O National Institute of Health (NIH), dos Estados Unidos, acaba de iniciar uma pesquisa pioneira para compreender o impacto do uso frequente de smartphones e tablets no desenvolvimento do cérebro de crianças e adolescentes. O trabalho, iniciado a partir do escaneamento do cérebro de crianças entre nove e dez anos de idade, acompanhará ao longo de uma década cerca de 11 mil crianças, distribuídas em 21 Centros de Pesquisa.
De acordo com a presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Liubiana Arantes de Araújo, a iniciativa dos pesquisadores americanos tem como objetivo responder como todo o tempo empregado em frente às telas afeta a estrutura física do cérebro. “Um estudo como esse, com amostra numérica substancial, poderá fornecer algumas respostas importantes, como quanto tempo eles estão gastando nessa tarefa, quais são as consequências negativas e como se estabelece o vício”, comenta.
DIFERENÇAS - Os dados preliminares obtidos através de ressonâncias magnéticas demonstraram diferenças significativas nos cérebros de algumas crianças que usam smartphones, tablets e videogames mais de sete horas por dia. As imagens revelaram um afinamento precoce do córtex cerebral, o que significa uma possível diminuição da receptividade de informações sensoriais – visão, audição, tato, olfato e paladar –, uma vez que ocorrem menos estímulos durante o uso da tela do que em outras atividades.
Além disso, as entrevistas e os dados do estudo do NIH revelaram também que as crianças com frequência diária acima de duas horas junto às telas obtiveram pontuações mais baixas em testes de raciocínio e linguagem. Para dra. Gaya Dowling, pesquisadora do NIH, ainda é cedo para conclusões definitivas, pois são necessários novos testes e acompanhamento ao longo do tempo para confirmar se há resultados associados às diferenças verificadas nos primeiros exames.
DEPENDÊNCIA – Uma das equipes de pesquisadores que compõe o estudo, com orçamento estimado em US$ 300 milhões, está analisando os cérebros dos adolescentes enquanto eles seguem o Instagram. As imagens registadas até o momento captam exatamente quais partes do sistema de recompensas do cérebro são mais ativas durante o uso de mídias sociais. Com base nos resultados obtidos até o momento, os cientistas acreditam que o tempo de tela estimula a liberação da dopamina, uma substância química do cérebro que desempenha um papel crucial nos desejos. Uma relação que pode desencadear um comportamento compulsivo, com características semelhantes à dependência de drogas.
Além disso, segundo dr. Dimitri Christakis, do Seattle Children's Hospital e coautor das diretrizes mais recentes da American Academy of Pediatrics sobre tempo de tela, as evidências atuais demonstram que as experiências adquiridas por meio de tablets não são aproveitadas fora do mundo virtual. “Se você der a uma criança um aplicativo onde ela brinca com blocos virtuais e depois coloca blocos reais na frente deles, ela não sabe repetir o processo. Elas começam tudo de novo. É como se nunca tivessem feito isso antes”, explica.
DEPRESSÃO – Outro levantamento americano, realizado pela San Diego State University, descobriu mudanças repentinas no comportamento e saúde mental de adolescentes nascidos a partir de 1995. O estudo tomou como base pesquisas desenvolvidas desde a década de 1960, com cerca de 11 milhões de jovens, e demonstra como as horas diárias junto ao celular resultou em uma mudança fundamental nas ações e pensamentos das novas gerações.
“Eles são a primeira geração a passar toda a sua adolescência com smartphones. Ficamos surpresos ao descobrir que, nos anos seguintes, a porcentagem de adolescentes que relataram beber ou fazer sexo caiu. No entanto, a porcentagem que relatou estar mais sozinha ou deprimida aumentou. É possível que outros fatores tenham desempenhado algum papel, mas nenhum deles está tão correlacionado quanto a crescente popularidade do smartphone e das mídias sociais”, informou a coordenadora do projeto, dra. Jean Twenge.
As informações apontam ainda uma correlação entre automutilação em meninas adolescentes e uso de redes sociais. Segundo a presidente do DC de Desenvolvimento e Comportamento da SBP, dra. Liubiana Arantes de Araújo, as mudanças tecnológicas permitiram diversos avanços sociais, entretanto, ainda é necessário gerenciar de forma mais adequada o uso dessas ferramentas para evitar consequências negativas.
“Os smartphones, tablets e computadores são importantes e nos permitem um mundo de possibilidades. Mas é preciso que os pais monitorem o conteúdo acessado pelos filhos, uma vez que materiais inapropriados são muito disseminados. Além disso, Duas horas por dia é o tempo máximo de uso de tela recomendado pela SBP para crianças acimas de seis anos e adolescentes. Sintomas como ansiedade, comportamento violento, transtornos de sono e de alimentação já são verificados pelos pediatras em pacientes que utilizam a tecnologia em excesso”, conclui.
(*Com informações da CBS News)
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