Em resposta a estudo publicado no Jama, pediatras brasileiros reiteram importância do aleitamento materno

A publicação de um artigo no Jornal da Associação Médica Americana (Jama) fez a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgar uma nota aos brasileiros sobre a importância de que as mulheres e as famílias sigam a recomendação de se oferecer aleitamento materno, de modo exclusivo, aos bebês até os seis meses de idade e complementado até dois anos ou mais.

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A resposta da SBP veio em decorrência de questionamentos surgidos na imprensa após a publicação do estudo, no início de julho. O artigo divulgado no Jama fala de supostas vantagens no padrão de sono das crianças com a introdução precoce de alimentos sólidos na dieta de recém-nascidos, a partir de três meses.

“Interessante que esse artigo ganha espaço no noticiário justamente na semana que os Estados Unidos defendem a introdução de alimentação complementar na fase da amamentação em reunião da Assembleia Mundial da Saúde”, lembra a presidente da SBP, dra Luciana Rodrigues Silva, para que esse tema é sinônimo de altos lucros para a indústria.

De acordo com estimativas, essa os produtores de fórmulas infantis movimentam em torno de US$ 70 bilhões no mundo, com crescimento estimado para este ano de 4%, principalmente pelo aumento das vendas nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

PAPINHAS COM FRUTAS - Segundo os pesquisadores, as crianças que receberam alimentação complementar ao aleitamento de forma precoce dormiram 16,6 minutos a mais aos 6 meses e 7 minutos a mais ao longo do estudo quando comparadas aquelas que não o fizeram. No período do estudo, os participantes receberam papinhas com frutas ou arroz, mas sem substituição total do leite materno. A amostra foi constituída por 1.225 crianças, moradoras do Reino Unido, que tinham dados sobre padrão do sono em 15 diferentes idades dos 3 meses aos três anos.

Três Departamentos Científicos da SBP foram convocados a fazer uma análise preliminar do trabalho. De acordo com dra Lucila Bizari Fernandes do Prado, presidente do DC do Sono, conclusões definitivas ainda dependem de outros estudos que venham ou não a confirmar os dados apresentados até o momento. Por sua, vez, dr Hélcio Maranhão, do DC de Nutrologia, reiterou que há várias publicações que mostram os benefícios do aleitamento materno exclusivo, como também da introdução da alimentação complementar aos 6 meses, inclusive prevenindo a obesidade.

Já dra Elsa Giugliani, presidente do DC de Aleitamento Materno, apontou algumas limitações no trabalho, como o uso de dados secundários de um ensaio clínico randomizado. Lembrou, ainda, que os indícios de aumento no tempo de sono são “modestíssimos”. Para ela, qualquer mudança nas recomendações em vigência sobre a amamentação deve ser avaliada com rigor e sempre pesar os riscos e os benefícios.

“Será que vale a pena expor a criança os problemas possíveis em decorrência de uma introdução precoce (como diarreia e infecções respiratórias) por conta de sete minutos a mais de sono por noite? ”, indagou dra Elsa. Na sua avaliação, o que deve ocorrer é oferecer condições para que pais e mães possam dar o suporte aos bebês, nesta fase da vida, em todos os horários.

A presidente da SBP, dra Luciana Rodrigues Silva, lembra das vantagens comprovadas do aleitamento na saúde das crianças, com impacto no seu desenvolvimento físico e emocional e no reforço à prevenção de doenças. Dados apontam que oferecer o leite materno aos filhos reduz em cerca de 12% o número de mortes em crianças menores de cinco anos de idade a cada ano, ou cerca de 820 mil mortes em países de média e baixa renda.