Dez crianças em cada mil nascidos vivos são acometidas por cardiopatia congênita


Anualmente, cerca de 130 milhões de crianças nascem no mundo com algum tipo de cardiopatia congênita. Só no Brasil, são mais de 21 mil bebês que precisam de algum tipo de intervenção cirúrgica para sobreviver e a doença acomete de oito a dez crianças em cada mil nascidos vivos. Os números foram lembrados pela presidente do Departamento Científico de Cardiologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Patrícia Guedes, que no Dia de Conscientização sobre o tema (12 de junho), lembrou do importante papel dos neonatologistas e dos pediatras na assistência às crianças com a doença.

Segundo os especialistas, existem várias malformações cardíacas congênita. Entre as mais comuns estão as comunicações interventriculares (defeito no septo que separa os ventrículos direito e esquerdo) e as comunicações interatriais (comunicação entre os átrios direito e esquerdo).

“O neonatologista é quem assiste o recém-nascido com cardiopatia logo após o nascimento, será o responsável por suspeitar de cardiopatia naqueles pacientes que ainda não têm diagnóstico do defeito cardíaco e prestará toda assistência inicial a este paciente na unidade neonatal. É ele, inclusive, que dá início às medidas de tratamento que serão decisivas para a sobrevida do bebê”, explica.

A cardiologista pediátrica diz ainda que essas recomendações são válidas tanto para o pediatra do consultório quanto das unidades de emergência. “É ele quem vai, muitas vezes, fazer a suspeita da cardiopatia e prestar a assistência inicial que será fundamental para a boa evolução dos pacientes. O pediatra será o médico que, juntamente com o cardiologista pediátrico, fará o acompanhamento em longo prazo desta criança, que não tem apenas a doença do coração”, complementa.

MORTALIDADE – De acordo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, no Brasil, o registro de óbitos relacionados à cardiopatia congênita é de 107 casos para cada 100 mil nascidos vivos, ou seja, cerca de 8% das mortes neste segmento da população. Destes, aproximadamente 30% dos óbitos ocorrem no período neonatal precoce (zero a seis dias de vida).

Segundo a dra. Patrícia Guedes, esses dados são subestimados, dada a falta de diagnóstico nos hospitais do País. As informações apontam ainda que no mundo, dos 52% de mortes na primeira infância, a cardiopatia é responsável por 40% dos defeitos congênitos, sendo uma das malformações mais frequentes e a de maior mortalidade.

“Sem dúvida existe a subnotificação da mortalidade por cardiopatia congênita no Brasil. A insuficiência de leitos em serviços de cirurgia cardíaca neonatal e pediátrica ainda causa um efeito cascata, deixando sem assistência recém-nascidos e crianças com outras doenças, que precisam de internação em UTI, cujos leitos estão ocupados por longo período por pacientes portadores de cardiopatia e estão aguardando transferência para o serviço de referência em cirurgia cardíaca pediátrica”, comenta a especialista.

LUTA HISTÓRICA – Ainda de acordo a pediatra não houve melhorias na assistência à criança com cardiopatia congênita no Brasil após a audiência pública realizada em novembro de 2016, na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), com a participação de representante da SBP. “Após o pleito, o Ministério da Saúde aumentou a remuneração de alguns procedimentos de cirurgia cardíaca pediátrica. No entanto, essa medida pouco mudou a assistência à criança com cardiopatia no Brasil”, comenta.

Em julho de 2017, como resultado de contribuições oferecidas pela SBP, o Ministério da Saúde (MS) lançou o Plano Nacional de Assistência à Criança com Cardiopatia Congênita, com a meta de ampliar a atenção a pacientes nesta faixa etária no SUS. A elaboração do plano é resultado do documento intitulado ‘Programa Nacional para o Tratamento Integral de Crianças com Diagnóstico de Cardiopatia Congênita’, produzido pelo comitê formado por representantes da SBP e também das Sociedades Brasileiras de Cardiologia (SBC), de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV) e de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI).

Segundo dr. Jorge Yussef Afiune, membro do DC de Cardiologia da SPB e que contribuiu com as propostas junto ao Ministério da Saúde para o Plano, um dos principais problemas que necessita ser avaliado é o da disponibilidade de leitos de terapia intensiva cardíaca pediátrica.

“Não há como realizar o tratamento cirúrgico das cardiopatias na criança sem uma melhor estruturação do sistema de referência e contrarreferência entre serviços terciários de cardiologia pediátrica e os serviços pediátricos de origem, especialmente nas cardiopatias graves. Há uma carência de leitos de UTI neonatal e pediátrica e cardíaca pediátrica no país. Este parece ser um ponto crítico no processo de atendimento às crianças cardiopatas em nosso país e necessita ser analisado com urgência”, ressaltou.

*Com informações da Assessoria de Imprensa do Hospital do Coração