O último dia do 40º CBP contou com um debate especial sobre os impactos e o papel do pediatra frente aos avanços do mundo virtual na infância e na adolescência. A palestra foi conduzida pelo dr. Marco Gama, pediatra e presidente do Departamento Científico de Segurança da SBP. O especialista deu início à palestra fazendo uma contextualização do tema e destacando que estamos vivendo tempos exponenciais, em que tudo avança de maneira muito rápida.
“O avião, por exemplo, levou 68 anos para conseguir 50 milhões de usuários. O carro levou 62 anos; o telefone, 50 anos; a televisão, 22; a internet, 7; o celular, 4; o twitter, 2 anos; e o jogo do pokemón, 18 dias”, comparou. O especialista destacou que a sociedade passa por um processo de “terceirização precoce do cuidar”, com o uso excessivo e indiscriminado de ruídos brancos, inserção em berçários e creches e, sobretudo, o acesso, desde os primeiros meses de vida, às telas.
Ao mesmo tempo em que fez o alerta convidou os colegas pediatras a olharem para o tema de uma forma ampla, sem crítica ou censura. “Essa introdução precoce das telas revela uma coisa importante: o repertório de brincar, dos pais, é muito pequeno. E é muito pequeno porque aquelas crianças que estavam no computador, no celular ou no tablet cresceram, se tornaram adolescentes e depois pais. Então não se trata apenas de coibir, condenar e culpar. Temos que olhar de uma maneira mais ampla para agir de forma mais efetiva”, ponderou.
O especialista defendeu ainda a realização do que chamou de “puericultura digital”, convocando os pediatras a assumirem a frente e introduzir perguntas sobre o uso de telas e da internet durante as consultas. “É importante que essa anamnese colete informações tanto sobre o uso digital de crianças e adolescentes como também dos pais e responsáveis para que o pediatra saiba a dinâmica digital da família e ajude a diagnosticar os problemas causados pelo mau uso”, explicou.
“Seria a solução, então, proibir o uso da Internet”, questionou à plateia. “Eu acredito que não. Proibir não funciona e nem vai funcionar”, disse. Dr. Marco Gama concluiu a palestra defendendo que o caminho está no entendimento do contexto dos pais; na afirmação do posicionamento dos pediatras, enquanto profissionais que possuem autoridade no assunto; na coleta precisa de informações sobre a rotina de pais e filhos; e na sugestão e no ensino de brincadeiras e da contemplação do ócio, levando sempre em consideração as necessidades de cada faixa etária.
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