Em ação conjunta, SBP e Asbai lideram campanha para captação de plasma e evitar o desabastecimento de imunoglobulina

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) divulgaram nota especial e estão liderando uma campanha de esclarecimento nas redes sociais intitulada #plasmajabrasil. O movimento ocorre diante da queda na captação de plasma no mundo todo por conta da pandemia da COVID-19, o que poderá ocasionar novo desabastecimento de imunoglobulina.

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“Não há, portanto, produção de imunoglobulina em território brasileiro e a por nós utilizada é integralmente importada. Periodicamente, temos enfrentado, ao longo de muitos anos, períodos de desabastecimento que causam enorme prejuízo, particularmente aos pacientes com Erros Inatos da Imunidade (EII)”, destaca trecho da nota especial.

Segundo os especialistas, cerca de 70% dos pacientes com EII ou Imunodeficiências Primárias necessitam receber reposição de imunoglobulina humana regularmente para que se mantenham saudáveis e vivos. A imunoglobulina humana é um hemoderivado obtido a partir do plasma. Estima-se que manter a reposição de imunoglobulinas de um paciente com EII por um ano requeira 130 doações de plasma.

O plasma humano pode ser captado a partir de volume excedente de doações de sangue e conservado a temperaturas entre -40°C e -20ºC, por até dois anos. No Brasil, este plasma excedente não vem sendo usado na produção de imunoglobulinas. Outra forma de obter o plasma é por meio de captação específica por plasmaférese, método que vem sendo amplamente utilizado fora do País. Para isso, no entanto, a legislação brasileira necessita ser adequada.

Há mais de um ano, o Brasil constata o fornecimento irregular de imunoglobulina humana, medicação de extrema importância para os pacientes com imunodeficiências. Desde o fim de 2019, a SBP, a Asbai, o Grupo Brasileiro de Imunodeficiências (BRAGID) e associações brasileiras de pacientes vêm mantendo contato com o Ministério da Saúde, alertando sobre as graves consequências da falta deste imunobiológico. A pandemia agravou este problema.

QUEDA – Por causa da pandemia, a coleta de plasma apresentou uma queda mundial, inclusive nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, que são os maiores coletores do mundo da matéria-prima da imunoglobulina.

Atualmente, o Brasil importa imunoglobulina e, segundo especialistas, o País tem condições de produzir internamente. “Devemos aproveitar o momento da falta da imunoglobulina para fazer uma campanha em prol da atualização da legislação brasileira, que é antiga e não contempla a captação de plasma”, comenta o dr. Antônio Condino Neto, presidente do Departamento Científico de Imunologia Clínica da SBP.

ATUALIZAÇÃO – Segundo dr. Condino, o Brasil apresenta restrições ultrapassadas. Ele diz que a atual legislação brasileira impede captar doação de plasma por plasmaferese para produzir medicamentos e comercializar, mas permite importar produtos extraídos do plasma, como a imunoglobulina humana (IG). “Atualmente, o Brasil capta sangue, aproveita os glóbulos vermelhos para transfusões em emergências médicas e descarta o plasma, o que é considerado um desperdício”, salienta.

A Coordenadora Departamento Científico de Imunodeficiências da ASBAI e membro do Departamento Científico de Imunologia Clínica da SBP, dra. Ekaterini Goudouris, diz que é preciso urgentemente atualizar a legislação para facilitar a doação de plasma e viabilizar a produção de medicamentos hemoderivados no Brasil.

“Infelizmente, a queda no fornecimento de plasma é mundial, mas a situação do Brasil é particularmente complicada. Sem isso, vamos continuar 100% dependentes de importação e sofrer pela falta quando algo acontece como estamos vivenciando nessa pandemia. É uma vergonha um país com as dimensões do Brasil, com cerca de 200 milhões de habitantes, não contribuir em nada para captação de plasma mundial”, destaca.

*Com informações da assessoria de imprensa da Asbai.