Consulta do Adolescente é tema de novo documento científico da SBP

Muitos adolescentes vão à consulta médica contra a própria vontade e, por isso, reagem com silêncio ou gerando conflitos, o que requer certa habilidade do profissional no manejo de cada situação. Foi pensando neste contexto que o Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou nesta semana o Manual de Orientação “Consulta do Adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais como instrumentos ao pediatra”. Segundo o documento, os adolescentes compõem um grupo heterogêneo de indivíduos e que necessita de um olhar atento às diferenças individuais.

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Seja qual for a situação, de rotina ou de emergência, os especialistas recomendam que a consulta do adolescente deve ser sempre cordial, para que os pacientes se percebam valorizados e participativos, exercendo sua proatividade. “No momento da consulta, o profissional vai ao encontro das problemáticas, dos anseios e frustrações do adolescente, sendo altamente recomendável evitar julgamentos de valores para que se estabeleça uma relação de confiança, o que não impede de realizar as intervenções pertinentes”, ponderam os especialistas da SBP.

Para eles, o pediatra deve atuar como um mediador, apaziguando conflitos e dirigindo-se ao paciente de forma empática, assertiva e sincera, para esclarecer dúvidas e orientar. A recomendação diz que, no início do primeiro encontro, deve-se pontuar que a pessoa central da consulta é o adolescente, deixando claro seus direitos ao sigilo, privacidade, confiabilidade, porém alertando quanto aos limites das questões éticas, tanto para o cliente quanto seus responsáveis.

O Manual destaca ainda que as novas formas de comunicação na era da informática – como as mensagens instantâneas feitas via WhatsApp, Messenger do Facebook, FaceTime, Skype, dentre outros – facilitam a comunicação rápida entre o médico e o paciente, mas é preciso utilizá-las seguindo cuidados e adotar o que dispõe o Código de Ética Médica.

PRINCIPAIS QUEIXAS – De acordo com o documento, as queixas de adolescentes atendidos em ambulatório abrangem enorme espectro, demandando grande atenção daqueles que se propõem a atendê-los. Entre as reclamações mais comuns estão aquelas relacionadas ao crescimento ao desenvolvimento – baixa estatura, puberdade precoce ou antecipada, ginecomastia – excesso de peso, Síndrome Metabólica, transtornos alimentares (anorexia, bulimia, vigorexia), dores recorrentes, acnes, entre outros.

As questões de saúde mental também estão cada vez mais frequentes – quadro depressivo, fóbicos, ansiedade, autoagressão, ideação suicida. “Importante sempre ter em mente as oportunidades de prevenção em todos os casos, especialmente quanto à saúde reprodutiva e sexualidade, uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas, dificuldades de escolaridade, relacionamento abusivos, inclusive no namoro”, observam os especialistas.

De acordo com o Manual, para o bom acompanhamento e maior resolutividade dos casos, o atendimento em equipe multi e interdisciplinar é fundamental, em serviços que os disponibilizem. A equipe pode ser constituída por pediatras gerais ou com formação em Medicina do Adolescente, assistentes sociais, enfermagem, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras e outros profissionais voltados a adolescentes.

DIREITOS – O documento também destaca os direitos dos adolescentes de receber atenção em toda a rede de saúde, sem discriminação em razão de alguma deficiência física, mental, sorológica (HIV/AIDS) ou por classe social, etnia, cor, orientação sexual, identidade de gênero e estilo de vida. Os adolescentes também têm o direito de receber informações sobre qualquer aspecto relacionado com sua sexualidade e saúde reprodutiva.

“Orientados por profissionais de saúde, inclusive o pediatra, podem e devem decidir pela escolha de métodos contraceptivos adequados para essa fase, para o exercício de uma vida sexual saudável e responsável”, diz o manual de orientação.

EXAME FÍSICO – O exame clínico completo é apontado no documento como um dos pilares do processo de diagnóstico e tratamento, e uma forma de avaliar objetivamente as queixas do adolescente. Exige absoluta privacidade, local adequado, se possível em sala próxima à da anamnese. “Torna-se prudente, e recomendável, a presença de uma terceira pessoa, que pode ser alguém da área da saúde ou, se o adolescente preferir, de sua estrita confiança. O exame deve ser realizado com a máxima discrição e a sua explicação prévia do passo a passo é importante para tranquilizar e diminuir temores”, ressalta.

O exame físico também funciona como boa oportunidade de o profissional abordar temas educativos, como, por exemplo, a orientação do autoexame das mamas, avaliação do genitais e pilificação. No caso de adolescentes masculinos, orientar quanto à importância de avaliar a consistência e tamanho de seus testículos, como também a eventual presença de ginecomastia.

“Cabe destacar que muitos profissionais, por dificuldades pessoais, falta de treinamento ou por constrangimento, optam por não realizar o exame físico completo, resultando em oportunidades perdidas no diagnóstico de problemas de saúde, que podem ser de suma importância tanto para o momento atual quanto para a vida futura do adolescente”, frisam os especialistas do DC de Adolescência da SBP.

Participaram da elaboração do documento os drs. Alda Elizabeth Boehler Iglesias Azevedo; Evelyn Eisenstein; Beatriz Elizabeth Bagatin Veleda Bermudez; Elizabeth Cordeiro Fernandes; Halley Ferraro Oliveira; Lilian Day Hagel; Patrícia Regina Guimarães e Tamara Beres Lederer Goldberg. Colaboraram as dras. Anapaula C. Bisi Rizzo; Anna Elizabeth de Miranda; Darci Vieira da Silva Bonetto; Mariângela de Medeiros Barbosa e Rosangela Barbiani.