Documento científico da SBP orienta pediatras sobre como diferenciar a anemia hipocrômica microcítica da anemia ferropriva

Nem toda anemia hipocrômica microcítica é anemia ferropriva. O alerta é do Departamento Científico de Hematologia e Hemoterapia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgado nesta segunda-feira (22) por meio de um documento científico sobre o assunto.

A anemia é uma das alterações clínico-labora­toriais mais frequentes no mundo, e um grande número de doenças podem se apresentar com he­moglobina (Hb) diminuída, sendo fundamental a determinação da causa específica, uma vez que o diagnóstico correto é pré-requisito absoluto para o tratamento e orientação adequada aos pais e familiares.

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De acordo com o documento, o diagnóstico depende de uma boa anamnese e de um exame físico cuidadoso, pois é o conjunto de ambos que permite a formulação da hipótese diagnóstica e a solicitação adequada dos exames laboratoriais. “A anemia é definida quando a concentração de Hb encontra-se abaixo do segundo desvio-padrão da média da distribuição do valor de hemoglobina para população da mesma idade e sexo, vivendo na mesma altitude”, expõem os especialistas.

SAÚDE PÚBLICA - A anemia ferropriva é considerada um dos principais problemas de saúde pública no mundo e na prática clínica pediátrica. É a anemia mais fre­quente. Ocorre quando há um desequilíbrio entre as necessidades orgânicas de ferro e a absorção do mineral, sendo a forma mais grave da carência de ferro.

“A criança, principalmente os lactentes, e as gestantes, são os grupos de maior risco para a anemia, devido ao aumento das necessidades corporais de ferro nesse período da vida. Cabe ressaltar que o recém-nascido de baixo peso e o prematuro, devido aos baixos estoques de ferro ao nascimento, apresentam maior risco de desenvol­ver a anemia ferropriva, daí a importância da su­plementação profilática de ferro para esse grupo”, explicam os especialistas.

Segundo o documento, a dieta, quando inadequada (qualitativa e/ou quantitativa), é o principal fator que causa anemia ferropriva. O saneamento básico, se inade­quado, pode proporcionar incidência elevada de infecções gastrintestinais e parasitoses. “Assim, a deficiência de ferro pode resultar da combina­ção de múltiplos fatores, tanto biológicos quanto econômicos e sociais e por isso a anamnese deve contemplar todos esses aspectos”, cita o texto.

AVALIAÇÃO – Os especialistas dizem que na história clínica deve-se avaliar anteceden­tes gestacionais, de parto, período de nascimen­to, tempo e duração do aleitamento materno e se foi exclusivo ou não, a idade da introdução de alimentos sólidos e o tipo de alimentos que com­põe a alimentação da criança.

“Considerar a pos­sível existência de outras doenças, como perdas sanguíneas agudas ou crônicas, síndrome de má absorção (exemplo: doença celíaca, doença infla­matória intestinal, doenças crônicas, neoplasias) ou até mesmo intervenção cirúrgica gástrica ou duodenal, entre outras”, enumeram.

DIAGNÓSTICOS – Os principais diagnósticos diferenciais com a anemia ferropriva são as síndromes talasssêmicas e a anemia das doenças crônicas e/ou da inflama­ção (Tabela 3). Deve ser lembrado que tanto na deficiência de vitamina A quanto na de vitamina B6, a anemia é hipocrômica.

A anemia da inflamação e das doenças crôni­cas é decorrente de alteração do metabolismo do ferro nos processos inflamatórios. A avaliação la­boratorial demonstra anemia de leve a moderada e a morfologia das hemácias pode ser normocíti­ca ou microcítica. O nível sérico de ferro e a sua capacidade de ligação estão diminuídos e os de ferritina estão normais ou aumentados, o que a distingue da anemia ferropriva.

“Embora a anemia ferropriva seja a anemia mais frequente na população pediátrica é fundamental que o pediatra esteja atento a ou­tros diagnósticos diferenciais de anemia hipocômica e microcítica”, concluem os especialistas.

Participaram da elaboração do documento os drs. Isa Menezes Lyra; Josefina Aparecida Pellegrini Braga; Benigna Maria de Oliveira; Célia Martins Campanaro; Cláudio Galvão de Castro Júnior; Maria Lúcia de Martino Lee; Paulo Ivo Cortez de Araújo; Paulo José Medeiros de Souza Costa e Rosana Cipolotti.