O primeiro Minuto é de Ouro!

Na abertura de seu maior evento, hoje, em Curitiba, e na presença de mais de cinco mil médicos de crianças e adolescentes, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um alerta à população sobre a importância do chamado Minuto de Ouro, os primeiros sessenta segundos na vida do ser humano. Diz o texto:

“É fundamental para o bebê respirar bem ao nascer. No entanto, o que pouca gente sabe é que, para isso, um em cada dez recém-nascidos precisa de ajuda, que deve ser rápida e realizada no primeiro minuto de vida, por profissional qualificado. No Brasil cerca de 300 mil recém-nascidos por ano necessitam ser auxiliados para que o pulmão se encha de ar e para que o coração e toda a circulação sanguínea, inclusive a que se dirige ao cérebro, se adaptem a funcionar bem sem a placenta, fazendo a transição do útero para o mundo com qualidade. Dentre os prematuros, calcula-se que sejam seis em cada dez. Na gravidez, por vezes, é possível saber que há possibilidade de problemas, mas há cerca de dez por cento dos casos em que tudo transcorreu bem e, mesmo assim, a dificuldade se manifesta na hora do nascimento.

O que exatamente acontece se a criança não respira bem no primeiro minuto? É grande o espectro de possibilidades. Dentre elas, estão desde pequenas deficiências no aprendizado escolar até sequelas neurológicas graves ou mesmo a morte. É fato que, se a respiração não se estabelece rapidamente, a chance da criança ter problemas é muito grande. A boa notícia é que isso pode ser evitado, há que ser aproveitado o chamado Minuto de Ouro, que pode trazer mais qualidade para toda a vida, da infância à fase adulta! Para tanto, é importante que as famílias se informem: a maternidade está preparada para um auxílio qualificado à criança para que respire bem, se isso se for preciso? Haverá pediatra na sala do parto? Garanta seus direitos! Exija os direitos do seu bebê, alerta a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)”.

Novo estudo sobre asfixia pós-parto

A asfixia ao nascer contribui, no Brasil, para a morte precoce (até sete dias) de cinco bebês nascidos no tempo certo (“a termo”) por dia. “Estamos falando de crianças sem malformações, não prematuras e, portanto, de óbitos evitáveis”, diz a dra. Maria Fernanda Branco de Almeida, que divide com a dra. Ruth Guinsburg, a coordenação do Programa de Reanimação Neonatal da SBP e da pesquisa divulgada agora.

Coletando dados diretamente das declarações fornecidas pelas Secretarias estaduais de Saúde, o estudo chegou a 21.377 óbitos sem anomalias congênitas associados à asfixia ao nascer, de 2005 a 2009. O número corresponde a 12 mortes evitáveis diárias de bebês, sendo que cinco delas ocorreram em crianças que nasceram no tempo certo – metade nas regiões Norte e Nordeste; 45% nas primeiras 24 horas de vida, indicando inadequação da assistência antes, durante e logo após o parto. Além disso, 57% ocorreram em hospitais públicos e 67% fora das capitais. Em 40% dos casos foi preciso fazer a transferência da gestante ou do bebê para outro município, o que indica necessidade de regionalização do cuidado perinatal, treinando obstetras e pediatras, dentre outros profissionais.

Só em 2010, de acordo com as pesquisadores, faleceram com asfixia perinatal 3.758 bebês sem malformações, o que representa 11 óbitos por dia, dos quais quatro a cinco chegaram ao mundo no tempo certo e sem malformações congênitas. “A situação, portanto, é preocupante, salienta a dra. Ruth.

A mortalidade neonatal tornou-se, nos últimos anos, o componente mais importante da mortalidade infantil e registra diminuição, mas ainda muito lenta. Mesmo nas estimativas mais recentes dos óbitos até um ano de idade apresentadas pelo Ministério da Saúde (14,6 por mil nascidos vivos em 2013), a taxa de mortes neonatais representa 10,2 (por mil nascidos vivos) ou quase 70% do total. “Vem sendo assim a década inteira”, ressalta a dra. Maria Fernanda. Se nascem no Brasil três milhões de crianças ao ano, são aproximadamente 30 mil vidas perdidas apenas nos primeiros 27 dias.

Diferença e importância

Os números do DataSUS contemplam apenas a causa principal de óbito, enquanto na pesquisa da SBP foram analisadas “todas as linhas” das planilhas, incluindo aquelas em que a asfixia ou Síndrome de Aspiração de Mecônio aparecem associados à causa principal. “Isso é mais real”, diz a dra. Fernanda. “Para a elaboração de estratégias de políticas públicas é preciso uma análise completa”, frisa a dra. Ruth.

A pesquisa do Programa de Reanimação Neonatal da SBP tem entre suas pesquisadoras também as dras. Rosa Maria Vaz do Santos, Lícia Maria Moreira e Mandira Daripa. Sobre os dados, as coordenadoras explicam que são “finalizados” cerca de um a dois anos após sua ocorrência e é quando realizam a busca ativa junto às Secretarias, analisando sua consistência.

Quanto ao Programa de Reanimação Neonatal da SBP, foi criado em 1994 e já certificou 60.124 profissionais, sendo 44.102 médicos e 16.022 profissionais de saúde não-médicos.

OBS: Período neonatal= 27 dias após o nascimento;
Perinatal = 22 semanas de gestação até 7 dias de vida;
neonatal precoce (primeira semana de vida)

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