A segunda parte do III Fórum de Pediatria, promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) na sexta-feira (17), em Brasília (DF), debateu os efeitos deletérios do consumo de álcool e do uso de drogas no desenvolvimento de crianças e adolescentes, com reflexos na vida adulta. A primeira apresentação, do professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), dr João Paulo Becker Lotufo, trouxe dados epidemiológicos sobre o consumo de tabaco e álcool.
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Segundo dr Lotufo, o consumo de álcool por parte dos adolescentes causa afogamento, gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis e problemas escolares, entre outros transtornos, já que geralmente o álcool é a porta de entrada para as drogas ilícitas. Como forma de diminuir “a epidemia do consumo de álcool e drogas”, ele sugeriu a adoção de medidas políticas, como o fechamento de bares a partir das 23h e a sobretaxa de bebidas alcóolicas, “que podem fazer muito mais efeito do que aconselhamentos nossos”.
MACONHA E CRACK - Em seguida, o coordenador do Núcleo de Estudos e Tratamento do Tabagismo (NETT) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dr Alberto José de Araújo, discorreu sobre o consumo de maconha e crack. “Temos de quebrar o mito de que a maconha é inofensiva. Seu consumo causa problemas de concentração, na capacidade de aprendizagem e memória”, argumentou.
Já o crack causa a síndrome do zumbi, “em que a pessoa não está morta, mas também não está viva”, disse ele. Pesquisa realizada pela Fiocruz em 2013 mostrou que 370 mil brasileiros usam drogas regularmente, sendo que 10% das mulheres entrevistadas estavam grávidas, “e provavelmente seus filhos apresentarão síndrome de abstinência”, afirmou.
Os aspectos legais relacionados ao consumo de drogas foram abordados pela participante do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra Renata Waksman. Após explicar como evoluiu a legislação internacional e nacional quanto à criminalização do consumo, Renata defendeu medidas para reduzir o consumo do álcool, como o aumento da carga tributária sobre bebidas, maior fiscalização quanto à idade mínima e uma maior regulamentação da propaganda.
EVENTOS TRAUMÁTICOS - A profilaxia em relação à dependência química em adolescente foi o tema do diretor do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) e médico do Hospital de Base de Brasília, psiquiatra infantil dr Tiago Vieira. Em sua apresentação, apresentou os fatores que tornam um adolescente mais vulnerável, como a exposição a eventos traumáticos e ao consumo de álcool e drogas pela mãe durante a gravides, a facilidade de acesso e o contato com outros usuários.
O modelo familiar também pode ser um fator. “Famílias autoritárias, negligentes ou indulgentes implicam riscos. Já o modelo autoritativo, em que esteja presente muito amor, com limites, é o mais apropriado”, defendeu. Durante os debates, foi debatida a necessidade de os médicos, independentemente da especialidade, trabalharem na prevenção do uso de álcool e drogas. “Em toda consulta, falamos sobre a importância de a pessoa evitar o tabaco, precisamos ter o mesmo comportamento em relação ao álcool e às drogas ilícitas”, defendeu dr Lotufo.
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