O cenário das agressões aos pediatras no Brasil permanece praticamente o mesmo. A afirmativa é do dr. Mário Hirschheimer, presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que conduziu a mini-conferência “Defesa Profissional”, na manhã desta quinta-feira (24), realizada durante o IV Congresso de Atualização em Pediatria do Centro-Oeste (Capco), em Cuiabá (MT).
“Todos os profissionais de saúde estão vulneráveis às agressões durante o atendimento. Neste encontro precisamos discutir essa vulnerabilidade, para que seja reduzida e para que o profissional de saúde não seja agredido durante o exercício da profissão”, comenta o dr. Mário.
Na palestra, o especialista apresentou dados levantados em 2015 pelo Instituto Datafolha a pedido da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), sobre o cenário das agressões no estado de São Paulo. Os números evidenciam um cenário alarmante. De acordo com a pesquisa, 70% dos pediatras declararam já terem sofrido algum tipo de agressão durante a realização de atendimento. A maior parte das reclamações refere-se à violência psicológica (63%), seguida da agressão física (10%) e cyberbullyng (4%).
No ano passado, a SBP também encomendou uma pesquisa ao Datafolha sobre o perfil do pediatra brasileiro, que revelou a percepção dos especialistas sobre o tema e concluiu que a exposição à violência no ambiente de trabalho configura um sério problema nacional. De acordo com o levantamento, divulgado na abertura do 38º Congresso Brasileiro de Pediatria, dois em cada dez pediatras afirmam que sofrem com frequência situações de violência no trabalho.
Esse problema afeta diretamente o cotidiano de 26% dos pediatras que trabalham apenas no Sistema Único de saúde (SUS) e também de 26% dos que se dividem entre a rede pública e consultórios de planos de saúde. Entre os profissionais que atuam apenas em consultórios particulares, o indicador é um pouco menor (12%).
O sentimento de exposição à violência é maior entre as mulheres (24%) e nas faixas etárias que vão de 26 a 34 e de 35 a 44 anos (30% em cada). Do ponto de vista da distribuição geográfica, a percepção é mais significativa nas regiões Norte (26%) e Sudeste (25%). Por outro lado, ela é menor no Sul do País (16%) e nos municípios do interior (19%), que é seis pontos percentuais abaixo do que se relatado nas regiões metropolitanas (24%).
AGRESSÃO VERBAL - Os dados da pesquisa da SBP revelam ainda que um quarto dos entrevistados sofreu agressão no trabalho nos últimos 12 meses. A agressão verbal é a mais comum. Isso se traduz na forma de insultos, xingamentos, ofensas ou intimidações. No entanto, há relatos de agressões físicas e psicológicas.
“É preciso que o médico faça uma ocorrência das agressões sofridas para que o enfrentamento seja efetivo na mudança dessa realidade. Houve uma conscientização e um maior movimento nesse sentido, tanto por parte do Legislativo, com a proposição de leis em tramitação no Congresso com maior penalização àquele que agredir o médico ou profissional da saúde durante a sua atividade, quanto da mobilização dos Conselhos Regionais de Medicina, que encamparam ações de sensibilização da população”, enfatizou o dr. Hirschheimer.
Segundo ele, no entanto, as agressões ocorrem em grande parte nos prontos-socorros e estão ligadas às falhas dos sistemas públicos de saúde e segurança. “Os gestores públicos precisam se responsabilizar pela segurança de seus colaboradores”, defendeu.
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