Para discutir as possíveis influências da quarentena pelo COVID-19 sobre as crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Departamento Científico de Neurologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou nesta sexta-feira (17) a nota de alerta “COVID-19 e Transtorno do Espectro Autista”. O documento visa orientar os pediatras para alguns manejos emergenciais.
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Manter as crianças em isolamento, mas ao mesmo tempo conectadas com a escola, os amigos e os familiares, pelas mídias eletrônicas e sociais tem sido um grande desafio para os pais de forma geral. Um olhar especial deve ser focado em crianças acometidas por transtornos do desenvolvimento, que por suas dificuldades geralmente necessitam de uma ampla gama de suporte multiprofissional, em grande parte suspensa durante este período de isolamento social.
“É importante ressaltar que crianças com TEA não fazem parte de população de risco para complicações e morte por COVID-19. Exceto aqueles que possuem comorbidades clínicas tais como diabetes, alterações imunológicas, ou outras doenças crônicas prévias. Entretanto, elas possuem risco aumentado de contágio, em função da hiper-reatividade sensorial (exploração pelo olfato – cheirar - colocar na boca e tocar objetos)”, destaca a nota de alerta da SBP.
O documento observa ainda que as mudanças de rotina impostas pela quarentena, como o convívio íntimo das famílias num mesmo ambiente, que muitas vezes é restrito, pode causar sofrimento adicional às crianças com TEA. Adicionalmente a necessidade de intensificação de hábitos de higiene, que pode não ser compreendida, e a quebra na rotina das terapias poderiam corroborar com a exacerbação dos sintomas comportamentais.
SONO – Outro aspecto que pode ser impactado pelas restrições de mobilidade é o sono. Estudos epidemiológicos indicam que crianças com TEA têm alterações significativas na qualidade e organização do sono quando comparadas a crianças normotípicas pareadas por idade/sexo. Distúrbios do sono acometem em torno de 50% a 80% desta população. Evidências científicas sugerem que variações nas vias de duas enzimas dos genes da melatonina podem estar alteradas no TEA e levariam a atraso de fase para início do sono.
Alterações no sono correlacionam-se com piora do comportamento diurno exacerbando a gravidade dos sintomas. Algumas recomendações são fundamentais para manter a qualidade do sono adequada em tempos de quarentena. São elas:
• Manter o horário consistente de dormir e acordar;
• Diferenciar atividades do dia e da noite;
• Estabelecer uma rotina de preparo ao sono evitando atividades com potencial de excitar a criança;
• Evitar telas e eletrônicos no mínimo 30 minutos antes do horário do sono;
• Evitar lanches pesados e bebidas com cafeína à noite (chá, café, achocolatados, refrigerantes); • Evitar encorajar comportamentos inadequados e barganhas na hora do sono;
• Oferecer reforço positivo quando as metas estabelecidas para um bom sono forem cumpridas.
ORIENTAÇÕES – O documento da SBP traz ainda algumas orientações para serem seguidas por pais ou cuidadores durante a pandemia da COVID-19. São elas: explicar à criança sobre o que é a doença, considerando na explicação a capacidade de compreensão; explicar regras de higiene e etiqueta respiratória explorando desenhos, ilustrações, dentro do nível de compreensão da criança; fazer um planejamento fixo da rotina diária dentro de casa com horários prevendo atividades diversa. É importante ainda estimular as atividades de interesse da criança livros, brinquedos especiais, jogos, filmes/vídeos.
Para aqueles com funcionamento mais alto, manter dentro do possível as terapias online (na dependência da oferta dos profissionais que já trabalham com esta criança). Aos que frequentam escola é importante manter o contato com esta e seguir as propostas de atividade que estão sendo desenvolvidas, além de manter contato com o seu Pediatra/Neurologista para esclarecimento de dúvidas e eventuais ajustes de medicações.
“Sabemos do desafio que pais de pacientes com TEA estão passando neste momento e com este documento científico trazemos algumas referências para auxiliar o pediatra no auxílio e orientação das famílias”, finaliza o documento da SBP.
Confira todas as orientações da SBP sobre a COVID-19 em https://www.sbp.com.br/especiais/covid-19/
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