Elaborada por alunos da primeira série do Ensino Médio da Escola Viva, a Carta de São Paulo apresenta uma síntese da experiência adquirida pelos adolescentes após os debates do “Fórum sobre Adolescência: fortalecendo as famílias”, realizado em paralelo ao 15º Congresso Brasileiro de Adolescência, em São Paulo (SP). O documento tem como foco destacar questões relacionadas ao impacto da internet e novas tecnologias no comportamento e vida diária dessa faixa etária.
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Conforme destaca o texto, a percepção dos jovens aponta para a comunicação como um dos pontos mais relevantes, positivos ou negativos, advindos da relação com o mundo digital. Exemplos disso são os aplicativos de mensagens e as redes sociais, que promovem a construção de novas conexões em função de sua velocidade e facilidade de acesso. Ao mesmo tempo, no entanto, estimulam o isolamento em detrimento dos encontros interpessoais.
“Em excesso, o uso do entretenimento virtual pode causar problemas como a dependência ao mundo digital e consequentemente reclusão social, sendo necessária uma maior conscientização sobre o autocontrole e correta utilização da tecnologia, seja por parte de jovens ou adultos, afinal de contas os filhos não fazem apenas o que os pais mandam, mas também os imitam”, descreve a Carta.
O documento também ressalta um perigo muito comum nas redes: o de compartilhar vivências apenas com aqueles que possuem gostos e opiniões semelhantes. Essa tendência de comunicação em “bolhas sociais” pode repercutir negativamente na conduta dos jovens, uma vez que eles não adquirem a variedade de referências necessária para a construção da uma personalidade capaz de aceitar diferenças e conviver de modo harmônico.
“Esse isolamento cria um hábito de respostas violentas a qualquer oposição. Para o enfrentamento do problema, deve ser proposto o exercício de ouvir e buscar opiniões diversas para descontruir imaginários preconceituosos. Mais controle dos pais não representa necessariamente uma resolução”, afirma o texto.
OPORTUNIDADE – De acordo com a presidente do Departamento de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Alda Elizabeth Azevedo, a publicação representa uma iniciativa pioneira da entidade de acolher as demandas e percepções dos próprios adolescentes acerca das questões que envolvem a sua saúde e bem-estar.
“Bom seria se pudéssemos ampliar essa ação iniciada no 15° Congresso Brasileiro de Adolescência e estimular a reflexão entre os próprios jovens em mais lugares do País. O acompanhamento e cuidado com o adolescente brasileiro precisa ser assumido como uma prioridade pelos pediatras e a população em geral”, enfatizou.
Segundo a dra. Evelyn Eisenstein, do Grupo de Trabalho Criança, Adolescente e Natureza, as indicações da Carta de São Paulo apontam para questões modernas de saúde, que não são resolvidas apenas pela tradicional assistência em consultório ou ambulatorial. Os problemas têm propriedades mais abrangentes, de caráter sociocultural.
“O acesso ao mundo digital traz diferentes benefícios, mas também riscos gravíssimos. Os pais devem monitorar o tempo de utilização de celulares e computadores e sobretudo a qualidade do conteúdo que seus filhos acessam. A ética e segurança digital também são temas que devem ser trabalhados em diálogos, inclusive pelas escolas. Além disso, é fundamental estimular um reencontro dos jovens, excessivamente conectados, com o meio-ambiente, o que resulta na prática de exercícios e mais possibilidades de socialização”, recomendou a especialista.
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