Criador da nova logomarca da SBP conta como foi o processo de criação da identidade visual

A identidade visual renovada da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) foi lançada na última quinta-feira (13) como um presente de Fim de Ano para os associados da entidade. A nova logomarca – atualizada e moderna – reflete o trabalho histórico da pediatria no Brasil.

Em entrevista ao SBP Notícias, o designer Ralf Korbmacher*, idealizador da nova logo da SBP, diz que as marcas hoje se entendem como bens coletivos. No caso de uma entidade associativista, essa propriedade é literal. “O desafio é garantir que não só a direção eleita — que trabalhou no processo estratégico e na seleção das expressões criativas — se veja representada no resultado final, mas também 40 mil pediatras brasileiros.

Ele ressalta que a marca da SBP não é para vender um produto ou serviço — ainda que, em algumas circunstâncias, o faça. “É uma marca para representar um ideário coletivo, uma razão de ser”, observa.

Ralf fala ainda sobre as descobertas da magnitude do pediatra durante o processo de desenvolvimento da nova marca e quais os cuidados os pediatras deverão ter para preservar esse novo patrimônio da instituição. Leia a seguir a entrevista na íntegra.

SBP NOTÍCIAS – Qual foi o grande desafio no processo de redefinição da logomarca da SBP?

Ralf Korbmacher – As marcas hoje se entendem como bens coletivos. No caso de uma entidade associativista, essa propriedade é literal. O desafio é garantir que não só a direção eleita — que trabalhou no processo estratégico e na seleção das expressões criativas — se veja representada no resultado final, mas também 40 mil pediatras brasileiros. A marca da SBP não é uma marca para vender um produto ou serviço — ainda que, em algumas circunstâncias, o faça. É uma marca para representar um ideário coletivo, uma razão de ser. Esse é, na minha opinião, o maior desafio num processo dessa natureza.

SBP NOTÍCIAS – O que o senhor descobriu durante o processo sobre a instituição que mais o marcou?

RK – Descobri a magnitude da responsabilidade do pediatra. São agentes que buscam garantir a cada indivíduo, na idade que mais importa, uma oportunidade para florescer como ser humano. E que, para que isso seja possível, têm que trabalhar também com os adultos implicados na construção desta oportunidade. Eu não conheço profissão com responsabilidade maior.

SBP NOTÍCIAS – A nova logomarca foi construída de forma a destacar a importância da união de esforços em prol de objetivos comuns. Como isso aparece na representação?

RK – Aparece nos “Ps” com múltiplos estilos tipográficos, que juntos configuram um “P maior”. O importante é que cada “P” tem, por assim dizer, personalidade própria. A SBP é um reflexo em grande escala da família como unidade-base da sociedade — ou “tecnologia social” com milênios de êxito, como foi discutido nas sessões de trabalho. Tal como acontece nas famílias, por mais que haja valores e propósitos compartilhados — e, às vezes, material genético —, cada integrante é um indivíduo com personalidade, aspirações e inquietudes próprias. O objetivo foi celebrar essa aparente contradição. É uma tensão positiva que argumenta que a diversidade de um coletivo pode ser mais eficaz na consecução de (grandes) objetivos comuns que um coletivo no qual a individualidade é eliminada ou omitida do discurso ou representação. Acredito que essa mensagem de "integração na diversidade" é importante nos tempos que correm — não só no Brasil, mas no mundo todo — e para o futuro que nos espera.

SBP NOTÍCIAS – O projeto aprovado é uma ruptura e um sinal de continuidade com respeito ao acumulado pela instituição ao longo das décadas?

RK – Acredito que é uma ruptura no sentido de que deixou de representar o óbvio — a família no símbolo anterior, ou mesmo o bebê do Hospital dos Inocentes, no primeiro logo da entidade. A continuidade vem justamente pela transformação do “óbvio em inusitado” (Dante), visto que o conceito de família foi traduzido como pedra angular — a nível conceitual — da marca. É a família dos que cuidam das famílias. Ao invés de representar o núcleo familiar, representa-se o conceito da família de pediatras com o motif dos Ps — um motif, por sinal, que pode estender-se ad infinitum. Nesse sentido, acredito que representa não só continuidade (e expansão), mas perspectiva para um futuro no qual os associados se sintam mais representados na marca e cada vez mais integrados à “família de pediatras".

SBP NOTÍCIAS – Essa representação passa a compor o patrimônio da SBP. Como fazer para preservá-lo? Quais os cuidados que devem ser observados?

RK –Todo trabalho de desenvolvimento de marca inclui recomendações quanto aos conceitos subjacentes e às precauções a observar na aplicação verbal e gráfica da marca. Mas não são receitas, são orientações. As grandes marcas são construídas com doses equilibradas de repetição — para fixar os conceitos mais importantes, estabelecer a identidade, garantir o reconhecimento da entidade através do material visual, do tom-de-voz, etc — e renovação. O importante é nunca perder de vista os princípios e as ambições que fundamentaram a proposta aprovada, e deixar que o talento daqueles que vão “educar” e “vestir” essa nova “criança" — a nova marca — proporcione as melhores oportunidades para que ela se torne muito mais do que todos possamos imaginar hoje.

SBP NOTÍCIAS – Qual a sua mensagem para os pediatras sobre essa novo logomarca?

RK –Gostaria de reforçar a importância do conceito de família. Durante uma das sessões de trabalho, saiu o gesto de um abraço. A partir daí, fechou-se o círculo por associação, na família. Agora parece óbvio, mas as melhores ideias-força são mesmo assim. Espero que a mensagem seja tão contagiante entre os pediatras brasileiros como foi para nós que estivemos diretamente implicados no processo. Espero também que os associados venham a sentir-se parte de uma grande família. Foi uma honra e um prazer trabalhar com a direção da SBP, e espero que esses sentimentos sejam também evidentes no trabalho realizado.

*Ralf Korbmacher é um Arquiteto de Identidades criado e formado no Brasil. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela USP, desenvolveu sua carreira como criador de marcas em grandes multinacionais de branding e publicidade, trabalhando nas Américas, na Europa e no Oriente Médio com marcas de entidades como Bradesco, Barclay’s, Abril, Telefónica, Verizon, Holcim, Austrian Airlines, Chevron, Repsol, Carrefour, Mubadala, Emaar e Etihad Railways; de equipes como Real Madrid e Atlético de Madrid; e de cidades como Madrid e Saadiyat. Ralf vive atualmente em New York, mas trabalhou com a Diretoria da SBP em São Paulo e no Rio de Janeiro no desenvolvimento da nova marca.