Especialista da SBP participa de evento sobre violência e maus-tratos contra crianças e adolescentes

Como proteger, garantir direitos e zelar pelo desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes? A questão foi debatida no 3º Fórum de Políticas Públicas da Saúde na Infância, promovido pela Fundação José Luiz Egydio Setúbal (FJLES), com o tema “Violência e maus-tratos contra crianças e adolescentes – O papel da prevenção”. Na oportunidade, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) foi representada pela dra. Luci Pfiffeir, membro do Departamento Científico de Segurança da entidade. A especialista participou da segunda mesa-redonda do evento virtual que discutiu a percepção dos brasileiros sobre a violência infantojuvenil e as formas de prevenir essa situação, em transmissão do portal Nexo.

O debate, mediado pelo dr. José Luiz Egydio Setúbal, também contou com a participação de Fabiana da Silva, pedagoga e idealizadora do projeto Apadrinhe um Sorriso; e dr. Rodrigo Sinott, psiquiatra do Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência da Universidade Federal de São Paulo. No encontro, os participantes comentaram o estudo, encomendado pela FJLES e Instituto Galo da Manhã, que mapeou a percepção dos brasileiros sobre a violência contra crianças e adolescentes e o comportamento diante desta agressão.

A pesquisa categorizou que os brasileiros consideram que o período da infância vai até os 14 anos, e que essa faixa etária deve se ocupar com atividades escolares, esportivas e tarefas domésticas. No estudo, um terço dos entrevistados acreditam que a puberdade, menstruação, iniciação sexual e gravidez são marcadores do término da infância. Tráfico de drogas e outros atos criminosos também são determinantes para o fim do período infantil, segundo o público entrevistado.

Já os resultados coletados para a percepção sobre as formas de educar atitudes e comportamentos, mostraram que boa parte dos entrevistados consideram o diálogo a melhor forma de educar as crianças. No entanto, 65% do público revelou que sofreu agressões físicas durante a infância e mais de 60% concorda com o uso de violência em crianças, sob o argumento “é melhor bater hoje, do que o filho virar bandido amanhã”.

A ideia de que as crianças devem obedecer sem questionar os mais velhos é aceita por 80% dos entrevistados; e 65% do público concorda plenamente ou parcialmente que crianças que são criadas com liberdade se tornam adultos irresponsáveis.

Em sua fala, dra. Luci destacou que os resultados da pesquisa refletem um cenário popular presente também nos órgãos de defesa e proteção, não só na sociedade. A especialista explicou que os dados mostram uma indiferença da população com a violência sofrida pelas crianças e adolescentes. Nesse cenário, ela pontuou que a principal forma de prevenção é atender as vítimas, para que os atos de violência não se perpetuem nas próximas gerações.

“Quando pensamos nessa pesquisa, vemos que grande parte defende que a melhor forma de educar é o diálogo. Mesmo assim, muitos defendem uma hierarquia e sem conversa efetiva. A criança deve obedecer sem questionar, como se fosse algo a ser domesticado. Ninguém precisa sentir dor para aprender e podemos apresentar às crianças um mundo de violência ou um mundo de acolhimento”, afirmou a especialista.