A Academia Brasileira de Pediatria (ABP) comemora seus 25 anos de existência nesse mês de julho. A instituição – integrante da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) – foi fundada em 14 de julho de 1995 com o objetivo de resgatar, cultuar e divulgar a história da pediatria brasileira e pensar o seu futuro.
A ABP é um órgão de aconselhamento e assessoramento do Conselho Superior e da diretoria da SBP e tem entre suas finalidades incentivar o estudo e a prática da Ética médica e dos preceitos da Bioética; editar publicações referentes aos objetivos a que se propõe; e contribuir para análise de trabalhos científicos buscando os mais relevantes, os quais podem ser premiados.
Em consonância com a Administração da SBP, atua como consultora, promotora ou copromotora de iniciativas junto a organizações governamentais ou não, e com as demais entidades em iniciativas a favor da assistência pediátrica de qualidade e do melhor exercício profissional. Atualmente, a ABP é composta por 30 acadêmicos titulares e 07 eméritos (titulares que passaram à condição de emérito), os quais, por suas qualificações e trajetórias, representam também a história recente da especialidade no País.
“A ABP representa um segmento da SBP de extrema importância, com integrantes que muito fizeram e fazem pelas crianças e adolescentes. Conhecer a história é indispensável e o seu registro é fundamental para que todos possam cada vez mais honrar a pediatria brasileira”, frisa a presidente da SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva.
Já o presidente da ABP, dr. Mário Santoro Júnior, conta que a ABP é um projeto ambicioso e cheio de desafios. Contudo, com a ajuda e muito trabalho de todos os membros, a instituição tem conseguido atingir seus objetivos. “Os desafios são facilitados pela alta qualidade científica e profissional dos membros que compõem nossa Academia. Não podemos deixar de lembrar, que nestes 25 anos, infelizmente, tivemos 19 acadêmicos que faleceram, mas deixaram aqui seu exemplo de vida e suas obras, tornando-se imortais”, relembra.
Segundo ele, o fato mais marcante nesses 25 anos de existência da Academia foi vê-la ser reconhecida no seio da pediatria brasileira, convivendo harmonicamente com a SBP, e trabalhando nos seus objetivos. “Esta harmonia lembra uma orquestra, em que cada instrumento é tão importante quanto o outro. E esta harmonia é a peça-chave para a perfeita execução da obra interpretada”, observa.
DESAFIOS E METAS – A preocupação com os novos desafios revela um dos objetivos da ABP, ou seja, a sua preocupação com o presente e o futuro da profissão. A diretora de Comunicação instituição, dra. Conceição Segre, conta que a Academia vem acompanhando os novos tempos, especialmente o período da pandemia da Covid-19. Com isto, o planejamento da gestão inclui incorporar tecnologias com o objetivo de fazer com que os acadêmicos estejam mais presentes na vida da instituição.
“Os acadêmicos residem em diferentes Estados, o que dificulta a realização de reuniões presenciais, as quais sempre são muito onerosas e impõem interrupções nas agendas profissionais. Portanto, deveremos ter um sistema misto, onde a tecnologia de comunicação e informação terá um lugar de destaque, embora não abandonemos nossas reuniões presenciais, que continuarão a ocorrer, sempre que possível”, observa.
Dra. Conceição diz também que um novo desafio para o pediatra está aberto, pois, com o avanço de novas tecnologias há um grande número de crianças e adolescentes com “complexidade médica”.
“Em países como Estados Unidos e Inglaterra, cerca de 18% das crianças tem alguma dependência tecnológica ou complexidade médica como, por exemplo, o uso diário de insulina ou a necessidade de traqueostomia ou gastrostomia, entre outras. Mesmo nestes países, os pais se queixam da pouca infraestrutura assistencial disponível, assim como, profissionais pouco habilitados nestes novos desafios”, evidencia.
A diretora de Comunicação da ABP ressalta ainda que “este novo século traz consigo novas forma de contato com as famílias, como as vídeoconferências, teleconsultas e WhatsApp, o que gera também uma nova necessidade e um novo comportamento dos médicos, incluindo o pediatra”.
Já o diretor secretário da ABP, Jefferson Piva, acredita que os desafios da pediatria englobam não só as questões tecnológicas, mas também um velho problema enfrentado pela especialidade: a má distribuição de pediatras pelo Brasil. Segundo ele, atualmente, estima-se que há 18 especialistas para cada 100 mil habitantes no País. Apenas a região Sudeste, no entanto, retém mais de 54% dos profissionais. Cerca de 30% dos profissionais do país atuam em São Paulo.
“A classe pediátrica precisa assumir a responsabilidade na qual se encontra a especialidade, pois o pediatra é submetido a condições de trabalho ruins tanto do pondo de vista pessoal quanto social, sendo obrigado a anteder em grande quantidade os pacientes. E essa é uma triste realidade: demanda excessiva de trabalho, em condições pouco satisfatórias e com baixa remuneração, além de muitas vezes estarem sujeitos à violência”, explica.
CENÁRIO ATUAL – Sobre o atual contexto da pediatria brasileira, o vice-presidente da ABP, dr. Luis Eduardo Vaz de Miranda salienta que o Brasil melhorou acentuadamente a taxa de mortalidade infantil nas últimas décadas, embora ainda não tenha atingido em grande número de regiões uma taxa de mortalidade infantil abaixo de dois dígitos.
Para ele, tal fato mostra a grande desigualdade existente na realidade de regiões diferentes, mesmo dentro de um mesmo município. “Isto se deve a grande desigualdade de rendas, educação, taxa de desemprego, entre outros fatores preponderantes”, comenta.
Dr. Luis Eduardo lembra ainda que grupos específicos, dentro da pediatria, também tiveram variações diferentes na mortalidade infantil, tais como por exemplo a taxa de mortalidade neonatal. “A redução da mortalidade está associada à implementação de políticas públicas adequadas, tais como melhor assistência à gestante, melhores condições de atenção ao parto, incentivo ao aleitamento materno, incentivo à vacinação, atenção à saúde do adolescente e uma ampla gama de outros programas”, explica.
Ele salienta que ainda não foi possível incluir, na maior parte dos municípios, o pediatra na Estratégia da Saúde da Família. “Isto é lamentável, pois a puericultura é a essência, já que é por meio dela que fazemos com que as crianças e os adolescentes realizem todo seu potencial de crescimento e desenvolvimento. Essa é, portanto, tarefa precípua do pediatra, sem negar a oportunidade de colaboração de uma equipe multiprofissional”, destaca.
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