21.11.2008
Tida como benigna na infância, infecção viral pode levar a complicações e internações hospitalares, dizem médicos
Das crianças com varicela registradas em um hospital considerado referência em infectologia pediátrica em MG, 25% foram internadas
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Apesar de ser considerada uma doença benigna da infância pela maioria da população, a catapora é uma infecção viral com um risco considerável de complicações e causa de uma número alto de internações, segundo estudos inéditos apresentados no 15º Congresso Brasileiro de Infectologia Pediátrica, que ocorreu de 9 a 12 de novembro em Vitória (ES).
Em Belo Horizonte, um levantamento feito entre 2003 e 2005 no Hospital Infantil João Paulo II, considerado referência em infectologia pediátrica no Estado de Minas Gerais, registrou 3.800 casos de crianças com varicela (o nome técnico da catapora). Destas, 937 (cerca de 25%) foram internadas por complicações da doença. Segundo a pediatra Sílvia Andrade, que participou da pesquisa, 85% das crianças internadas não tinham doenças prévias, como as auto-imunes ou câncer, que são responsáveis por complicações de viroses.
Os dados de Belo Horizonte fazem parte de um estudo multicêntrico organizado por Aroldo Prohmann Carvalho, professor de pediatria da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), que inclui, além de Belo Horizonte, dados de São Paulo, Florianópolis e Recife. No total, foram registradas 1.600 internações de crianças por complicações da doença.
Outro levantamento, feito entre 2006 e 2007 no Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, mostrou que a varicela foi responsável por cerca de 11% das internações no setor de isolamento pediátrico do hospital. Para Eitan Berezin, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, é um número estatisticamente significante, “especialmente se for levado em conta que é uma doença que pode ser prevenida”.
Maria Célia Cervi, professora do Departamento de Pediatria da USP de Ribeirão Preto, acrescenta que as complicações da doença significam um alto custo para a saúde pública. “O custo de cada criança internada foi de R$ 500 por dia.”
No mesmo congresso, foi apresentado outro estudo, feito entre 2006 e 2007 no Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). “A taxa de internação foi menor [156 internações em 2.212 casos de varicela], mas ocorreram cinco mortes de crianças”, relata Alexandre Arias, do Instituto de Ensino Superior Pequeno Príncipe e um dos autores do estudo.
Roberto Tozze, pediatra do pronto-socorro do ICr (Instituto da Criança) do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que, embora não saiba de estudos mostrando a incidência de complicações ao longo do tempo, sua experiência clínica mostra um possível aumento. “Aparentemente, não havia tantos casos de complicações da varicela quanto vemos hoje.”
Infecções
A complicação mais comum é a infecção bacteriana cutânea. Lesões na pele, que surgem principalmente quando a criança coça as vesículas e pústulas (bolhas), são porta de entrada para bactérias, que podem atingir o tecido subcutâneo, inflamando-o, num quadro chamado celulite. Pneumonite (infecção viral), pneumonia (bacteriana), meningite asséptica (viral) e lesões oculares são outras complicações.
Nos casos mais graves, as complicações podem levar a infecções generalizadas como síndrome do choque tóxico e sepse, que evoluem rapidamente e podem causar falência dos órgãos e morte.
Para o pediatra Evandro Roberto Baldacci, do ICr, a idéia comum entre o público leigo de que não há problema em contrair catapora na infância e que isso pode até ter um lado bom, o de prevenir a doença na vida adulta (quando as complicações são muito mais freqüentes e graves), não é preconizada pela classe médica. “Sabemos que, apesar de os riscos serem menores [na criança saudável], eles existem e podem evoluir para um quadro grave.”
Para evitar problemas
Quando não apresenta complicações, a varicela é uma doença autolimitada, ou seja, a cura ocorre passado o ciclo, que dura de sete a dez dias, sem a necessidade de remédios. Não coçar as vesículas e pústulas, manter as unhas da criança bem curtas e lavar constantemente as mãos e o corpo são as melhores formas de evitar complicações.
Não é recomendado o contato com crianças contaminadas, mas a transmissão pode ocorrer antes que a doença comece a se manifestar. A vacina contra catapora oferece entre 70% e 90% de proteção, diz Tozze, mas não pode ser dada a crianças com menos de um ano e não está disponível na rede pública.
Frase
“Se a criança entrar em contato com outra criança doente, recomendamos que seja vacinada. Tomada até cinco dias após o contato como o vírus, a vacina evita a doença ou diminui as complicações”
EITAN BEREZIN
membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Pediatria
Saiba mais
Para médicos, doença não é motivo de festa
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Até o início da década de 90, “festas da catapora” foram populares nos EUA. O objetivo era colocar uma criança doente em contato com outras, para que estas adquirissem a doença no decorrer da infância, quando os riscos e a intensidade das complicações são menores do que em adolescentes e adultos. As festas saíram de moda com a introdução da vacina da varicela no calendário de vacinação norte-americano, em 1995.
No Brasil, ainda há quem acredite que se deve expor a criança ao vírus para que ela adquira a doença o antes possível e fique “livre” dela na vida adulta. Segundo Eitan Berezin, presidente do Departamento de Infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a entidade não recomenda a prática. “Ao contrário, indicamos evitar o contato.”
Embora a vacina da varicela não faça parte do calendário oficial de vacinações, a SBP a recomenda para crianças maiores de um ano. “E, se a criança não tiver recebido a vacina e entrar em contato com outra criança doente, também recomendamos que seja vacinada. Tomada em um período de até cinco dias após o contato como o vírus, a vacina é efetiva para evitar a doença ou fazer com que suas manifestações sejam muito mais leves, diminuindo a chance de complicações.” (IB)
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