As influências do meio ambiente sobre a saúde de crianças e adolescentes também foram tema de discussão no 2º Congresso Brasileiro de Pediatria (CBP) On-line. O debate, que foi conduzido pelo 1º vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dr. Clóvis Francisco Constantino, destacou o papel do pediatra na orientação do paciente e sua família e a importância ambiental na saúde física e mental dos mais jovens, aspectos tão impactados negativamente pela pandemia da covid-19.

O primeiro a falar foi o presidente do Comitê de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (Soperj), o psiquiatra e psicanalista dr. Roberto Santoro, que apresentou a palestra "Saúde mental da criança e do adolescente em tempos pós-pandêmicos: a abordagem do pediatra". Ele pontuou o aumento significativo nos casos de depressão, ansiedade e mudanças no comportamento desses indivíduos nessas faixas etárias durante a pandemia.

"Resultados de um recente estudo sugerem que os quadros de ansiedade e depressão na infância e na adolescência dobram em comparação com as estimativas anteriores à pandemia. As crianças também regrediram no seu comportamento”, disse. Ele finalizou sua participação falando sobre a importância da interação social e do meio ambiente para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. "É fundamental a conexão direta com os outros seres humanos e a natureza".

ALIMENTAÇÃO – O pediatra e neonatologista dr. Rinaldo Fábio Tavares, membro do Departamento Científico de Toxicologia e Saúde Ambiental da SBP, apresentou o tema "Agentes químicos e alimentos: como reduzir os danos à saúde". Ele explicou os motivos de as crianças receberem o maior impacto dos "contaminantes" químicos alimentares, quais são esses agentes e como reduzir os danos à saúde.

Para reduzir os danos à saúde, explicou o especialista, é necessário seguir algumas orientações, como estimular uma dieta rica em alimentos naturais – evitando os alimentos processados; evitar mamadeiras e copos plásticos que contenham bisfenol A (BPA); não levar recipientes plásticos ao micro-ondas; e reduzir o plástico como invólucro para alimentos.

Também destacou a importância de não usar ligas contendo chumbo na fabricação de utensílios de cozinha; preferir alimentos naturais "orgânicos"; lavar bem frutas e legumes; lavar bem as mãos antes das refeições; e usar água potável de qualidade na preparação de alimentos.

NATUREZA – Já o vice-presidente do Comitê de Genética da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), dr. Ricardo Ghelman, explicou por que o contato com a natureza é fundamental para crianças e adolescentes. Ele apresentou as consequências da privação do contato com a natureza e os benefícios que o convívio proporciona para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.

"As consequências são significativas: obesidade, alergia, hiperatividade, déficit de atenção, desequilíbrio emocional, baixa motricidade - falta de equilíbrio, agilidade e habilidade física – e miopia são alguns dos problemas de saúde mais evidentes causados por esse contexto”, destacou. 

Segundo ele, o convívio com a natureza na infância, especialmente por meio do brincar livre, ajuda a fomentar a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a capacidade de escolha, de tomar decisões e de resolver problemas, o que por sua vez contribui para o desenvolvimento integral da criança e do ser humano como um todo. “Há evidências sólidas de que criar e possibilitar o acesso de crianças, jovens e famílias a espaços naturais diversos e acolhedores pode contribuir muito para a recuperação de sua saúde e bem-estar, bem como para o fortalecimento de vínculos e conexões sociais", frisou.

Por fim, dr. Clóvis encerrou a mesa-redonda com a afirmação: "O homem é parte da natureza, não o dono dela; se não respeitar o planeta, interagindo com ele, promovendo sua estabilidade e fazendo jus à sua consciência humana, destruirá sua casa e a si próprio".