Desde a década de 1990, o ensino médico no Brasil é um tema complexo que vem gerando discussões envolvendo academia, áreas profissionais e órgãos de classe. No centro do debate, a qualidade e a adequação da formação do médico. A afirmativa é da dra. Rosana Fiorini Puccini, idealizadora da página Ensino de Pediatria na Graduação, hospedado no site da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Segundo a médica, as discussões implementadas resultaram em importantes ações por parte dos Ministérios da Saúde e Educação, as quais contribuíram para o aprimoramento e a melhor adequação dos currículos médicos, impactando positivamente a formação profissional.

Ao SBP Notícias, dra. Rosana fala sobre essa problemática que há décadas vem sendo discutida pelo Governo Federal e as instituições de ensino, em especial as particulares. A especialista fala também sobre a criação da página voltada aos estudantes de medicina e a todos que atuam e se interessam pela atenção à saúde da criança e do adolescente.

CONFIRA ABAIXO A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

SBP NOTÍCIAS – Como analisa a qualidade do ensino médico nas faculdades públicas e particulares do Brasil?

Dra. Rosana Puccini – Essa questão é bastante complexa. Acredito que o País dispõe de escolas médicas de excelência e, também, de escolas que necessitam de aprimoramento. Vale lembrar, que desde os anos 1990, há um movimento importante, envolvendo a academia, áreas profissionais, órgãos de classe, que questiona a qualidade e a adequação da formação do médico, sobretudo considerando-se as importantes mudanças ocorridas nos serviços de saúde, com destaque à criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Desse movimento, resultaram importantes políticas adotadas pelos Ministérios da Saúde e da Educação, as quais efetivamente contribuíram para o aprimoramento e melhor adequação dos currículos médicos, impactando positivamente a formação profissional.  Por outro lado, recentemente, houve uma ampliação significativa do número de escolas médicas no país, sobretudo privadas, estimulada por ações governamentais. O que se observa, é que as instituições responsáveis pela grande maioria dos novos cursos médicos apresentam diferentes estruturas, bem como diferentes metodologias de ensino (problematização, ensino baseado em problemas - PBL, aprendizagem baseada em equipes – TBL, para citar características bastante comuns a estes novos cursos). Em relação ao ensino prático, também há diferentes modelos e a inserção do aluno conta com formatos e arranjos também diversificados em relação à preceptoria – supervisão realizada apenas pelo profissional do serviço, apenas pelo professor ou por ambos.

SBP NOTÍCIAS – Acredita em um modelo único para a formação prática do médico? Qual sua opinião sobre o papel do preceptor nesse processo?

Dra. Rosana Puccini – Ressalte-se que a preceptoria tem um papel importante na formação, pois marca uma atuação não apenas técnica, de desenvolvimento do raciocínio clínico e da capacidade de estabelecer a correlação teoria-prática e tomar decisões diante de situações reais, mas principalmente um modelo em relação à ética profissional, a uma visão de mundo e de compromisso com a sociedade. Portanto, é ponto essencial na formação. Dessa vivência, resultam escolhas que podem impactar significativamente a vida do profissional. Essa diversidade de modelos de ensino deve ser considerada positiva e pode favorecer a produção de conhecimento e o desenvolvimento de experiências inovadoras. Não precisamos ter um único modelo no país. Mas é necessário acompanhamento e avaliação, sempre, de forma permanente. Esta não é uma questão discutida somente em nosso País. A formação do médico é tema de encontros, de congressos, aqui e no mundo, pois há o reconhecimento da complexidade desse processo pela área acadêmica e pelos gestores dos serviços de saúde.

SBP NOTÍCIAS – Qual o objetivo da página Ensino de Pediatria na Graduação? Por que foi criada?

Dra. Rosana Puccini – O objetivo da página é criar um espaço de discussão sobre o ensino de pediatria no País, diante de enormes desafios que têm se apresentado nos últimos anos, tanto no que se refere às mudanças relacionadas às novas demandas e necessidades em saúde de crianças e adolescentes, quanto àquelas relacionadas à organização dos serviços, sobretudo do sistema público de saúde.

SBP NOTÍCIAS – A página é voltada somente para graduandos em medicina?

Dra. Rosana Puccini – A página é voltada para todos que atuam e se interessam pela atenção à criança e ao adolescente – profissionais de saúde, educadores, docentes de pediatria, médicos residentes de pediatria e, também, aos graduandos em medicina, uma vez que os temas a serem abordados permitirão uma aproximação e um aprofundamento das grandes questões da formação do pediatra. É um estímulo à reflexão e ao desenvolvimento de um pensamento sobre o que é ser médico, ser pediatra e sobre diretrizes para formação de um profissional com competências para atuar junto a crianças, adolescentes e suas famílias.

SBP NOTÍCIAS – Quais os desafios da prática médica?

Dra. Rosana Puccini – É necessário, sempre, reconhecer as dificuldades e os novos desafios na formação profissional para que possamos propor redirecionamentos, aprimoramento, atualização. As mudanças epidemiológicas, o surgimento de novas demandas em saúde (como, por exemplo, ocorreu com a infecção pelo vírus da Zika), têm sido muito rápidas e exigem respostas. Ao mesmo tempo, a incorporação da tecnologia pressiona os serviços de saúde e os profissionais. Portanto, a boa formação e o desenvolvimento da capacidade crítica e de autoaprendizagem são essenciais para uma prática médica humana, responsável e que busca o melhor para o paciente e sua família, contribuindo verdadeiramente para nossa sociedade.

Conteúdos relacionados no portal:

SBP cria site que aproxima Pediatria dos estudantes de graduação em medicinahttp://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sbp-cria-site-que-aproxima-pediatria-dos-estudantes-de-graduacao-em-medicina/