Crianças e adolescentes que trocam brincadeiras pelo teclado enfrentam ameaças da inatividade pediátrica, alerta SBP

Crianças e adolescentes hoje dominam teclados de computadores e smartphones com mais facilidade do que o simples ato de arremessar uma bola. A crescente desconexão com atividades físicas, aliada a hábitos que favorecem a obesidade, trouxe à tona um desafio nos consultórios pediátricos: a Tríade da Inatividade Pediátrica (TIP). Essa tríade é definida pelo transtorno de déficit de exercício, dinapenia pediátrica e falta de habilidade física ou motora. Em um alerta nacional sobre o problema, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) destacou sua preocupação por meio do recém-lançado documento "Os Riscos do Analfabetismo Físico de Crianças e Adolescentes: A Tríade da Inatividade Pediátrica".

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Especialistas do Grupo de Trabalho em Atividade Física da SBP apontam que a TIP é uma condição ainda emergente e pouco explorada, vista como um precursor para futuras doenças. Eles explicam que o problema é caracterizado pelos seguintes componentes: transtorno do déficit de exercício, relacionado a níveis de atividades físicas menores do que as recomendadas pelos órgãos públicos de saúde como a OMS; dinapenia pediátrica, caracterizada por baixos níveis de força e potência musculares além de limitações funcionais secundárias; e analfabetismo físico ou motor,  definido como a falta de confiança, competência e motivação para se envolver em atividades físicas significativas com interesse e entusiasmo.

“O novo papel dos pediatras é identificar e orientar precocemente as crianças e adolescentes que são classificados com o transtorno de déficit de exercícios, visando prevenir doenças crônicas. Sobretudo, o pediatra deve orientar de modo sistemático sobre a orientação da atividade física regular desde as visitas iniciais aos pediatras e este ponto deve ser enfatizado junto a todas as outras orientações”, ressalta o texto.

ORIENTAÇÕES – O documento não apenas fornece diretrizes para o atendimento clínico de pacientes em consultórios pediátricos, mas também destaca a importância da participação de pais, responsáveis, educadores e instituições escolares na mudança desse cenário.

De acordo com os pediatras, a presença ativa dos pais na vida dos filhos é fundamental. Essa interação pode ocorrer em várias situações, como passar os finais de semana em atividades familiares, incentivar a prática esportiva, elogiar e motivar a criança quando ela mostra habilidade em esportes e até promover brincadeiras ao ar livre. O objetivo é reduzir o tempo que passam sentados, seja vendo TV, jogando videogame ou no computador, para menos de duas horas diárias. 

“Uma rotina ativa é fundamental para o crescimento e desenvolvimento saudáveis, incluindo aspectos cognitivos, psicossociais e motores. Converse com seus filhos sobre os benefícios da prática regular de atividades físicas. À medida que as crianças e os adolescentes compreenderem a mensagem, a adesão à prática de atividades físicas poderá ser facilitada”, pontuam os especialistas.

No ambiente escolar, sugere-se que as escolas adotem um programa renovado de exercícios terapêuticos, estruturados e inovadores, com o intuito de transformar as normas sociais e práticas habituais relacionadas à inatividade física. Esse programa deve contar com a colaboração de professores de educação física, gestores escolares e pediatras. 

Para concretizar essa proposta, a SBP recomenda a elaboração de estratégias focadas no aumento da prática de atividades físicas por crianças e adolescentes. Além disso, é importante incentivar iniciativas pedagógicas originais que engajem toda a comunidade escolar e estabelecer um sistema de avaliação recorrente das ações de promoção da atividade física, a fim de analisar sua efetividade.