguras na água. Escolha escolas de natação com professores qualificados;
  • Aprenda e treine as pessoas responsáveis por cuidar das crianças (babás, etc.) a nadar, a resgatar de forma segura em caso de afogamento e a realizar manobras de reanimação, caso necessário;
  • Ensine crianças a respeitarem as placas de proibição de praias e piscinas e sempre seguir as orientações do salva-vidas;
  • Tenha sempre anotado, e à mão, o telefone para emergências do Corpo de Bombeiros (193) e do Samu (192);
  • No mar, fique longe de correntes. Saiba identificar as temidas correntes de retorno: água marrom (ocasionada pela agitação de areia), água mais escura, pois nesse local está mais fundo, lugares no mar onde as ondas são menos frequentes, local onde existem o encontro de duas ondas, onde as ondas quebram menos, onde tem menos espuma, etc.
  • No caso de ser pego por uma corrente, mantenha a calma. Erga as mãos para chamar a atenção do salva-vidas. Tente nadar paralelamente à praia ou flutue e deixe a corrente te levar enquanto chama a atenção do salva-vidas.

(Com informações da BBC News)*