Como o pediatra pode ajudar a aumentar o nível de confiança das vacinas em crianças e adolescentes?

A pandemia de covid-19 amplificou a relevância do debate sobre a vacinação mundial para a contenção da crise sanitária. Por outro lado, também descortinou a descrença de parte da população em relação à ciência e à mídia. Esse fenômeno integra a atual dinâmica social que reforça a busca pela informação baseada mais nas preferências pessoais ou de grupos específicos do que pela checagem dos fatos e confiança nas instituições científicas.

No contexto da saúde pública, trata-se de algo preocupante para a gestão e o controle daquelas doenças que podem ser contidas por meio das vacinas. Diante desse panorama, como o pediatra pode agir diante de tanta desinformação na internet e quais são as recomendações para a abordagem do tema com pais, responsáveis e cuidadores? É sobre isso que trata o novo documento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), elaborado pelo Departamento Científico de Imunizações sob a coordenação do dr. Renato Kfouri.

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Segundo o Ministério da Saúde, os índices de cobertura vacinal entre crianças são os mais baixos da história do Brasil. Esses dados começaram a cair a partir de 2014. O fato mostra que hoje a preocupação das pessoas está mais focada nas vacinas do que nas doenças em geral. “Descrente, desconfiada e ávida por informação, a população se torna presa fácil de movimentos antivacina e de fake news compartilhadas em redes e grupos sociais, receita para a crescente hesitação de vacinar a si e aos seus”, aponta o documento. 

Para os especialistas, não vacinar é uma escolha perigosa, que coloca não só as crianças em risco, mas também os que estão ao seu redor, podendo inclusive provocar a volta de doenças já controladas no passado. Por isso, o direito à saúde envolve também políticas adequadas de comunicação e informação que reforcem a segurança e eficácia dos imunizantes apoiadas em evidências científicas.

PAPEL DO MÉDICO – Entre as recomendações, a SBP destaca que, para além da prescrição de vacinas, o pediatra também deve saber ouvir as preocupações dos pais e responsáveis e dar respostas simples e diretas sobre a importância, benefícios e segurança da vacinação dos filhos.

“Precisamos estar preparados para responder às ansiedades e às dúvidas das famílias. Para isso, muitas vezes, é importante pesquisar a veracidade da informação recebida e dar o suporte necessário para tranquilizá-las. O pediatra tem papel indispensável para orientar os pacientes e as famílias sobre vacinação e bons hábitos”, explica. 

No contexto pandêmico, os pediatras indicam ainda a necessidade de estabelecer estratégias proativas na indicação de fontes seguras de informação sobre vacinação. “Notícias falsas têm um potencial de difusão mais poderoso em comparação com informações precisas de qualquer categoria e no tema vacinas, simplesmente concentrar-se na informação defensiva pode não ser suficiente; precisamos desenvolver uma comunicação de valores e expectativas que pode alavancar emoções e adesão às imunizações”, realçam os especialistas.

Além do dr. Kfouri, participaram da elaboração do documento os drs. Tânia Petraglia (secretária), Eduardo Jorge Lima (relator), Helena Sato, Heloisa Ihle (relatora), Solange Dourado (relatora), Sonia Maria de Faria (relatora), Ricardo Queiroz e Maria do Socorro Martins. Também contou com a colaboração da dra. Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).