O Departamento Científico de Pneumologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou, nesta quinta-feira (02), o documento científico “COVID-19 em crianças: envolvimento respiratório”. Por meio de perguntas e respostas, os especialistas esclarecem as principais dúvidas dos pediatras no atendimento às crianças infectadas pelo novo coronavírus sobre os sintomas, diagnóstico, fatores de risco, tratamento e recomendações.
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Quanto aos sintomas, por exemplo, o documento ressalta que os estudos até agora levantam algumas hipóteses para explicar a situação peculiar das crianças: os sistemas de imunidade celular e humoral das crianças são menos desenvolvidos e sem capacidade de resposta inflamatória exacerbada. Informam, no entanto, que mais estudos são necessários para explicar porque as crianças são menos susceptíveis à agressividade do coronavírus.
A COVID-19 pode apresentar diferentes síndromes clínicas de gravidades variadas. As decisões terapêuticas, solicitação de exames e suporte ventilatório, são baseadas nesta avaliação. “A avaliação clínica deve ser objetiva, focando na avaliação do padrão respiratório, buscando sinais de desconforto respiratório, ausculta pulmonar, além de verificar saturação de oxigênio e sinais de toxemia”, ressalta o documento.
QUADROS CLÍNICOS – A SBP explica que o quadro clínico da COVID-19 pode ser leve, moderado, grave ou crítico. Nos quadros leves há acometimento das vias aéreas superiores, com sintomas inespecíficos como febre, fadiga, tosse (produtiva ou não), anorexia, mal estar, dor muscular, dor de garganta, congestão nasal ou cefaleia. Alguns casos podem não apresentar febre e, sim, sintomas gastrintestinais, como diarreia, náuseas e vômitos.
O quadro moderado é caracterizado por pneumonia sem complicações, ou seja, infecção do trato respiratório inferior sem sinais de gravidade. Há febre (mais frequente), tosse ou dificuldade respiratória e taquipneia, ainda sem hipoxemia. Alguns podem se manifestar sem sinais e sintomas clínicos de gravidade, mas apresentam tomografia computadorizada de tórax alterada com a presença de lesões pulmonares.
Quando houver evolução para uma pneumonia grave, com tosse ou dificuldade em respirar, além de pelo menos um dos sinais como cianose central ou SpO2 < 90% a 92%; sinais de angústia respiratória (por exemplo, grunhidos, tiragem grave); e sinais sistêmicos de alerta como incapacidade de amamentar ou beber, letargia, inconsciência ou convulsões; o caso é classificado como quadro grave.
Os quadros críticos são caracterizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com comprometimento comprovado da oxigenação. São ainda considerados quadros críticos aqueles que evoluem para choque, encefalopatia, lesão miocárdica e insuficiência cardíaca, distúrbios da coagulação e lesão renal aguda. As disfunções dos órgãos representam risco de morte.
DIAGNÓSTICO – A comprovação se baseia em dados laboratoriais, cujo principal exame para o diagnóstico de infecções por CoVs é a reação em cadeia da polimerase em tempo real (PCR-RT) de secreção da via aérea superior ou inferior; e radiológicos, sendo que as manifestações radiológicas de tórax na fase inicial da COVID-19 na infância podem inexistir ou serem discretas à radiografia simples. “O emprego de tomografia computadorizada de tórax (TC) no início da doença é controvertido, pois as alterações podem ser semelhantes às de outras viroses respiratórias, portanto incaracterísticas. Na prática será indicada para os que evoluírem para gravidade e internação. Além disso, muitos locais não possuem aparelhos de TC o que limita seu emprego na prática clínica”, destaca trecho do documento escrito pelos especialistas do DC de Pneumologia da SBP. A entidade frisa que há uma preocupação internacional com o uso excessivo da TC em crianças, pois pode trazer danos futuros pela radiação ionizante (no país faltam aparelhos com baixa radiação). Além disso, pode propiciar a contaminação de profissionais de saúde e de outros pacientes devido ao uso do equipamento.
CUIDADOS – Alguns passos devem ser seguidos ao atender a criança com quadro respiratório neste momento, onde a transmissão comunitária do novo coronavírus já está estabelecida. Inicialmete deve-se orientar o paciente suspeito, que deve receber uma máscara cirúrgica e ser direcionado para a área reservada para os atendimentos dos quadros suspeitos, com salas de atendimento isoladas e bem ventiladas.
Não sendo possível individualizar o atendimento, os casos suspeitos devem ser agrupados na mesma sala, respeitando o mínimo de um metro de distância entre os leitos. Os profissionais devem utilizar os equipamentos de proteção individual (EPIs) para evitar a exposição às gotículas em aerossol, com proteção ocular (por óculos de proteção) ou proteção facial (“escudo de proteção”, face shield), roupas limpas, não estéreis, de mangas compridas e luvas. E para as precauções de contato, orienta-se a limpeza adequada das superfícies e de equipamentos como estetoscópios e manguitos que quando possível devem ser individualizados.
FATORES DE RISCO – Crianças menores de dois anos, com doenças pulmonares crônicas, como asma não controlada e fibrose cística, cardiopatia, diabetes mellitus, insuficiência renal e imunossupressão, têm maior chance de desenvolver quadro grave pelo novo coronavíurs e desenvolver síndrome respiratória aguda grave (SRAG) ou deterioração clínica.
O documento da SBP também traz um fluxograma com o tratamento para pacientes com sintomas respiratórios agudos com ou sem febre e algumas recomendações quanto ao uso de medicamentos, destacando ainda que o calendário vacinal deve ser rigorosamente obedecido, com ênfase nas vacinas da Influenza e antipneumocóccica.
Confira todas as orientações da SBP sobre a COVID-19 em https://www.sbp.com.br/especiais/covid-19/
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