O livro que apresenta evidências científicas de que a amamentação materna exclusiva ministrada a bebês reduz a mortalidade infantil e melhora a qualidade de vida até a fase adulta teve público recorde na sessão de autógrafos nesta quinta-feira (10), durante o 39º Congresso Brasileiro de Pediatria (CBP). 'Epidemiologia da Desigualdade – quatro décadas de coortes de nascimento' é coordenado pelo dr. Cesar Victora (RS) e relata um case reconhecido e premiado internacionalmente. O tema, apresentado também em conferência de abertura do CBP, foi ovacionado pela plateia. O livro tem co-autoria dos doutores dr. António Augusto da Silva, Fernando Barros e Mariângela Freitas da Silveira.
No período de estudo (1982-2015), dr. Victora e sua equipe verificaram o crescimento da prática de amamentação exclusiva em 45%, o que resultou na queda dos índices de desnutrição. E os índices de mortalidade infantil em crianças até dois anos de idade reduziu em 14 vezes o risco de morte por diarreia e em 3,6 vezes o risco de morte por doenças respiratórias, principalmente em populações mais pobres. "Nós comprovamos no estudo, registrado neste livro, que as oportunidades de sobrevida e de viver com saúde variam marcadamente pelos distintos grupos populacionais ", pontuou.
Ainda segundo o epidemiologista, os resultados apresentados permitem aprofundar o entendimento sobre as questões que acompanham os indivíduos desde o período gestacional até a vida adulta, contribuindo para a construção de políticas públicas destinadas a enfrentar "os perversos efeitos das desigualdades sociais e étnicas".
O conceito de amamentação exclusiva rendeu ao dr. Cesar Victora o reconhecimento da Organização Mundial da Saúde e da Unicef, que passaram a recomendar a prática em nível mundial. Além disso, recebeu o Prêmio Gairdner, na categoria Saúde Global, em função da contribuição positiva de seu trabalho para os países em desenvolvimento. Esse foi o primeiro estudo mundial a mostrar a importância do aleitamento exclusivo.
“Esta foi uma importante descoberta para as mortes de bebês no mundo, principalmente por diarreia, muito comuns à época. Diversas pesquisas, incluindo a desenvolvida por nós, mostram que o aleitamento materno mais extenso e duradouro ajuda no desenvolvimento da inteligência da criança e na prevenção da obesidade na infância e na vida adulta”, comenta o dr. César.
Victora diz que o aleitamento materno passou a ser respaldado por uma série de evidências científicas que só podem ser obtidas por meio de estudos de longa duração, como o estudo das cortes de Pelotas. “Ficamos satisfeitos em ver a nossa pesquisa reconhecida e por saber que os resultados obtidos em Pelotas têm conseguido mudar as políticas globais de alimentação infantil”, comemora o médico.
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