Especialistas abordam o processo do luto no contexto da pandemia

Quais lutos vivemos? Como lidamos com a vida/morte na sociedade contemporânea e no cotidiano? Qual o impacto da polarização político-ideológica no luto? Qual a importância dos rituais de despedida? Estas foram algumas das questões levantadas na conferência “Luto no contexto da pandemia”, realizada nesta quinta-feira (5), no 40º CBP.

Segundo os pediatras, o luto pode alcançar o indivíduo de qualquer idade e de várias formas, seja através de uma separação conjugal, desemprego, perdas materiais, com a partida do bichinho de estimação e, a morte de pessoas amadas. O debate foi mediado pelo 1º vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dr. Clóvis Constantino, e teve início com explanações da dra. Simone Iglesias, presidente do Departamento Científico de Dor e Medicina Paliativa da SBP.  

Na ocasião os congressistas foram impulsionados a refletir sobre os pontos amplificadores de sofrimentos percebidos na pandemia, sendo eles: doenças físicas, conflitos (na política, nas redes sociais e em grupos no geral), tensões emocionais, instabilidade financeira e a morte no geral. Atualmente, sabe-se que o luto pode ser causador de tristeza, desespero, dor e depressão, não possui um tempo estipulado para começar e acabar, surge aí a importância de se viver todas as fases do luto, para que todo o emocional seja reorganizado. 

“São muitos os caminhos que levam adultos, e principalmente, crianças e adolescentes a terem a saúde mental afetada”, disse a dra Simone. Segundo ela, os gatilhos ativados durante este período, inclusive a perda de entes queridos, devem ser observados. Estima-se que 113 mil crianças perderam pai, mãe ou ambos.

Seguindo a discussão, a presidente do Departamento de Bioética da SBP, dra. Ana Zollner foi enfática ao tratar da importância que a especialidade precisa dar às etapas do processo de luto. “Precisamos ter subsídios para aplicar tudo que estamos expondo aqui. Este tema é de extrema importância e precisa ser uma preocupação no presente e no futuro da pediatria”, comenta a professora Ana.

Já a dra. Lara Torreão, do Departamento Científico de Terapia Intensiva da SBP, fez um alerta. “A pandemia promoveu uma catástrofe de várias vítimas, não só pela enfermidade em si, mas em todo o seu contexto. Contribuiu significativamente para a quebra de muitos vínculos, vivências e rompeu até com os rituais de passagem da vida para a morte. É aí que precisamos atuar e repensar a nossa prática enquanto pediatras. Precisamos ouvir e auxiliar no reparo desses danos (físicos e psicológicos) ocasionados na vida das crianças e, explorar mais este tema dentro da especialidade”, conclui.