Prevenção, alimentação saudável e promoção de atividades físicas. Esses são os pilares preconizados pelo Departamento Científico (DC) de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) neste 04 de março, data em que é celerado o Dia Mundial de Combate à Obesidade. De acordo com um estudo publicado em 2017 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), há 124 milhões de crianças e adolescentes obesos em todo o mundo.
No Brasil, segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizado pelo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2008 e 2009, o sobrepeso foi diagnosticado em 33,5% e a obesidade em 14,3% das crianças brasileiras entre cinco e nove anos de idade. Já nos adolescentes de dez a 19 anos, a prevalência de sobrepeso e obesidade foi de 20,5% e 4,9%, respectivamente.
Para a presidente do DC de Nutrologia da SBP, dra. Virgínia Weffort, a estipulação de uma data para falar sobre o problema é de extrema importância, mas as discussões não devem ser limitadas unicamente ao dia. “Durante todos os dias precisamos falar e promover ações sobre essa grave questão de saúde pública. Com a celebração de um ‘Dia Mundial’ conseguimos chamar atenção para o problema, mas a prevenção deve ser feita em todas as consultas para todas as faixas etárias”, enfatiza.
CAUSA E PREVENÇÃO – A obesidade de causa nutricional ou exógena é a mais frequente e está diretamente associado à alimentação inadequada, sedentarismo e problemas emocionais. Existem alguns períodos críticos durante a vida nos quais é possível ocorrer o aumento do número de células adiposas (hiperplasia): último trimestre da gravidez; primeiro ano de vida; adolescência.
Além disso, existem ainda alguns fatores que têm relação com o início da obesidade, tais como os genéticos, fisiológicos, metabólicos, ambientais e comportamentais, sendo que os dois últimos podem diminuir ou aumentar a ocorrência dos anteriores. “Prevenir precocemente a obesidade na infância é fundamental para que no futuro essas crianças e adolescentes não desenvolvam problemas como diabetes, colesterol alto, hipertensão e dificuldades respiratórias”, exemplifica a dra. Virgínia.
A nutróloga também reforça a importância de sempre abordar o tema nas consultas pediátricas com as crianças e seus familiares, pois os pais e/ou responsáveis fazem parte de um pilar primordial na prevenção da obesidade.
“A família é o modelo na infância e adolescência, logo, se os pais e/ou responsáveis se alimentam de modo adequado e se exercitam, as crianças e os adolescentes seguirão o exemplo. Contudo, da mesma forma, se a família possuir hábitos ruins, eles passarão para a criança também. Desse modo, o pediatra deve falar sobre essa questão desde o pré-natal porque tem que orientar a mãe sobre os alimentos que está ingerindo”, explica.
Duas outras questões abordadas pela especialista são: o aleitamento materno e a rotulagem de produtos ultraprocessados. Conforme preconizado pela SBP, OMS e Ministério da Saúde, amamentar o bebê exclusivamente até os seis meses e de forma complementar até os dois anos é fundamental para prevenir a obesidade e suas diversas comorbidades, entre elas, diabetes melitus, hipertensão arterial, arteriosclerose. “A questão da regulamentação da rotulagem precisa avançar aqui no Brasil e, para isso, é necessário pressionar o poder público por leis que desestimulem o consumo de produtos ultraprocessados que contém excesso de açúcar, sódio e gordura”, complementa.
Além de uma alimentação equilibrada e saudável, é importante a prática de atividades físicas. “A receita é comer certo e evitar o sedentarismo. O pediatra deve orientar o paciente a utilizar os alimentos (frutas e verduras) da estação e a atividade física pode ser uma caminhada no parque, andar de bicicleta ou passear com o cachorro. Não precisa ser só academia”, disse.
ATUALIZAÇÃO – Tendo em vista a relevância do assunto, a SBP lançou, em outubro de 2019, a terceira edição do Manual de Orientação Obesidade na Infância e Adolescência produzido pelo DC de Nutrologia.
O documento foi elaborado pelos membros do Departamento Científico de Nutrologia com participação em experts na área, organizado pela dra. Virgínia Weffort, e revisado pelos drs. Dirceu Solé e Luciana Rodrigues Silva (diretor dos Departamentos Científicos e presidente da SBP, respectivamente), o manual tem por objetivo principal tratar diretrizes para auxiliar ao pediatra no seu cotidiano a utilizar ferramentas simples para estimular a prevenção, estabelecer o diagnóstico, complicações, comorbidades, tratamento, prognóstico e o seguimento de crianças e adolescentes obesos.
Em 240 páginas, os 28 autores tratam de temas como fisiopatologia, dislipidemia, alterações dermatológicas, síndrome metabólica, atividade física visando promover uma vida saudável, entre outros.
“É preciso que o pediatra conheça a epidemiologia, a fisiopatologia, as várias apresentações clínicas, a avaliação diagnóstica e a conduta terapêutica mais apropriada para cada paciente portador desta condição”, enfatiza a presidente da SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva.
Além disso, a obesidade infantil também será assunto do 18º Congresso Brasileiro de Gastroenterologia e Hepatologia Pediátricas; 4º Congresso Brasileiro de Nutrologia Pediátrica e 1º Simpósio de Suporte Nutricional em Pediatria. Os eventos ocorrerão simultaneamente entre os dias 26 e 29 de agosto, no Centro de Convenções de Goiânia (GO) e são uma realização SBP em parceria com a Sociedade Goiana de Pediatria (SGP).
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