A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), lança nesta semana o Manual de Orientação sobre “Treinamento Esfincteriano (TE)”. A publicação traz informações sobre o processo de conscientização da criança sobre sua própria necessidade de eliminar urina e fezes – considerado um dos marcos de desenvolvimento físico e psicológico mais relevantes – e apresenta aos pediatras de forma prática o método de TE mais indicado.
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De acordo com o documento, os métodos para aquisição do treinamento esfincteriano têm variado ao longo dos últimos 100 anos. No entanto, a principal abordagem, indicada pela Academia Americana de Pediatria (AAP), recomenda que as crianças não sejam forçadas a iniciar o processo até que apresentem os sinais específicos de prontidão.
INDICADORES - As habilidades físicas e psicológicas fundamentais para o TE estão relacionadas à capacidade da criança de imitar o comportamento dos pais ou cuidadores; insistir em concluir tarefas sem ajuda e ter orgulho de novas habilidades; andar e estar apta a sentar de modo estável e sem ajuda; entender e responder a instruções e seguir comandos simples; saber puxar as roupas para cima e para baixo; usar palavras, expressões faciais ou movimentos que indicam a necessidade de urinar ou evacuar; entre outras.
“No Brasil, a média de idade de início do treinamento esfincteriano é em torno dos 22 meses, com média de conclusão aos 27,4 meses, geralmente mais precoce nas meninas. A duração do processo pode variar entre seis e 12 meses. Entretanto, é importante ressaltar que cada criança tem um desenvolvimento individualizado e, portanto, somente a idade não é um bom critério para decidir o momento de iniciar o TE”, informa o texto.
ABORDAGEM ORIENTADA – Segundo o Manual, por volta dos 24 meses de idade, os sinais de prontidão para o TE da criança deverão ser avaliados pelo pediatra, tendo em mente as diferenças culturais e possíveis manifestações clínicas que podem interferir no treinamento. Nesse momento, os pais também precisarão decidir qual instrumento será utilizado - penico ou vaso sanitário – e precisarão ser orientados sobre as vantagens e desvantagens de cada opção.
“É importante que na presença de constipação intestinal funcional ou outro problema, o tratamento da condição seja instituído antes do início do processo do TE. É fundamental também verificar a consistência das fezes da criança pela Escala de Bristol Modificada para a Criança. Uma dieta rica em fibras, consumo reduzido de produtos lácteos e ingestão hídrica adequada podem auxiliar para obter a consistência fecal normal (Bristol 3 e 4), manter os movimentos intestinais regulares e facilitar a eliminação das fezes”.
O documento ressalta ainda que uma atitude proativa do pediatra, abordando antecipadamente percepções e equívocos comuns e auxiliando os pais a desenvolverem expectativas razoáveis, ajuda para que essa fase do desenvolvimento ocorra da maneira mais tranquila possível.
PROBLEMAS – Segundo a publicação, aproximadamente 2% a 3% das crianças com desenvolvimento neuropsicomotor adequado e sem doenças crônicas ou neurológicas apresentam problemas durante o processo do TE. O insucesso, na maioria das vezes, está associado a ausência dos sinais de prontidão. Entre os problemas mais comuns nesses casos, estão: recusa para treinamento de eliminação das fezes; retenção de fezes; esconder-se para eliminar fezes; e necessidade do uso de fraldas após completar o TE.
“Se uma criança expressar a recusa para o TE, uma pausa de um a três meses é sugerida. Isso permite que a confiança e cooperação sejam restabelecidas entre pais e filhos. Em caso de repetidas tentativas malsucedidas; de crianças com mais de 36 meses sem sinais de prontidão; e de crianças com mais de 48 meses que não concluíram o TE diurno, o pediatra deverá explorar aspectos do relacionamento da criança com os pais, ou mesmo suspeitar de anormalidades físicas ou do desenvolvimento neuropsicomotor”, cita o documento.
O Manual de Orientação sobre “Treinamento Esfincteriano (TE)” foi elaborado pela presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da SBP, dra. Liubiana Arantes de Araújo; e pelos membros do Departamento Científico de Urologia Pediátrica da SBU, drs. Atila Victal Rondon; Flávia Cristina de Carvalho Mrad; José de Bessa Junior; José Murillo Bastos Netto; Mônica Maria de Almeida Vasconcelos; e Ubirajara Barroso Jr.
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