O Departamento Científico (DC) de Nutrologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou um pequeno questionário para ajudar médicos e pacientes a entenderem as questões ligadas à intolerância à lactose, ou seja, a incapacidade do organismo de absorver adequadamente um dos carboidratos presente no leite (lactose).
A forma correta de tratar o problema costuma causar muitas dúvidas entre os pais. Para ajudar a sociedade a ter uma melhor compreensão sobre o tema a dra. Jocemara Gurmini, membro do DC, preparou 10 perguntas e respostas mais frequentes sobre o tema. A seguir, o leitor encontrará orientações gerais sobre o transtorno, que podem ser muito úteis.
A alergia ao leite de vaca e a intolerância à lactose são enfermidades diferentes. Na intolerância à lactose estamos falando sobre um carboidrato (lactose) que não provoca reações alérgicas, mas que por não ser absorvido de forma adequada é processado pelas bactérias intestinais formando gases e causando sintomas de desconforto abdominal, cólicas, distensão, flatulência, evacuações amolecidas, às vezes explosivas, e dermatite perineal. A alergia ao leite envolve a proteína, que, neste caso, ultrapassa a barreira mucosa do intestino delgado e chega à corrente sanguínea. Fenômenos alérgicos variados podem ocorrer, como sintomas digestivos (evacuações amolecidas, sangue nas fezes, vômitos, baixo ganho de peso) ou reações em outros aparelhos e sistemas (urticária, eczema ou, em casos mais graves, choque anafilático).
A intolerância à lactose pode ser primária, como a deficiência do prematuro; a congênita (rara); e a do tipo adulto ou ontogenética. A intolerância à lactose secundária ocorre devido a algumas doenças que levam a alterações na mucosa intestinal, alterando o tamanho das vilosidades, área onde a lactase (enzima que digere a lactose) é produzida. Tal fato pode ocorrer na doença celíaca, enterite infecciosa, desnutrição, entre outras. Outro dado importante refere-se ao fato de ser a intolerância à lactose dose-dependente, isto é, talvez pequenos volumes de leite ou derivados sejam bem tolerados. Algumas crianças toleram 1 a 2 copos de leite ao dia sem presença de sintomas. A ingestão concomitante de sólidos aumenta o tempo de esvaziamento gástrico e o trânsito intestinal, permitindo maior tempo de ação da lactose endógena. Assim, cuide para ter uma ingestão adequada de cálcio ou, caso necessário, suplementação medicamentosa. Já na alergia, um pequeno volume já é o suficiente para os sintomas aparecerem.
A quantidade de lactose necessária para desencadear os sintomas varia de indivíduo para indivíduo, dependendo da porção de lactose ingerida, do grau de deficiência de lactase e do tipo de alimento com o qual a lactose foi ingerida. Os principais sintomas são: dor abdominal, borborigmo, distensão abdominal, flatulência, diarreia aquosa explosiva, dermatite perianal, podem ocorrer desidratação e acidose metabólica em caso mais graves.
Procure avaliação médica nos casos de sintomas acima citados antes de iniciar uma dieta sem leite e derivados. Lembre-se que indivíduos com uma dieta pobre em leite e derivados e sem a substituição ou complementação adequada estão mais predispostos a desenvolverem uma mineralização óssea inadequada.
Na alergia ao leite de vaca é necessária dieta sem leite e derivados com atenção especial aos rótulos, pois o leite pode vir com outro nome, como: leite em pó, leite desnatado, leite fluído, composto lácteo, caseína, caseinato, lactoalbumina, lactoglobulina, lactulose, lactose, proteínas do soro, soro de leite, whey protein. Atenção também para medicamentos e cosméticos. Na alergia ao leite não consuma alimentos que contenham queijo, iogurte, manteiga, creme de leite, leite integral, leite desnatado, leite em pó, leite condensado, produtos preparados com leite e com derivados. Também evite produtos com aroma de queijo, sabor artificial de manteiga, sabor caramelo, sabor creme de coco, sabor de açúcar queimado. A criança que está sendo amamentada deve ser mantida com leite materno e a mãe fará a dieta, em caso do uso de fórmula infantil, esta será substituída por formulação especial com proteína hidrolisada ou aminoácidos
A primeira descrição de intolerância à lactose foi feita por Hipócrates 400 a.C. e a redução da atividade da lactase ocorre com maior frequência em alguns grupos étnicos (por exemplo: esquimós, judeus, orientais, indianos, negros) que perdem progressivamente a atividade enzimática. Sua prevalência pode variar de 10% a 90%, dependendo da etnia considerada. Postula-se que esta variação na prevalência seja decorrente da seleção natural ocorrida em povos criadores de gado leiteiro domesticado, consumidores de leite e seus derivados na dieta, com a aquisição de um traço genético dominante que perpetua a atividade da lactase após o desmame, selecionando indivíduos geneticamente habilitados a digerir a lactose. Nestes casos, ocorre a persistência de um “gene regulador”, recentemente sequenciado e localizado no cromossomo 2 (2q21), que não permite a supressão da síntese de lactase no tempo programado. Apesar desta descoberta, testes genéticos não tem função diagnóstica de intolerância a lactose e não influenciam no tratamento.
Na intolerância à lactose não existem orientações de prevenção. Já na alergia alimentar, faltam evidências de que a sensibilização inicie no período intrauterino. Até o momento, há pouca evidência de que a dieta materna durante a gestação e a lactação evitem a alergia. É importante estimular o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, e complementado até dois anos ou mais; e não retardar a introdução de alimentos sólidos e nem dos ditos “mais” alergênicos (peixe, amendoim, castanhas, ovo, etc.) visando prevenir alergias. Não há qualquer justificativa para se retardar a introdução dos alimentos sólidos após o sexto mês de vida, sob o risco de aumento da sensibilização a antígenos alimentares e possíveis manifestações de alergias, principalmente a dermatite atópica.
A quantidade de lactose necessária para desencadear os sintomas varia de indivíduo para indivíduo, dependendo da porção de lactose ingerida, do grau de deficiência de lactase e do tipo de alimento com o qual a lactose foi ingerida.
A intolerância a lactose secundária e a do prematuro são transitórias, o indivíduo volta a tolerar após um período de dieta sem o carboidrato. As demais são para toda a vida.
Não há dados quanto ao número exato de indivíduos com intolerância a lactose.
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