O Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou na última semana o documento científico “Toxoplasmose congênita”, cujo objetivo é atualizar os pediatras sobre os protocolos mais recentes para triagem e tratamento da doença. De acordo com o documento, as infecções perinatais afetam 0,5% a 2,5% de todos os nascimentos e constituem um grande problema de saúde pública pela elevada morbimortalidade a elas associadas.
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Infecções neste período não são de fácil diagnóstico, pois na gestante cursam oligossintomáticas, muitas vezes passando despercebidas. No recém-nascido (RN) a grande maioria é assintomática, com surgimento tardio de manifestações clínicas ou, até mesmo, de sequelas da evolução da doença. Os exames sorológicos, disponíveis para o diagnóstico da infecção no período neonatal imediato, isoladamente, não definem o diagnóstico.
O documento frisa que a transferência via placenta, de anticorpos maternos da classe IgG durante a vida fetal, é um fator que dificulta a interpretação dos resultados. Assim, a anamnese materna com enfoque na história social, gestacional e perinatal, e exame clínico do RN, além dos exames sorológicos pareados, mãe e RN, tornam-se fundamentais para aumentar a acurácia e precisão diagnóstica.
A toxoplasmose congênita é uma doença infecciosa que resulta da transferência transplacentária do Toxoplasma gondii para o concepto, decorrente de infecção primária da mãe durante a gestação ou próxima à concepção, reativação de infecção prévia em mães imunodeprimidas, ou decorrente de reinfecção de uma gestante anteriormente imune com uma nova cepa devido à ingestão de alimentos onde amostras mais virulentas são predominantes.
“O risco de transmissão materno-fetal é em torno de 40%, aumentando com o avançar da gestação. Entretanto, o grau de comprometimento do concepto é maior quando a infecção ocorre no inicio da gestação com variações entre as estimativas de diferentes autores”, diz trecho do documento.
QUADRO CLÍNICO – Cerca de 70% dos RN com infecção congênita são assintomáticos ao nascimento e, aproximadamente 10% do total de crianças acometidas têm manifestações graves nos primeiros dias de vida, apresentando-se com doença multissistêmica ou com acometimento do sistema nervoso, associado ou não à forma ocular. Pode ocorrer sobreposição das apresentações clínicas, ao lado de manifestações inespecíficas.
A doença congênita com manifestação predominantemente neurológica apresenta-se com coriorretinite, hidrocefalia, meningoencefalite, calcificações cranianas, convulsões anemia, icterícia, febre e menos frequentemente, esplenomegalia, linfoadenomegalia, hepatomegalia, microcefalia, vômitos, diarreia, catarata, eosinofilia, diátese hemorrágica, hipotermia, glaucoma, atrofia óptica, microftalmia, rash e pneumonia.
Na doença sistêmica, apresentação de menor frequência, observa-se esplenomegalia (90%), meningoencefalite (84%), icterícia (80%), anemia (77%), febre (77%), hepatomegalia (77%), linfoadenomegalia (68%), coriorretinite (66%), vômitos, pneumonia (41%), diarreia, rash, hipotermia, eosinofilia, discrasia sanguínea (18%) e calcificações intracranianas (4%).
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO – Exames laboratoriais, de imagem, entre outros são utilizados no diagnóstico da Toxoplasmose congênita. O diagnóstico laboratorial no RN deve ser feito com a aglutinação (ISAGA), exame que apresenta sensibilidade de 75% a 80%, o que gera um percentual de 15% a 30% de RN sem confirmação diagnóstica.
De qualquer forma, é mais sensível e específico que ELISA IgM (sensibilidade de 29,3%) e IFI IgM. Se não houver disponibilidade em realizar a Aglutinação, deve-se solicitar ELISA IgM por captura - mais sensível que o IgM simples, e o ELISA IgG quantitativo, do binômio; ou ainda, IFI com IgG seriada.
RN sintomáticos e/ou assintomáticos com exames laboratoriais confirmatórios de infecção pelo Toxoplasma gondii devem ser tratados preferencialmente a partir da primeira semana de vida.
“Embora a maioria das crianças infectadas seja assintomática ao nascer, se não tratadas adequadamente, desenvolvem sequelas na infância ou na vida adulta. Em pacientes oligossintomáticos os benefícios do tratamento estão mais relacionados à surdez que às manifestações oculares. Os déficits de aprendizagem estão mais descritos em crianças com microcefalia do que na presença de calcificações”, ressaltam no documento os especialistas do DC de Neonatologia da SBP.
NOTIFICAÇÃO – O documento da SBP destaca ainda que nos países com medidas de prevenção efetivas tem ocorrido impacto importante na redução da incidência da infecção congênita. A Notificação Compulsória da toxoplasmose aguda gestacional e congênita, por meio da Portaria nº 2.472/ 2010, torna-se um instrumento importante para a implantação de Programa Nacional de Prevenção e Controle da Toxoplasmose, infecção tão danosa ao concepto. Fundamental que a gestante faça o número adequado das consultas pré-natais com o obstetra e uma consulta pré-natal com o pediatra.
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