A indiscriminada abertura de novas escolas de medicina e a qualidade do ensino médico no Brasil afloram as discussões sobre o tema entre os profissionais já atuantes nas áreas, os docentes e órgãos fiscalizadores da profissão. O imbróglio é abordado pelo dr. José Hugo Lins Pessoa, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Academia de Medicina de São Paulo, e professor emérito da Faculdade de Medicina de Jundiaí (SP), no artigo Diplomas Carimbados II.
“Ao longo dos anos foram muitas as discussões, fóruns, publicações e manifestações sobre a inutilidade e o perigo da abertura de escolas médicas sem condições e sem perspectivas de oferecerem um curso médico digno para a população. Realmente, nesse momento parece que não há alternativa que não seja o exame dos formados – algo como ‘diplomas carimbados’ – apto ou não apto”, diz o autor.
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Dr. José Hugo enfatiza que a formação integral de um médico não termina com a obtenção do título, mas “continua com os estudos na residência médica, e na permanente atualização durante toda a vida profissional – isso também é missão que a faculdade de medicina deve transmitir para seus alunos”.
O pediatra adverte também que todos os equívocos da criação de escolas médicas não adequadas decorrem de um erro ainda maior: a prevalência do interesse político e econômico sobre o bem-estar e a saúde do indivíduo. “Não sabem, ou fingem que não sabem, que médicos com formação inadequada representam exatamente o oposto do trabalho médico – risco para a saúde do paciente –, aumentam o caos social e econômico do país”, critica.
DEMASIADO – O número de médicos formados no Brasil é alto. Segundo a pesquisa Demografia Médica 2018, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com o apoio institucional do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), o Brasil atualmente conta com 452.801profissionais.
Dados do Ministério da Educação e Cultura (MEC) mostram que o Brasil tem hoje 310 cursos de medicina – um terço deles abertos a partir da criação da Lei do Mais Médicos (nº 12.871/2013), que impulsionou a abertura de novas escolas com o pretexto de diminuir a carência de médicos em determinadas regiões do Brasil. Com isso, o País saltou de um patamar de 17.267 novos médicos formados em 2012 para um potencial de formar quase 30 mil profissionais por ano – o que, para as entidades médicas, não é um crescimento sustentável.
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