Dificuldades e êxitos das Sociedades de Pediatria do Cone Sul são discutidos em reunião do Fospecs, no Paraguai

Representantes das Sociedades de Pediatria que compõem o Fórum das Sociedades de Pediatria do Cone Sul (Fospecs) estiveram reunidos nos dias 23 e 24 de novembro em Assunção, no Paraguai. O encontro teve como objetivo promover a integração e elaboração de estratégias para cada uma das sociedades pediátricas dos países componentes do Cone Sul, como Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. Na extensa agenda, foram discutidos os problemas atuais com a saúde da infância e adolescência.

Sobre o Brasil, o representante da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) no evento, dr. José Hugo Lins Pessoa, destacou a evolução  da saúde infantil nos últimos 50 anos, lembrando que na década de 1960 a mortalidade chegou a três dígitos (128) e, atualmente, é de 13,8 por mil nascidos vivos. Dr. Hugo também fez uma observação sobre a queda recente na cobertura vacinal, como por exemplo o sarampo. “Abordamos questões sobre o Zika Vírus, que foi algo muito significativo e com sequelas graves às nossas crianças infectadas; além das epidemias de Dengue e Chikungunya. Também abordamos a suspensão do acordo com Cuba para a atenção médica (Programa Mais Médicos) e a má formação de novos médicos em algumas escolas brasileiras”, destacou.

O representante da SBP conta ainda que foram apresentadas as atividades e experiências exitosas de cada uma das Sociedades em 2018. “Falei sobre o crescimento da SBP em todas as áreas, com suas 27 filiadas e seus 32 Departamentos Científicos. Enfatizei a educação continuada dos pediatras, cursos à distância (EAD), congressos e publicações. Além disso, os inúmeros consensos e diretrizes publicadas. Ressaltei também a política da SBP em defesa das crianças e destaquei ainda as campanhas, como a prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF). Também abordei o Programa de Residência em Pediatria de três anos. Ressaltei a atuação da atual gestão em relação à defesa profissional”, lembrou.

Outros temas também estiveram na pauta da reunião, como a situação da Associação Latino Americana de Pediatria (Alape); a discussão acerca dos conflitos de interesses e bem-estar profissional, a Síndrome de Burnout, doença que ocorre entre profissionais de diversas áreas e discutida especialmente entre os residentes de pediatria.

Na ocasião, foi proposta a criação de livro eletrônico sobre a saúde atual da infância e adolescência e as perspectivas futuras em cada país participante do Fospecs. Será discutido na próxima reunião um documento relacionado aos conflitos de interesses entre as Sociedades e as indústrias.

VENEZUELA – No encontro, também se discutiu, mediante apresentação e leitura da carta do presidente da Sociedade Venezuelana de Puericultura e Pediatria (SVPP), dr. Huníades Urbina-Medina, as graves questões de saúde enfrentadas naquele país.

“A saúde na Venezuela sofreu uma deterioração progressiva nos últimos dez anos, o que nos fez voltar pelos menos 40 anos, depois de ter sido um país líder em termos de saúde na América Latina. O percentual do Produto Interno Bruto (PIB) destinado à saúde diminuiu de 8% para apenas 3%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma vez que não temos essa informação disponível aqui na Venezuela”, diz trecho da carta.

A carta cita ainda o aumento da mortalidade infantil e o aumento da mortalidade materna. Em outro trecho, o presidente da SVPP chama a atenção para as epidemias de malária, sarampo, difteria, doenças controladas e erradicas na Venezuela e nas Américas, que estão voltando à ativa com a imigração maciça de venezuelanos para os países circunvizinhos.

“Devido à dívida não paga do Estado Venezuelano aos laboratórios, há faltas de vacinas há mais de dois anos, como a pneumocócica, o rotavírus e a anti-influenza (...) Os leitos nos hospitais diminuíram em mais de 50%; serviços de diagnóstico por imagem foram reduzidos em mais de 80%; serviços de análises clínicas estão fechados ou falham em 90% devido à falta de reagentes; 90% dos bancos de sangue não tem sorologia para processar o sangue, trazendo riscos aos pacientes; as Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica e Adulto estão com déficit de 65 a 70%; faltam insumos e comidas para os pacientes internados em hospitais; entre outras mazelas”, denuncia o presidente da SVPP.

PRÓXIMOS ENCONTROS – As próximas reuniões do Fospecs ocorrerão no Brasil e no Chile, em datas a serem agendadas.