Educação e saúde são temas que despertaram desde criança o interesse da secretária do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Maria Albertina Santiago Rego. Inspirada nos ensinamentos de seus pais, ela acreditava que dessa forma poderia interagir com as pessoas oferecendo elementos primordiais para suas vidas.
Com isso, tornou-se professora na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e gestora de serviços de saúde em Perinatologia, além de trabalhar diretamente com epidemiologia clínica perinatal. Nessa trajetória, realizou pesquisas sob a coordenação da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e com pesquisadores brasileiros da Universidade Federal e Católica, ambas em Pelotas (RS).
Em 27 de outubro, dra. Maria Albertina recebeu a Comenda Honra à Ética do Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG). O prêmio é entregue anualmente a 10 médicos que em sua trajetória profissional trabalharam com total desempenho ético da Medicina, zelando pelo prestígio e bom conceito da profissão, tornando-se referência em suas áreas de atuação.
Em entrevista especial ao SBP Notícias, a especialista conta um pouco sobre sua trajetória, as alegrias e os desafios da pediatria, a emoção que sentiu ao saber que receberia a honraria e deixa uma mensagem aos jovens que pretendem seguir na Pediatria.
SBP Notícias – Como a senhora se sentiu ao saber que receberia a Comenda?
Dra. Maria Albertina Rego – Ao receber o comunicado pelo colega pediatra, presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, dr. Fábio Guerra, senti uma emoção única e difícil de ser traduzida em palavras. Em segundos, minutos, horas e dias que antecederam a entrega da comenda foi me desvelando o meu próprio percurso profissional, a minha trajetória na pediatria, que um dia eu havia traçado e percorri até então.
SBP Notícias – Para a senhora, qual a importância dessa homenagem?
Dra. Maria Albertina Rego – A Comenda de Honra à Ética, entregue por uma instituição de tamanha envergadura, tem um significado profundo na minha vida profissional e pessoal. A trajetória profissional reconhecida pelos pares agrega valor às nossas vidas. Acirra, incita, desperta o nosso ânimo e esperança e nos faz enxergar de maneira mais integrada as atividades profissionais das nossas práticas diárias. A sensação de felicidade perpassa por todas as lembranças desde a decisão pela medicina e, posteriormente, ao longo da vida profissional. Decidi ainda bem criança que seria médica, mas com o viés da educação, porque acreditava que assim poderíamos interagir com as pessoas, oferecendo algo imprescindível às suas vidas: educação e saúde. Naquela época, visitava todos os anos, na época do Natal, um asilo em Passos (MG), e ao ver os internos longe dos familiares, muitas vezes sorrindo e contando algum caso de suas vidas, apossava-me uma energia diferente das brincadeiras de crianças. Acreditava que a educação e a saúde - direitos fundamentais do ser humano - agregaria valor às vidas daquelas pessoas e seriamos nós mesmos que deveríamos refletir sobre isso. A honraria traz também uma sensação de inquietude interna, tentando compreender toda uma vida dedicada à medicina, como tantos outros colegas o fazem, e ao mesmo tempo, tão questionada atualmente pelos nossos representantes. Não só a medicina, mas também a pediatria, muitas vezes sendo negada às nossas crianças por desvios na compreensão dos direitos da criança, sistematizados no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e na interpretação da constituição e da legislação correspondente.
SBP Notícias – Gostaríamos de falar um pouco sobre a trajetória da senhora, por isso, queria saber o que levou a dra. a escolher a Pediatria?
Dra. Maria Albertina Rego – Desde muito criança vivenciei em casa o respeito ao próximo. Minha mãe era educadora com uma vontade imensa que seus quatro filhos, e nossos amigos e colegas, tornassem bons profissionais e retornassem à sociedade o apreendido. Meu pai, dentista pensava que a vida precisava ser vivida com leveza. Essa mistura me tornou pediatra-neonatologista, com cargo de professora na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (FM-UFMG), atividades clínicas e por fim, gestora de serviços de saúde em Perinatologia.
SBP Notícias – A senhora poderia nos contar um pouco mais sobre sua formação e experiências?
Dra. Maria Albertina Rego – Um fato muito importante que aconteceu na minha vida foi - em um dia daqueles que você considera que a sorte está do seu lado (porque não é explicável) - entrar na cooperativa da escola de medicina, sem intenção definida, e me deparar com um livro de título instigador: “Epidemiologia da Desigualdade”. Olhei os autores e verifiquei que eram dois jovens da cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Comprei o livro, o li em poucos dias e não tive dúvida que gostaria de conhecer os autores. Planejei a viagem e encontrei-me com Fernando Barros, que me mostrou, com simplicidade e seriedade, o que eles viam desenvolvendo na prevenção da mortalidade infantil no Brasil. Decidi enveredar por um caminho que eu denomino epidemiologia clínica perinatal, uma área que se mostrava determinante na qualidade de vida da criança brasileira.
SBP Notícias – Para a senhora, qual foi a sua maior conquista? A maior alegria?
Dra. Maria Albertina Rego – Estou muito feliz nesse momento por poder trabalhar na prevenção das complicações da prematuridade, sob a coordenação da Universidade de Oxford. Aqui no Brasil, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal e Católica de Pelotas, esta última representada por Fernando Barros.
SBP Notícias – Quais as maiores dificuldades que a senhora enfrentou durante todos esses anos de atuação?
Dra. Maria Albertina Rego – Encontrei muitas dificuldades por escolher um caminho alternativo na academia, voltado mais para a extensão, o que é pouco valorizado. Para dar um exemplo significativo, no final da década de 1990 - durante uma reunião clínica no meu departamento de pediatria, sentada ao lado de um profissional de reconhecida competência e diante da “revelação” dos indicadores da saúde da criança pelo palestrante - comentamos: como podemos ouvir isso tantas vezes e ficarmos “calmos”, continuando nossas aulas na graduação, sem uma ação efetiva junto à gestão? Tínhamos conseguido reduzir a mortalidade infantil pós-neonatal, mas a mortalidade no primeiro mês de vida e mortalidade materna permaneciam muito altas. Na verdade, para alterar significativamente aqueles resultados adversos na saúde da mulher e criança seria necessário a implementação do conhecimento nas práticas clinicas, em uma ação conjunta da assistência, ensino, pesquisa e gestão. Resumindo, o conhecimento está disponível, mas a implementação do conhecimento na prática clínica ainda está longe de ser aceitável, ainda hoje! Encontrei também resistência familiar pelo meu ganho financeiro que era traduzido como fazer medicina por hobby, sendo professora universitária. Mas foi uma escolha acertada. Quem sabe um dia reconheçam o papel fundamental do professor.
SBP Notícias – Qual mensagem a senhora gostaria de dar aos jovens que querem seguir na Pediatria?
Dra. Maria Albertina Rego – A Pediatria é uma especialidade muito próxima dos ideais do ser humano, que podemos resumir como uma busca científica e de valores éticos e morais do desenvolvimento das potencialidades da criança. Integrando as várias disciplinas, a epigenética vem fundamentando essa premissa, quando verifica que a expressão gênica se modifica constantemente de acordo com os eventos ao longo de nossas vidas. A pediatria lida com todo esse dinamismo do século 21.
SBP Notícias – A senhora gostaria de acrescentar algo que não foi perguntado?
Dra. Maria Albertina Rego – Quero agradecer aos meus colegas, que nos representam junto ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, pela distinção a mim conferida com a Comenda Honra à Ética. É profundo o meu sentimento de felicidade, mas não menor o de responsabilidade e comprometimento com o exercício da medicina.
PED CAST SBP | "Neuroblastoma"
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