O fato da criança ter amigdalites freqüentes não significa que terá Febre Reumática. A FR é uma complicação da amigdalite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A, uma bactéria responsável apenas por 20% das amigdalites em crianças. Além disso, nem todas a pessoas com amigdalite por estreptococo beta-hemolítico do grupo A estão em risco de evoluírem com Febre Reumática. O problema é que antes de ter o primeiro episódio de FR, ninguém sabe quem está em risco e portanto faz-se necessário o tratamento de toda criança com amigdalite.
FEBRE REUMÁTICA
Portanto, para que ocorra a Febre Reumática, é necessário a associação de três fatores:
* uma infecção de garganta causada pelo estreptococo
* o não tratamento da infecção com o antibiótico adequado e o tempo correto de uso
* uma predisposição genética individual
A amigdalite estreptocócica pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum entre as crianças escolares (a partir dos cinco anos) e adolescentes. É contagiosa entre as crianças porque elas permanecem em contato muito próximo umas com as outras nas escolas.
Os sinais e sintomas da amigdalite estreptocócica são além da dor de garganta, febre entre 38 a 40 C, dificuldade para engolir, gânglios do pescoço inchados e doloridos, dor de cabeça, mal-estar, com amígdalas bastante vermelhas e inchadas, com ou sem pontos de pus. Pode ocorrer também náuseas e vômitos.
Apenas o médico poderá realizar a diferenciação de uma amigdalite estreptocócica e das causadas por vírus ou alergias, através de uma avaliação adequada. Não é recomendada a tentativa de se fazer o diagnóstico em casa ou na farmácia, sem o auxílio do pediatra.
É importante que o médico determine a verdadeira causa da amigdalite. Se a amigdalite estreptocócica não for tratada adequadamente, ela pode em alguns pacientes com predisposição genética ocasionar a FEBRE REUMÁTICA.
A Febre Reumática é uma doença que pode afetar várias partes do corpo como pele, articulações, coração e sistema nervoso. Os danos causados ao coração podem ser graves e permanentes.
Uma vez instalada a doença, os médicos podem amenizar certos sintomas da Febre Reumática, mas algumas vezes não é possível evitar as cirurgias para correção das lesões nas válvulas do coração produzidas pela doença.
Apesar dos avanços da medicina, ainda ocorrem milhares de casos novos todos os anos no mundo. Muitos destes casos poderiam ser evitados por meio do diagnóstico e tratamento adequados da amigdalite estreptocócica.
Felizmente,a amigdalite estreptocócica não é difícil de ser diagnosticada e o tratamento não é tão caro. São necessários dez dias de tratamento com antibióticos por via oral para a eliminação da bactéria, mesmo que os sintomas desapareçam após alguns dias e a criança pareça melhor. A dificuldade com a medicação oral é que muitas vezes os pais acham que a criança por estar melhor não precisam mais tomar a medicação até completar os dez dias. O esquecimento de uma das doses também é prejudicial.
Tanto o esquecimento como o tratamento incompleto contribuem para o reaparecimento dos sintomas da infecção ou o que é mais grave, pode levar ao surgimento da Febre Reumática.
Por esta razão, muitas vezes é recomendado o uso de uma injeção à base de penicilina de ação prolongada e em dose única, assegurando que a infecção será realmente tratada e a bactéria debelada.
Como não podemos saber quem tem predisposição para desenvolver a Febre Reumática, a recomendação é que em qualquer infecção de garganta em crianças e adolescentes, o médico seja consultado para avaliar a necessidade ou não de tratamento com antibióticos.
Erica Naomi Naka
Mestre em Ciências da Saúde pelo convênio Centro-Oeste com a Universidade de Brasília (Unb) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Responsável pela Unidade de Reumatologia Pediátrica do Departamento de Pediatria e do Serviço de Reumatologia do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da UFMS.
Membro do Departamento Científico de Reumatologia Pediátrica da SBP?2004-6
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