Com o objetivo de demonstrar o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde e no bem-estar das crianças e adolescentes pelas observações que a assistência pediátrica a esse público-alvo tem propiciado, o Departamento Científico de Neurologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou o documento científico “A assistência neuropediátrica em tempos de pandemia”.

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Segundo o documento, desde os estágios iniciais da propagação do vírus, a população idosa foi identificada como a mais vulnerável. Por outro lado, menos atenção foi dada às dimensões emocionais e psicológicas para crianças e adolescentes. Apesar de serem considerados de baixo risco, as crianças e os adolescentes tiveram que enfrentar uma realidade repleta de angústias, medos e incertezas diante das abruptas alterações nas suas rotinas escolares, sociais e familiares.

O documento ressalta que no contexto atual de confinamento social, restrições rígidas às interações pessoais, exposição abrupta a novos métodos pedagógicos e alterações inesperadas na rotina familiar, o Neurologista Infantil ocupa uma posição singular como receptor das inúmeras queixas comportamentais, cognitivas e psíquicas de seus pacientes.

“Para as crianças, as consequências da suspensão das aulas presenciais e das mudanças de hábitos não foram homogêneas, uma vez que estão relacionados à rede de suportes e aos recursos que elas e suas famílias dispõem”, diz trecho do documento.

DESAFIOS DO HOMESCHOOLING – Homeschooling, ou home education, é o termo usado para descrever a educação domiciliar, uma modalidade em que os pais, tutores ou professores lecionam o conteúdo educacional em casa.

No entanto, este termo está sendo usado no contexto atual de quarentena para descrever a educação à distância, quando os pais ou responsáveis precisam assumir o papel de professores com o apoio virtual das instituições de ensino. A educação à distância tornou-se a única opção para este tempo de isolamento social, trazendo consigo desafios enormes para os alunos e seus responsáveis.

“O período prolongado de homeschooling, que estende-se há mais de seis meses, gera preocupações além das questões do aprendizado formal, pois as evidências mostram que, quando estão fora da escola, as crianças praticam menos atividades físicas, usam telas por longas horas, têm hábitos de sono irregulares e seguem dietas menos adequadas”, destaca o documento.

Nesse cenário, a escola deve atuar como um intermediário e dar suporte aos pais. Esse momento também pode ser uma oportunidade para que todos questionem os velhos hábitos e analisem sua eficácia, em busca de aprimorar o processo de ensino e aprendizado.

Para as crianças na Educação Infantil, é importante estimular as brincadeiras e o convívio familiar. Músicas, livros, filmes e atividades da casa ajudam no desenvolvimento das crianças menores de cinco anos.

CONSEQUÊNCIAS – O documento da SBP apresenta ainda as consequências da pandemia na saúde neuropsíquica das crianças e adolescentes, tais como distúrbios do sono; início ou agravamento de ansiedade, depressão e problemas de comportamento; atrasos na fala e comunicação não-verbal em crianças neurotípicas; e a suspensão dos programas de reabilitação.

Além disso, traz ainda os riscos e benefícios do retorno às aulas presenciais para as crianças em geral e para pacientes com questões neurológicas em especial. “O sucesso da reabertura escolar dependerá da ponderação de riscos para cada subgrupo, pois temos a obrigação moral de proteger os indivíduos mais vulneráveis à COVID-19. Além disso, o uso de equipamento de proteção individual (EPI) é essencial para todos aqueles sob risco de adquirir ou transmitir o vírus SARS-CoV-2”, finaliza o documento.