Novo documento aborda atenção diferenciada à saúde integral de adolescentes com doenças crônicas

No intuito de melhorar a qualidade de vida dos adolescentes portadores de doenças crônicas, o Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) traz uma atualização sobre a abordagem diferenciada à saúde integral de adolescentes e ambulatórios de transição, ainda que o pediatra que os acompanhem nesse processo não seja especializado em Medicina de Adolescentes. A capacitação técnica e a comunicação adequada são fatores que beneficiam o relacionamento profissional-adolescente e seus familiares.

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No Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2008, revelou que a prevalência de pelo menos uma doença crônica é de 11,2% nas adolescentes e de 9,5% nos adolescentes. Atualmente, estima-se que 10% a 20% dos adolescentes dos países desenvolvidos, sofram de alguma doença crônica e 85% sobrevivam até a idade adulta. No Brasil, isto representaria 3,5 a 4 milhões de adolescentes com doença crônica. Estudo realizado em Campinas (SP) constatou taxa de 19,17% de doenças crônicas entre os adolescentes.

Segundo o documento, as doenças crônicas podem causar impacto negativo no crescimento e desenvolvimento com atraso puberal devido às alterações hormonais, causada pela doença ou efeito adverso de medicamentos para seu controle. Interferem também no desenvolvimento psicológico e emocional, dificultando a adesão ao tratamento, seja medicamentoso ou não. A busca da identidade sofre interferência das limitações produzidas pela doença, medicamentos, dietas, terapias ou procedimentos, dificultando muitas vezes a socialização e o início da vida sexual.

“O adolescente tem grande preocupação com a imagem corporal e as doenças que ocasionam alterações e deformidade física contribuem para aumentar a não aceitação da doença, principalmente numa sociedade que valoriza o culto ao corpo. Neste período, desejam ser atraentes e a doença vem contribuir para o prejuízo da autoimagem. Não poder mudar o que desejam resulta em muitos questionamentos e sentimentos diversificados e em época sequencial observa-se negação, angústia, raiva, depressão e, mais tarde, aceitação”, destaca o documento da SBP.

AMBULATÓRIOS DE TRANSIÇÂO – A transição é um processo ativo, que tem como objetivo atender às necessidades de saúde, psicossociais e vocacionais dos adolescentes. Reconhece-se, porém, que uma transição não adequada compromete a adesão às consultas e ao tratamento e aumenta a taxa de hospitalização, incluindo em cuidados intensivos, principalmente nos casos de cardiopatias, diabetes mellitus tipo 1, doenças alérgicas, doença falciforme, doenças inflamatórias intestinais, transplantes de órgão sólido, HIV/AIDs, fibrose cística, entre outras.

“A transição é importante também para adolescentes hígidos em seus cuidados de saúde, com o objetivo de diminuir a incidência de doenças crônicas não transmissíveis. O sucesso da transição e redução da morbimortalidade na vida adulta está diretamente relacionada à autonomia do paciente, sua capacidade de autocuidado, adesão ao tratamento proposto, compreensão da sua doença e limitações, assim como sinais de melhoria ou agravamento de sua doença e diretamente vinculada ao preparo dos profissionais que atuam neste processo de transição”, explicam no documento os especialistas do DC de Adolesc&e circ;nci a da SBP.

PAPEL DO MÉDICO, DA FAMÍLIA E DA ESCOLA – O pediatra tem um papel muito relevante no processo de promoção à saúde e na construção de um estilo de vida saudável desde a infância, prolongando-se e sendo essencial na adolescência.

É preciso entender as dificuldades vivenciadas pelos adolescentes atuando com uma postura que inspire confiança, para ajudá-los em suas necessidades médicas, anseios, esclarecimentos, sonhos, projetos de vida, ansiedades, oferecendo sempre acolhimento adequado.

“O médico deve esclarecê-los sobre a doença, o tratamento e incentivá-los a assumir gradualmente a responsabilidade do seu tratamento e cuidados de saúde”, diz trecho do documento.

A colaboração da família no tratamento é de suma importância. O comportamento do adolescente e a adesão ao tratamento estão muito relacionados com a percepção e condução da família e necessita atitudes e posturas diferenciadas no transcorrer da adolescência.

Sentimento de culpa, preocupações, ansiedade, medo de complicações ou de morte aparecem principalmente após a família receber o diagnóstico e/ou em eventuais complicações da evolução.

A escola é um espaço marcante na vida dos adolescentes, onde ocorrem vários tipos de aprendizados e relacionamentos. Às vezes representa a única oportunidade de convívio social, imprescindível para a construção da individualidade.

Algumas situações requerem comunicado dos pais ou equipe de saúde para a escola sobre a doença e cuidados do adolescente e, às vezes, um currículo adaptado com atendimentos complementares, sala de recurso ou reforço escolar. Pode ocorrer dificuldade com o aprendizado, entrosamento com seus pares ou grupos por problemas relacionados à imagem corporal e autoestima ou bullying.

ORIENTAÇÕES – O documento da SBP orienta ainda sobre a importância de manter o acompanhamento clínico com boa frequência às consultas e escola, adesão ao tratamento e manutenção de um estilo de vida saudável. Lembrar que as dificuldades vividas devido à doença crônica contribuirão para torná-lo mais preparado, no futuro, pelo fortalecimento da resiliência.

“Estudos científicos têm evidenciado que o bom entrosamento da rede de cuidados dispensados aos adolescentes com doenças crônicas possibilita e promove que tenham projetos de vida e autocuidado, bem como, qualidade de vida, muitas vezes, mais consistentes que seus pares da população geral”, finaliza o documento do DC de Adolescência da SBP.