Obesidade é uma doença caracterizada pelo acúmulo excessivo e generalizado de tecido gorduroso no organismo. Há não muito tempo atrás não era encarada desta forma na infância, pois os bebês roliços eram considerados os mais saudáveis. Hoje em dia já se sabe que os problemas que acompanham a obesidade no adulto já estão presentes nos primeiros anos de vida. Na criança e no adolescente geralmente é diagnosticada quando se observa um excesso de peso para o comprimento, ao se comparar com padrões de referência de normalidade por sexo e idade. O bebê que nasceu a termo ganha em torno de 6kg no primeiro ano de vida, pois é uma fase em que o crescimento é acelerado. Com o passar dos meses, principalmente a partir de um ano de vida, este ganho de peso sofre uma desaceleração até em torno de seis anos de idade, época em que a criança tem a menor relação de peso para a altura. A partir daí, há um novo ganho de peso em relação à altura ao longo dos anos escolares, pois se dará um novo estirão de crescimento mais à frente, na puberdade. É importante que este processo normal de crescimento seja acompanhado por um pediatra, que assegurará se a criança está bem nutrida, ajudando na prevenção da doença.
A obesidade pode estar presente desde os primeiros meses de vida, mas é mais preocupante a mediada que a criança permanece obesa através de sua infância e puberdade. Assim, um bebê obeso tem maior chance de se tornar um adulto obeso e um pré-escolar tem uma chance maior ainda. Esta chance é ainda maior para o escolar obeso e, no caso do adolescente obeso, bem maior. No entanto, é errado se aguardar que a criança emagreça ao longo da infância, pois o que geralmente se dá é o oposto, permanece gorda ou engorda progressivamente, já que os fatores que a tornaram obesa tendem a persistir ou a piorar, surgindo outros fatores que vão se somando e perpetuando o problema.
Quando pensamos nas causas da obesidade na infância, devemos ir lá no início de sua vida. O aleitamento materno é, sem dúvida, o grande fator protetor. O bebê se alimenta de um leite apropriado a todas as suas necessidades e, o que é importantíssimo como proteção contra a obesidade, aprende a controlar seu apetite e sua saciedade, pois mama quando quer, o quanto precisa e para quando está saciado. Isto não acontece no bebê alimentado com mamadeira, ao qual se dá um volume pré-estabelecido de uma fórmula que não chega nem perto do ideal. A introdução de outros tipos de alimento, recomendada idealmente a partir dos seis meses, não deve ser nunca antes dos quatro meses. Na fase de introdução dos alimentos complementares deve-se continuar respeitando a fome e a saciedade da criança. A partir de seis meses, a criança já começa a manifestar suas vontades, e mostra quando já comeu tudo que precisava. Neste período, também já não tem o apetite voraz do bebê pequeno, passa a se interessar pelo meio que a cerca, adquire autonomia progressiva e aprende a negar, pois passa a ter consciência de ser um indivíduo. Além disso, seu crescimento sofre desaceleração progressiva, já não precisa ganhar tanto peso quanto nos primeiros meses. Quando se força uma criança a se alimentar mais e mais, e muitas vezes se usa toda forma de subterfúgios para tal, como, por exemplo, trocando alimentos saudáveis por qualquer coisa que a criança consiga ingerir, pode-se estar contribuindo para a obesidade. Geralmente estes alimentos substitutos de uma refeição saudável são muito calóricos, ou de fácil ingestão pela criança e, o que é pior, passam a mensagem de premiação. A criança entende que a “comida saudável” é o castigo, e a “outra” o prêmio. Leva esta mensagem para o resto de sua vida. Outro ponto importante é o exemplo: a partir de um ano de idade, a alimentação da criança deve ser a da família. De que adianta fazer a “comida saudável” para a criança, quando os pais só comem frituras e pitzas, só demonstram prazer ao comer comidas “não saudáveis”? O nascimento de um filho deve, então, ser o momento para que a família melhore seus hábitos alimentares.
Os primeiros anos de vida são assim fundamentais para a prevenção da obesidade. Mas não é só isto. Sabemos que a obesidade é cada vez mais freqüente devido ao estilo de vida moderno, onde temos facilidade para a aquisição de alimentos, aliada à vida sedentária. Bons hábitos de vida também se adquirem no seio da família. É por isto que quando a criança tem apenas um dos pais obeso, sua chance de obesidade é maior do que a da população, mas é muito maior quando os dois, pai e mãe, sofrem da doença. Não é só uma questão de herança genética, mas também dos hábitos.
A obesidade geralmente vem junto do sedentarismo, e um perpetua o outro. No entanto, uma coorte de outros eventos, que chamamos de co-morbidades, também a acompanha. Uma distribuição particular de gordura, com predomínio da gordura abdominal, é, comprovadamente, associada com a chamada síndrome metabólica – associação de obesidade, tendência ao diabetes, alteração de colesterol e triglicérides no sangue e pressão alta. Uma grande parcela das crianças obesas já apresenta esta síndrome a partir de dois anos de idade, e possivelmente antes. O grande problema da síndrome metabólica é ser causadora de doenças cardiovasculares – infarto, derrame cerebral e outras doenças nos vasos. Desafortunadamente, já encontramos estas doenças em crianças e, o que é pior, quando presentes na infância, tem um caráter muito mais grave! Outros problemas que podem surgir em conseqüência da obesidade são: fígado gorduroso, colecistite, pernas tortas, deslizamento da cabeça do fêmur, osteoartrite, estrias de pele, puberdade precoce, baixa auto-estima, câncer de mama, câncer de endométrio e câncer de intestino.
A melhor forma de tratamento é sempre a prevenção, através de hábitos de vida saudáveis para a família toda, notadamente no que se refere à alimentação e à atividade física.
Quanto à alimentação, além do que já foi dito, é recomendado uma alimentação com a menor quantidade possível de alimentos industrializados. Deve-se valorizar a ingestão de cereais, leguminosas, tubérculos, legumes, verduras e frutas. Dar preferência às carnes menos gordurosas. Evitar frituras, principalmente em gordura animal. O leite deve continuar a fazer parte da alimentação da criança com mais de dois anos, mas não se deve exagerar na ingestão de derivados de leite. Tomar cuidado com as gorduras hidrogenadas e trans, presentes em grande parte dos alimentos industrializados feitos para crianças, como biscoitos e batatas fritas – aumentam o LDL-colesterol (colesterol ruim) e baixam o HDL-colesterol (colesterol bom). Evitar excesso de açúcar e de sal. Evitar refrigerantes.
Atividade física deve fazer parte do dia a dia e é importante diminuir horas de televisão, videogame e computador. A televisão, além do sedentarismo, é veículo da mídia para os alimentos não saudáveis e até para o fumo e bebidas alcoólicas, que vem se somar à obesidade como fatores de risco para outras doenças.
Quando se suspeita de obesidade na criança, o melhor é procurar um pediatra, que vai avaliar a possibilidade da doença e de suas co-morbidades. Muitas vezes será necessário que a criança seja vista também por um nutricionista. Em alguns casos, um professor de educação física ou mesmo um fisioterapeuta estará indicado. No caso de distúrbios do comportamento, como compulsão e bulimia, que podem estar associados à obesidade, bem como na presença de depressão, ou auto-estima muito comprometida, o psicólogo pode ajudar bastante.
O essencial é que a obesidade seja encarada como uma doença, e como uma questão familiar, para que se obtenha maior sucesso na sua abordagem.
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