Madrinha da campanha nacional de amamentação, Wanessa é uma brasileira como tantas

A história é da pernambucana Wanessa Cristina da Silva, 30 anos, técnica de enfermagem autônoma, casada com Leonardo Luiz da Silva, 32 anos, cobrador de ônibus, mas se parece com a da maioria das mulheres do País: “Quando engravidei de Letícia, minha primeira filha, eu era um pouco leiga. Logo depois do parto tive uma …

A história é da pernambucana Wanessa Cristina da Silva, 30 anos, técnica de enfermagem autônoma, casada com Leonardo Luiz da Silva, 32 anos, cobrador de ônibus, mas se parece com a da maioria das mulheres do País: “Quando engravidei de Letícia, minha primeira filha, eu era um pouco leiga. Logo depois do parto tive uma fissura no seio. Os familiares me deram conselhos, disseram para dar chupeta. Moramos em Beberibe, a 40 minutos do centro do Recife”. Mas Letícia Vitória da Silva está entre os ainda privilegiados 21% das crianças que nascem em um “Hospital Amigo da Criança” (HAC) – o primeiro no Brasil a ganhar o título, em 1992, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) e isto mudou bastante este enredo. Nesta segunda-feira, dia 02 de agosto, às 10h, Wanessa participa da solenidade oficial de abertura da 19ª Semana Mundial da Amamentação (SMAM) como madrinha, escolhida pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), pelo IMIP e pelo Ministério da Saúde (MS).

A SMAM é comemorada de 1 a 7 de agosto em cerca de 150 países. Idealizada pela Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (WABA), desde 1999 ganhou, no Brasil, a figura da “madrinha da amamentação” criada pela SBP e assumida também pelo Ministério da Saúde desde 2004. Em 2010, o tema escolhido para a Semana é a “Iniciativa Hospital Amigo da Criança”(IHAC). Muitas mulheres famosas já cederam sua imagem à campanha, mas desta vez é uma usuária do Sistema Único de Saúde (SUS): “Fiz pré-natal a partir da 10ª semana de gestação e adorei. Foi muito bom o apoio, o incentivo à amamentação. Desde o início, assisti a palestras, aprendi a melhor posição para o bebê mamar e não tive mais problemas. Letícia mamou logo após o parto e não parou mais. Pretendo amamentar até os seis meses exclusivamente. Depois posso dar outros alimentos até os dois anos ou mais”, disse, ciente da importância da campanha que este ano vai estampar em cartazes, folhetos, filme e spot: “Amamente. Dê ao seu filho o que há de melhor!

Bom começo – Segundo o presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP, dr. Luciano Borges, “o aleitamento materno tem avançado no Brasil graças a vários fatores, entre eles destaca-se a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), que acaba por incentivar os hospitais a adotarem medidas fundamentais para um bom início da amamentação. Todos os 10 “passos” preconizados (quadro abaixo) são igualmente importantes e só funcionam quando adotados em conjunto”, assinala.

Amamentar é muito mais que alimentar a criança, é um importante passo para uma vida saudável” é a frase que completa a mensagem, juntamente com o texto voltado aos trabalhadores da saúde: “Amamentar é um ato pessoal. Incentivar, uma atitude profissional”. É preciso “levar mais qualidade de atendimento a 80% das crianças que dependem do sistema público de saúde”, lembra o presidente da SBP, dr. Eduardo da Silva Vaz.

Objetivo – Hoje no Brasil existem 335 HAC, mas a “meta é que todos os hospitais com mais de mil partos ao ano se tornem Amigos da Criança”, enfatiza a dra. Elsa Giugliani, coordenadora da Área Técnica da Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde. Segundo a pediatra, várias instituições, principalmente das regiões Norte e Nordeste estão se preparando para aderir à iniciativa, e a expansão integra as ações do Pacto de Redução da Mortalidade Infantil da Amazônia Legal, Norte e Nordeste.

O Apoio – Coordenadora do Banco de Leite Humano do IMIP desde sua criação, em 1987, a pediatra Vilneide Braga presenciou histórias que provam o poder do leite materno na recuperação de crianças nascidas prematuras, como foi o caso de Bárbara Lucena: “Por 46 dias, minha filha Katherine, que nasceu com apenas 800 gramas, ficou na UTI Neonatal. Teve problemas cardíacos, infecções, quase morreu.

Mas desde o primeiro dia tive ajuda do Banco de Leite. Na época, não sabia da importância, mas ordenhava, e a bebê recebia o leite primeiro por sonda, depois no copinho. Com dois meses começou a mamar no peito e seguiu assim até os dois anos e meio. Hoje é uma mulher linda”, comemora Bárbara, que se uniu ao Grupo de Apoio de Mães Monitoras e ajuda outras mulheres a também salvar vidas.

Iniciativa Hospital Amigo da Criança – A IHAC foi lançada em 1991 pela OMS e  pelo Unicef com objetivo de promover a amamentação nas maternidades e fazer valer o Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno. No Brasil, existe esta lei é a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL), que recentemente foi transformada na Lei 11.265.

Pernambuco – DraJucille do Amaral Meneses é presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe), coordenadora da Residência em Neonatologia e responsável pela UTI do IMIP: “Me especializei em pediatria no Instituto. Desde o início aprendemos a importância do aleitamento materno para a saúde da criança. Tudo é feito para a tranqüilidade da mãe e o favorecimento de seu vínculo afetivo com o bebê. A atenção à criança vem melhorando em Pernambuco. Muitos hospitais começam fazendo cursos no IMIP, que tem a qualificação profissional como uma das prioridades”, disse.
Segundo a dra. Lúcia Trajano, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sopepe, são oito Hospitais Amigos da Criança no Recife e 11 no estado. “Em todos, há uma vontade muito grande de seguir o nível de excelência. É trabalhoso conseguir o título e mais ainda mantê-lo. Conscientização e divulgação são diuturnas. Pernambuco tem várias instituições interessadas na conquista. O estado tem se empenhado”, garante. A solenidade de abertura da SMAM integra as comemorações dos 50 anos do IMIP e dos 100 anos da SBP.

Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno/Iniciativa Hospital Amigo da Criança
1º: Ter uma política de aleitamento materno escrita que seja rotineiramente transmitida a toda equipe de cuidados de saúde
2º : Capacitar toda a equipe de cuidados da saúde nas práticas necessárias para implementar esta política.
3º: Informar todas as gestantes sobre os benefícios e o manejo do aleitamento materno.
4º: Ajudar as mães a iniciar o aleitamento materno na primeira meia hora após o nascimento.
5º: Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas dos filhos.
6º: Não oferecer a recém-nascidos bebida ou alimento que não seja o leite materno, a não ser que haja indicação médica.
7º: Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e bebês permaneçam juntos – 24 horas por dia.
8 º : Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda.
9 º : Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas.
10 º: Promover grupos de apoio à amamentação e encaminhar as mães a esses grupos na alta da maternidade

 

Informações complementares/ Evolução dos indicadores de 1999 a 2008

. Verificou-se que no total das crianças analisadas, 67,7% mamaram na primeira hora de vida, variando de 58,5% em Salvador/BA a 83,5% em São Luís/MA.

. A prevalência do aleitamento materno exclusivo em menores de seis meses foi 41% no conjunto das capitais brasileiras e DF. O comportamento desse indicador foi bastante heterogêneo, variando de 27,1% em Cuiabá/MT a 56,1% em Belém/PA.

. A prevalência do aleitamento materno em crianças de 9-12 meses foi de 58,7% noconjunto das capitais brasileiras e DFA região Norte apresentou a melhor situação (76,9%), seguida do Centro-Oeste (64,1%), Nordeste (59,1%) e Sudeste (51,4%). Com relação a esse indicador, a pior situação é a da região Sul (49,5%).

Fonte: Saúde da Criança/Ministério da Saúde – II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e  Distrito Federal.


Bárbara e Katherine Lucena, Wanessa com Letícia e dra. Vilneide Braga, do IMIP.