Especialista da SBP explica como a neurociência pode ajudar no desenvolvimento pleno do cérebro da criança

Cerca de 90% do cérebro da criança é formado nos primeiros anos de vida. Ele depende da interação da genética com o ambiente. “A genética programa as etapas, mas é o entorno em que a criança vive que vai executar a formação cerebral. Esta deve ser forte o suficiente para sustentar todos os demais aprendizados”, disse a neuropediatra dra. Liubiana Araújo, presidente do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), durante o TEDxBeloHorizonte. O episódio abordou como a neurociência pode ser aplicada na criação de estímulos neurais adequados para melhor crescimento infantil.

CLIQUE PARA ASSISTIR AO PROGRAMA

“Nos últimos anos, as pesquisas que estudam o cérebro humano vêm trazendo dados interessantíssimos. Todos os estímulos ao redor (visual, auditivo e de sensações) entram no nosso corpo e geram uma descarga elétrica no nosso cérebro. Quanto mais o estímulo é repetido, mais vai ativando a mesma via, formando uma rede neural duradoura. As vias que não forem ativadas vão sofrer a poda neuronal e serão perdidas”, explica a médica, que foi a primeira representante pediatra feminina a participar do TEDx.

A rotina rica em palavras, hábitos e atitudes mais adequadas auxiliam, disse a pediatra, na formação de sinapses no período de vida em que o cérebro da criança está na fase de maior potencial de desenvolvimento. “Deixar a criança diante da tela o dia inteiro não é o suficiente para que ela aprenda diferentes habilidades. Não devemos exceder o uso saudável de celular, televisão e videogame”.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS – Em sua apresentação, dra. Liubiana comentou sobre alguns princípios da neurociência, como a neuroplasticidade, mielinização, janela de oportunidade e neurônios espelho. Pesquisas recentes apontam que oferecer estímulos de forma lúdica e alegre é uma maneira de aperfeiçoar a neuroplasticidade – que é a capacidade do cérebro se moldar e adaptar diante do estímulo.

“A resposta é a reciprocidade. Demonstre estar realmente interessado no desenvolvimento da criança. A neuroplasticidade é maior nos primeiros meses, mas é bem elevada até o final da adolescência. Logo, nunca é tarde para cuidar do cérebro”, ressaltou.

Segundo a neuropediatra, quanto mais palavras a criança escuta desde a gestação, melhor sua capacidade de comunicação, alfabetização, inteligência e aprendizado de outras línguas. “Ler livros e contar histórias diariamente com expressões e falas de boa entonação e em momentos alegres é uma ferramenta poderosa”.

Por outro lado, as brincadeiras também são fundamentais para estimular funções ligadas à linguagem, socialização e resolução de problemas. “A Academia Americana de Pediatria (AAP) e a SBP possuem estudos que mostram os benefícios das brincadeiras com afeto na formação das habilidades motoras, de inteligência e de socialização”, frisa.