Fenômeno de Raynaud em crianças e adolescentes é tema documento do DC de Reumatologia da SBP

O Departamento Científico (DC) de Reumatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou nesta terça-feira (30) um novo documento com orientações para diagnóstico e tratamento do Fenômeno de Raynaud. Trata-se de manifestação caracterizada pela alteração da cor das extremidades do corpo, geralmente em função do frio ou estresse emocional. No Brasil, ainda não há estudos sobre sua prevalência junto à população pediátrica. No entanto, uma pesquisa realizada no Reino Unido, com adolescentes na faixa etária entre 12 e 15 anos, indicou a ocorrência média de 15% desse quadro.

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De acordo com a publicação da SBP, na maioria das vezes, a crise começa numa pequena área, como um dos dedos, e prossegue envolvendo simetricamente mãos e pés de modo bem demarcado. As regiões acometidas podem apresentar formigamento, dor, edema e dormência. “Os episódios de Fenômeno de Raynaud são agudos, iniciam com isquemia (palidez), seguido por cianose (coloração azulada da pele) e hiperemia (congestão sanguínea quando a extremidade é reaquecida). Além de mãos e pernas, os vasoespasmos podem acometer outras áreas como orelhas, nariz, face e joelhos”, informa o texto.

PATOLOGIA - O documento indica que a patologia pode ser caraterizada como primária quando ocorre devido a alterações funcionais dos vasos sanguíneos e, após avaliações clínica e laboratorial, não é identificada outra causa para o seu aparecimento. Além disso, o problema também pode estar associado a doenças reumáticas, em especial à esclerodermia sistêmica (ES) e ao lúpus eritematoso sistêmico (LES), sendo denominado de Fenômeno de Raynaud secundário. Nesse caso, a doença evolui para perda tecidual, úlceras digitais e gangrena, com envolvimento assimétrico e doloroso das extremidades.

“O Fenômeno de Raynaud é o primeiro sintoma em aproximadamente 65% dos pacientes com ES, ocorrendo em 100% dos pacientes durante o seguimento. Estudo prospectivo, com 250 jovens de 10 a 20 anos de idade com Fenômeno de Raynaud, mostrou que 76,4% apresentavam o Fenômeno de Raynaud primário e 23,6% evoluíram com doença reumática ao final do tempo de segmento (1 a 6 anos), sendo 10% doença indiferenciada do tecido conectivo, 5,2% doenças do espectro escleroderma, 4% artrite crônica e 3,6% lúpus”, traz o documento.

DIAGNÓSTICO – A publicação recomenda aos pediatras que, diante de relatos sobre palidez digital, seguido por cianose e hiperemia, avaliem a presença de sinais de alerta para doenças reumáticas. Entre os principais indícios, estão: perda da mímica facial com atenuação das linhas de expressão; telangiectasias; úlceras digitais ou úlceras em palato; hipertensão arterial; lábios finos ou espessamento cutâneo ou esclerodactilia; alteração de hemograma com citopenias; artralgia ou artrite; e mais.

No geral, os pacientes com Fenômeno de Raynaud (primário e secundário leve) respondem de forma satisfatória às medidas de cuidado, principalmente evitar a exposição ao frio e minimizar o estresse emocional. Nos casos moderados e graves, em especial quando há comprometimento da qualidade de vida ou perda tecidual, o tratamento deve incluir também a administração de fármacos, como bloqueadores de canais de cálcio ou vasodilatadores diretos.

O DC de Reumatologia da SBP é composto pelos drs. Sheila Knupp Feitosa de Oliveira (presidente); Cláudia Saad Magalhães (secretária); Ana Luiza Garcia Cunha (relatora); Antônio Sérgio Macedo Fonseca; Clovis Artur Almeida da Silva; Cynthia Torres França da Silva; Luciana Brandão Paim Marques; e Margarida de Fátima Carvalho.