Estudo recente feito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) confirmou que o aleitamento materno contribui para o menor risco de obesidade na vida adulta. Publicado neste mês no periódico Scientific Reports, a pesquisa, conduzida pelo professor dr. Bernardo Horta, do Centro de Epidemiologia da UFPel, mostrou que pessoas que foram amamentadas na infância têm menor risco de sofrer com sobrepeso e obesidade com o passar dos anos.
Para a presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Elsa Giulgliani, o estudo, que utilizou os dados da coorte de Pelotas de 1982, trouxe novos conhecimentos, que ajudam a explicar a associação entre o sobrepeso ou obesidade e o aleitamento materno.
“Embora o estudo não tenha encontrado associação entre duração da amamentação e índice de massa corporal ou prevalências de sobrepeso/obesidade aos 30 anos, foi observado que uma maior duração do aleitamento materno estava associada a um maior índice de massa magra e menor gordura visceral”, comenta.
Para a especialista, os resultados da pesquisa reforçam a hipótese de que a programação do controle da saciedade é um dos possíveis mecanismos envolvidos na associação entre aleitamento materno e obesidade. “Esse efeito já havia sido observado em crianças e adolescentes, mas nunca em adultos, mostrando que o impacto positivo do aleitamento materno na saúde dos indivíduos pode persistir por toda a vida. Estudos como este só reforçam a importância de se promover, proteger e apoiar o aleitamento materno, ações que se encontram entre as prioridades da SBP”, destaca.
PRINCIPAIS RESULTADOS – Depois de acompanhar 3,7 mil indivíduos desde o nascimento, em 1982, até a vida adulta, a equipe do médico Bernardo Horta mostrou que crianças com maior predisposição genética ao ganho de peso — aqueles que carregam um gene chamado FTO — e que foram amamentadas por menos de um mês, tinham aumento de 33% na prevalência de obesidade, 2,5 kg/m2 a mais no índice de massa corporal (IMC) e circunferência da cintura 5,6 centímetros maior.
Por outro lado, no grupo que também tinha o genótipo FTO, mas recebeu leite materno por um mês ou mais, os indicadores caíram para 11% no risco de obesidade, 1 kg/m2 a mais no IMC e circunferência da cintura dois centímetros maior.
“Uma revisão que conduzimos há três anos mostrou que, quem é amamentado tem, em média, um risco 13% menor de ser obeso. Quando se analisa os mecanismos disso, um deles indica que a amamentação programaria o controle do apetite. Quem carrega o gene FTO e mamou pelo menos por um mês tem risco menor de obesidade, IMC maior e circunferência abdominal mais alta que aqueles que carregam esse genótipo e não foram amamentados. Logo, a amamentação moderaria o risco genético associado à obesidade”, explica dr. Horta.
Ainda que o mecanismo responsável por esse fenômeno seja desconhecido e necessite de estudos mais específicos, o que se sabe é que a proteção do alimento se estende ao longo dos anos. O tempo de amamentação também tem papel importante nessa conta.
“Vimos que, quanto mais tempo se mama, menor a espessura de gordura abdominal nos anos posteriores. Mas é importante ressaltar que a obesidade é influenciada por fatores genéticos e não genéticos, como dieta e prática de atividades físicas. Portanto, nosso estudo não sugere que portadores da versão obesogênica do gene FTO não amamentados na infância serão, necessariamente, obesos, bem como não sugere que os que foram amamentados por bastante tempo não têm risco de se tornarem obesos”, concluiu.
*Com informações do site Gaúcha Zero Hora
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