Em audiência pública, SBP recomenda ao Governo Federal a vacinação de crianças e jovens contra Covid-19

Não tenha medo da vacina, tenha medo da doença. Essa é a síntese de posicionamento levado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) à audiência pública realizada nesta terça-feira (4) pelo Ministério da Saúde para discutir com especialistas a inclusão de crianças e jovens no programa de imunização contra a Covid-19. A entidade reafirmou o entendimento divulgado em dezembro a favor da vacinação e apresentou argumentos e dados científicos para esclarecer e tranquilizar pais, mães e responsáveis sobre a importância e segurança de imunizar o público infantil. 

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“A vacina tem resposta imune não inferior ao demonstrado em adultos. O objetivo da vacinação é prevenir internações e mortes”, argumentou o médico pediatra e infectologista dr. Marco Aurélio Safadi, presidente do Departamento Científico de Infectologia da SBP e representante da entidade na reunião. “As vacinas também reduzem a transmissão e o risco de infecção”, observou. 

“Os benefícios diretos da prevenção nas crianças são óbvios. Nenhuma doença está matando mais. A Covid-19 fez mais vítimas que todas as doenças preveníveis nos últimos dois anos no Brasil. Não há razão para admitir essas mortes”, endossou o médico pediatra dr. Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP e representante do Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid19 da Associação Médica Brasileira (AMB) no encontro. “Conclamamos a todos os pais e responsáveis que vacinem seus filhos”.

A maioria dos especialistas ouvidos recomendou a vacinação de crianças e jovens para o avanço no controle da pandemia do novo coronavírus. A Secretária Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde, dra. Rosana Leite de Melo informou que a maioria das cerca de 100 mil contribuições recebidas pela Pasta em consulta pública à população foi contra a obrigatoriedade de uma receita médica para vacinar crianças contra o coronavírus. 

Representantes do Conselho Nacionais de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems) também recomendaram a vacinação e informaram que os municípios brasileiros estão preparados para iniciar a imunização do público infantil.

Realizada em Brasília, no auditório da sede da OPAS/OMS, a audiência pública contou com a presença de integrantes do governo federal, da Câmara dos Deputados e de diversas sociedades científicas e durou cerca de cinco horas. Com formato misto – parte dos especialistas convidados participou online e outros de forma presencial –, a reunião foi transmitida ao vivo pela internet, nos canais oficiais do Ministério da Saúde: mais de 9 mil pessoas enviaram perguntas. 

CONCLUSÕES – Em sua apresentação, dr. Marco Aurélio Sáfadi apresentou estudos científicos e conclusões acumuladas no atendimento do público infantil durante a pandemia para evidenciar a pertinência da vacinação de crianças e jovens. Segundo ele, um dos aspectos mais importantes nesta decisão é que a incidência e os efeitos da Covid-19 se tornaram relevantes sobre o público infantil: nos dois anos de pandemia, afirmou, foram registrados 300 óbitos no País, uma letalidade de 0,4% entre crianças, além de sequelas longas. “A mortalidade de crianças no Brasil é maior do que em outros países”, explicou.

O infectologista também destacou lições aprendidas com o manejo da pandemia, que externaram facetas desconhecidas do novo coronavírus, especialmente a incidência da Síndrome Inflamatória Multissistêmica, doença que consolida o convencimento em torno da necessidade da imunização do público infantil. 

“A vacina previne a morte, a dor, sofrimento, emergências, internação. Temos justificativas éticas e sanitárias para a vacinação”, endossou o dr. Renato Kfouri. “A chegada da ômicron é um desvio da doença para as faixas dos não vacinados e as crianças passam a representar uma porcentagem maior”, acrescentou.

Ele foi enfático ao afirmar que a vacina é a ferramenta de que a sociedade dispõe para enfrentar a Covid-19, é segura e funciona. “O benefício trazido pela vacina é muito superior ao risco de miocardite. Nenhum país deixou de imunizar este público”, esclareceu, referindo-se a um potencial efeito colateral que sustenta opiniões contrárias à vacinação de crianças contra a Covid-19. 

Além da SBP, do Conass e do Conasems, participaram do debate a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm); Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI); Associação Médica Brasileira (AMB); Conselho Federal de Medicina (CFM); Conselho Nacional de Justiça (CNJ); e Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).